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 | Marcelo CamargoAgência Brasil
| Foto: Marcelo CamargoAgência Brasil

Enquanto a população brasileira ia às ruas em várias cidades, em uma demonstração legítima de liberdade democrática, para pedir ao Supremo Tribunal Federal que não jogue no lixo sua jurisprudência e sua dignidade ao julgar o habeas corpus do ex-presidente Lula, um outro movimento, este totalmente impróprio e preocupante, começava a se desenhar nas mídias sociais. 

No Twitter, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, escreveu: "O Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais. Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?". Não demorou para ser seguido por outros generais – um deles, Paulo Chagas, chegou a escrever: “Tenho a espada ao lado, a sela equipada, o cavalo trabalhado e aguardo suas ordens!!”

Não se pode nem mesmo alegar que Villas Bôas se manifestou apenas como cidadão preocupado com a possibilidade de Lula sair livre do julgamento desta quarta-feira: sua mensagem cita explicitamente a instituição que comanda, colocando no tabuleiro todo o peso do Exército. Isso torna a manifestação do general e de seus colegas algo não apenas desnecessário, mas nocivo para o país.

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Ao falar de “repúdio à impunidade”, fica claro que o general não está falando apenas de uma garantia de segurança no caso de “convulsão social” causada por manifestações exaltadas de eventuais descontentes com o deferimento ou indeferimento do habeas corpus (e, mesmo se estivesse falando apenas disso, o Twitter não seria o meio ideal para tanto; bastaria uma comunicação particular à presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia). Villas Bôas – e o Exército, a julgar por sua mensagem – está preocupado é com o próprio julgamento, que pode resultar na impunidade para Lula. 

E no que Villas Bôas estaria pensando ao pressionar o STF pelas mídias sociais? O que o Exército faria se o habeas corpus for indeferido? Se fizer o certo e permanecer quieto, a manifestação terá sido um blefe desmoralizante. E nem precisamos dizer que qualquer outra alternativa seria uma ruptura institucional inaceitável, ainda pior que manter Lula impune. Seria jogar o país no caos, derrubando justamente o “respeito à Constituição, à paz social e à democracia” que o Exército diz compartilhar com os “cidadãos de bem”. 

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Ao interferir desta forma na dinâmica democrática que opõe defensores da impunidade e cidadãos sedentos de justiça, Villas Bôas cometeu uma infração disciplinar e despertou uma ala tão minoritária quanto barulhenta, a dos aloprados defensores de um golpe militar, eufemisticamente chamado de “intervenção”. O Brasil não precisa de um ex-presidente condenado que tripudia das leis e das instituições, mas também não precisa de ameaças à democracia e golpes travestidos de soluções mágicas e redentoras.

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