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 | Daniel Castellano/Arquivo Gazeta do Povo
| Foto: Daniel Castellano/Arquivo Gazeta do Povo

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, teve de enviar uma carta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, explicando por que o país descumpriu a meta de inflação para 2017, que era de 4,5%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Mas, ao contrário das outras quatro ocasiões em que isso ocorreu desde a adoção do sistema de metas de inflação, em 1999, Goldfajn teve de explicar a Meirelles por que o IPCA ficou abaixo do piso, e não acima do teto da meta: o índice do ano passado foi de 2,95%, de acordo com o IBGE.

O índice se explica por uma combinação de fatores. Houve aumento na oferta, especialmente de alimentos, com safra 30% maior que em 2016, levando a quedas de 1,87% na média do setor, de 4,85% nos alimentos consumidos em casa e de 16,52% nos preços das frutas. Mas, ao mesmo tempo, a recessão e o desemprego provocaram uma diminuição na demanda, com a população consumindo menos – apenas recentemente os indicadores de consumo passaram a ensaiar uma trajetória de alta. Esses dois movimentos foram mais fortes que o impacto inflacionário de itens como gás de botijão (alta de 16% em 2017), energia elétrica (10,35%), gasolina (10,32%) e água e esgoto (10,52%), despesas que produtores e comerciantes costumam repassar para o preço final de diversos outros produtos.

Inflação baixa é ótima notícia especialmente para os mais pobres

Inflação baixa é ótima notícia especialmente para os mais pobres, que, seja por não conseguirem economizar para criar uma reserva, seja por não terem acesso a determinados tipos de investimento, não têm os meios disponíveis aos mais ricos para se proteger da desvalorização do seu dinheiro. A inflação funciona como um imposto disfarçado – e que fica mais escancarado, por exemplo, quando o governo federal não reajusta a tabela do Imposto de Renda de acordo com o IPCA. E um índice baixo permite que o Banco Central possa baixar os juros básicos, o que por sua vez estimula os investimentos, com consequências positivas sobre a geração de emprego e renda.

A divulgação do IPCA abaixo do piso da meta em 2017 despertou críticas à atuação do BC, que, segundo essas análises, poderia ter baixado a Selic mais rapidamente. Mas, depois da redução voluntarista ocorrida durante o governo Dilma Rousseff, e que teve de ser rapidamente revertida, bagunçando a economia, é difícil censurar a autoridade monetária por uma postura mais cautelosa. Além disso, é preciso levar em consideração alguns pontos. Alguns itens que compõem o índice mostram que a pressão inflacionária persiste, e o IPCA de dezembro, de 0,44%, foi a maior variação mensal do ano. Além disso, ainda é desconhecido o efeito que a eventual retomada da atividade econômica (e, consequentemente, da demanda) terá sobre a inflação.

Leia também: A inflação atual e o futuro (editorial de 13 de novembro de 2017)

Leia também: A nova meta da inflação (editorial de 4 de julho de 2017)

Fato é que 3% ao ano de inflação é uma taxa perfeitamente aceitável, compatível com a de países desenvolvidos. Que o IPCA tenha ficado abaixo do piso da meta em 2017 não deveria ser visto como fracasso – o que o país deseja é que tenham ficado definitivamente para trás os tempos em que o BC tinha se contentado em transformar o teto da meta no objetivo a atingir, em vez de buscar o centro da meta; esse tipo de tolerância levou ao descalabro na gestão Dilma e influenciou decisões como o represamento artificial de preços de combustíveis praticados pela Petrobras, para que a inflação não subisse ainda mais em ano eleitoral.

Para 2018, o centro da meta continua em 4,5%, baixando para 4,25% em 2019 e 4% em 2020. Por mais que exista a tolerância para cima, os males da inflação alta já estão suficientemente demonstrados para que o Banco Central continue trabalhando por baixos índices de inflação.

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