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Aquela história de que os governos dos últimos 12 anos tiraram da miséria extrema milhões de brasileiros e fizeram outros milhões ascenderem à classe média começa a se esvair como uma bolha de sabão. A política econômica populista empreendida nos períodos de Lula e Dilma cobra agora o seu preço. Preço alto principalmente para aqueles segmentos que o PT dizia querer proteger – e deles, naturalmente, obter votos e mais votos.

Enquanto a inflação oficial, o IPCA, ficou em 10,67%, e o IPC (medido pela Fundação Getulio Vargas e referente a famílias com renda entre um e 33 salários mínimos) foi de 10,53%, no ano passado os mais pobres amargaram uma inflação de 11,52%. O dado é do IPC-C1, índice também medido pela FGV e que se refere às famílias com renda mensal entre um e 2,5 salários mínimos.

A maior diferença entre os índices está no peso de cada produto e serviço nas respectivas cestas. Por exemplo, o transporte coletivo tem peso três vezes maior na inflação dos mais pobres que na inflação geral medida pela FGV.

E os grandes vilões da inflação da baixa renda em 2015 foram três grupos: transportes (com alta de 13,2%), alimentos (13%) e habitação (14,6%). Note-se que, desses três grupos, dois incluem preços diretamente controlados pelo poder público, como transporte coletivo, energia e combustíveis – e esses itens ainda têm impacto decisivo sobre outros preços, como os dos alimentos.

Se a inflação é ruim para todos, para os pobres ela é ainda mais cruel

O represamento dos preços controlados praticado nos anos anteriores estava entre os fatores que permitiram melhorar por algum tempo o poder aquisitivo da população de baixa renda. Este era um dos quesitos que fizeram o “sucesso” da matriz econômica posta em prática pelos governos petistas e serviram para propaganda eleitoral, para manter a inflação “controlada” e para obter altos índices de popularidade.

Viu-se, porém, que se tratava de uma prática insustentável. Economistas principiantes aprendem logo os resultados de uma política que consiste em vender produtos abaixo do custo. A Petrobras é um bom exemplo, com as perdas que acumulou com a manutenção artificial dos preços dos combustíveis, até que chegou a hora da verdade – assim como chegou também para o setor de energia elétrica, que ainda não se recuperou totalmente da canetada de Dilma que desorganizou o setor em 2013.

Se a inflação é ruim para todos, para os pobres ela é ainda mais cruel. A classe média tem alguma chance de equilibrar o orçamento doméstico se consumir menos gasolina, se gastar menos energia elétrica, se cortar supérfluos. Não é este o caso dos mais pobres, que já não têm supérfluos para eliminar e nem sempre conseguem economizar – e, quando sobra algum salário no fim do mês, os mais pobres têm menos acesso ao tipo de aplicação que poderia proteger suas economias da inflação, seja por falta de informação, seja por exigências de investimento mínimo. Sobram opções como a caderneta de poupança, que perdeu para o IPCA em 2015.

Diante da constatação básica de que a inflação torna os pobres ainda mais pobres, é estarrecedor que haja entre assessores do Planalto, como informou no fim de dezembro o jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo, gente tão tolerante com a inflação que queira elevar o centro da meta, dos atuais 4,5% para 5,5% – uma ideia que, felizmente, parece engavetada.

O lulopetismo vendeu uma ilusão ao povo brasileiro e todos, especialmente os mais pobres, estão descobrindo isso da pior maneira.

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