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 | Pedro França/Agência Senado
| Foto: Pedro França/Agência Senado

A Câmara Federal elege no próximo dia 2 de fevereiro sua nova cúpula – presidente, vices e secretários. Desde sempre são cargos cobiçados por muitos deputados, não apenas pelas prerrogativas como a de definir a pauta da casa legislativa, mas também pela chance de ganhar poder político e de obter vantagens nem sempre republicanas. Além dos bilhões de orçamento que passam por eles, os cargos da Mesa Diretora oferecem infinitas possibilidades de barganhas corporativas, de troca de votos por generosas emendas e assim por diante. Isso justifica boa parte das articulações que correm soltas nestes poucos dias que antecedem o pleito.

A eleição que ocorrerá no próximo mês assume uma importância especial quando se considera que o país ainda luta para escapar da mais aguda crise econômica da história recente. Além dos problemas deixados pela administração anterior, o governo Temer colhe suas próprias fragilidades, como a presença incômoda de ministros suspeitos e a condução nem sempre clara de temas tão sensíveis quanto as reformas previdenciária e trabalhista. O risco, para Temer, é o de tornar-se refém de um campo minado que ele mesmo ajudou a plantar – e, consequentemente, refém também da necessidade de manter maioria parlamentar a qualquer custo.

Estariam todos os candidatos a salvo de escândalos e delações premiadas?

Além do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), três outros deputados já manifestaram interesse em disputar a presidência da Casa. Um deles, André Figueiredo (PDT-CE), representa o campo oposicionista e joga suas esperanças nas decisões de apoio do PT e do PCdoB e eventuais rachas em outras bancadas. Os outros dois – Jovair Arantes, do PTB de Goiás, e Rogério Rosso, do PSD do Distrito Federal – militam no chamado “centrão”, grupo majoritário, fisiológico e numericamente capaz de paralisar o governo se não for “prestigiado” – mostrando o perigo que esse bloco pode representar se as reformas imprescindíveis para o país acabarem subordinadas a seus interesses fisiológicos.

Embora, apesar de tudo, pareça o mais qualificado para ocupar a presidência da Câmara dentre os interessados, Maia não se declara oficialmente candidato. Ele exerce o posto desde que seu antecessor, Eduardo Cunha, teve o mandato cassado. O Regimento Interno da casa proíbe a reeleição para mandatos consecutivos, o que impediria Maia de concorrer, mas ele e seus aliados argumentam que o mandato atual é um “tampão”, o que pouparia Maia da vedação estipulada no regimento. A oposição já levou a questão ao Supremo Tribunal Federal, que ainda não se pronunciou.

O quadro de candidatos está praticamente posto, a não ser que o Judiciário derrube as pretensões de Maia, forçando seus aliados a mudar de planos. Diante deste cenário, é de se perguntar: há algum dentre eles à altura dos presentes desafios do país? Capaz de elevar o nível institucional republicano da Câmara Federal? De saber resistir com espírito público e sempre que necessário a eventuais imposições do Executivo? Capaz de colocar freio às práticas predominante paroquiais da maioria dos congressistas? Comprometido com as reformas de que o país precisa sem condicioná-las a pressões fisiológicas? Estariam todos a salvo de escândalos e delações premiadas?

A situação é de desalento, sentimento que só não é maior que a esperança – sempre necessária, apesar dos pesares – de que a Câmara venha a refletir com mais precisão os anseios nacionais.

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