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Na quarta-feira, 7 de outubro – mesmo dia em que o Tribunal de Contas da União, pela primeira vez em quase 80 anos, aprovou parecer pela rejeição das contas de um presidente da República –, Dilma Rousseff demonstrou um otimismo surreal em entrevista concedida a rádios da Bahia, estado onde entregou unidades do programa Minha Casa, Minha Vida.

Se Dilma acertou em algo na entrevista, foi na afirmação de que o país tinha instituições fortes. Um acerto involuntário, claro: ela estava comentando a possibilidade de perder o cargo, seja por impeachment, seja pela cassação da chapa das eleições de 2014, e muito provavelmente queria dizer que as instituições não cederiam ao que ela erroneamente chama de golpismo. Naquele 7 de outubro, no entanto, a força das instituições se mostrou de outra forma: justamente na resistência às tentativas governamentais de melar a sessão do TCU que analisaria as contas de Dilma. Primeiro, o Supremo Tribunal Federal autorizou a realização da sessão, rejeitando pedido da Advocacia-Geral da União; depois, o TCU reprovou as contas governamentais por unanimidade, reconhecendo a existência das “pedaladas” e de outras irregularidades fiscais. Isso, sim, foi uma demonstração de força das instituições.

Mas curiosa mesmo foi a afirmação de que Dilma está “vendo luz no fim do túnel”, em referência à situação econômica do país. Ou a visão da presidente precisa de correção, ou ela está vendo algo muito diferente do brasileiro comum. A inflação acumulada em 2015, até agora, é de 7,64% – já acima do teto da meta do Banco Central, que é de 6,5%. No acumulado de 12 meses, o IPCA se aproxima perigosamente dos dois dígitos: está em 9,49%. Os dados foram divulgados pelo IBGE no mesmo dia em que Dilma enviava sua mensagem de otimismo na Bahia. E, com o recente aumento nos combustíveis, a inflação não deve dar sinais de arrefecimento.

No acumulado de 12 meses, o IPCA se aproxima perigosamente dos dois dígitos: está em 9,49%

Além da inflação, o desemprego também cresce. No fim de setembro, o mesmo IBGE divulgou que a taxa para o trimestre formado por maio, junho e julho estava em 8,6%, segundo a Pnad Contínua. O indicador tem subido lentamente mês a mês – nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2015 era de 7,9%. Os números trazem à mente o chamado “índice de Okun”, criado pelo economista Arthur Okun e que soma inflação e desemprego. Segundo seu criador, quando a soma supera 12 há risco para o bem-estar da sociedade. O índice brasileiro, considerando os últimos números, já ultrapassou os 17 pontos.

É verdade que as previsões de inflação para 2016 são mais brandas, ficando até o momento entre 5% e 6% – dentro, portanto, dos intervalos considerados aceitáveis pelo Banco Central. Mas essa desaceleração no avanço dos preços é vista como consequência da recessão que atinge o país (as previsões para 2015 já chegam a queda de 3% no PIB). Mais desempregados significam menos brasileiros consumindo; os que mantêm o emprego apertarão os cintos e cortarão gastos: num cenário desses, seria bem mais difícil que os preços continuassem subindo no ritmo atual.

É essa a “luz no fim do túnel” que Dilma vê? Ou, na verdade, a luz seria um vislumbre de sua permanência no poder, possivelmente conquistada da mesma forma como foi obtido o apoio do PMDB à manutenção de vetos presidenciais semanas atrás? O brasileiro comum, esse que sofre diariamente com a inflação e com o desemprego, não vê luz nenhuma – pelo menos se fosse possível estocar vento para fazer acender alguma lâmpada...

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