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 | Roberto Stuckert Filho/Presidência da República
| Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência da República

Se um pré-candidato à Presidência da República carregado de suspeições e réu em vários processos acaba preso e condenado, de forma que fique impedido de concorrer, isso seria perseguição política ou a aplicação das regras da Justiça e do Estado Democrático de Direito? Se a pergunta for dirigida à ex-presidente Dilma Rousseff, ela não titubeará: a hipótese verdadeira só pode ser a primeira. Foi exatamente esta posição que ela defendeu na Brazil Conference, realizada dias atrás em Cambridge, cidade norte-americana que abriga duas das mais respeitáveis universidades do mundo: Harvard e MIT. O evento contou também com a presença do juiz Sergio Moro, de ministros de Estado e do Supremo Tribunal Federal, além de personalidades do mundo artístico e empresarial, entre outras áreas.

Dilma nunca muda sua forma de pensar: continuou afirmando, por exemplo, que o processo de impeachment foi um “golpe”, embora não tenha argumentado contra a previsão legal e constitucional que fundamentou seu afastamento. Manteve, também, sua defesa quanto à gestão que empreendeu em seu governo, escondendo da plateia que a recessão que o Brasil enfrenta, com todos os seus horrores, decorreu exatamente da opção que ela fez pela “nova matriz econômica”.

Ela também não podia deixar de criticar a política empreendida por seu sucessor, Michel Temer. Nada do que ele está procurando fazer hoje – reformas previdenciária, trabalhista, contenção da inflação, queda dos juros – teria sido aprovado pelas urnas. Como se os eleitores tivessem aprovado a crise que a “nova matriz” legou ao país...

Com outras palavras, Dilma repete o bordão do lulopetismo durante o mensalão

Mas a principal preocupação de Dilma é a sobrevivência política do padrinho Lula. Agradecida, ela disse na Brazil Conference que seu maior temor é de que Lula seja preso. “Ele pode até perder as eleições. Não há vergonha alguma em disputar e perder uma eleição para quem tem valores democráticos. O que não pode é impedir que ele concorra”, sentenciou a ex-presidente, alegando que a prisão “representará uma mudança ilegítima nas regras das eleições de 2018”.

Em uma tradução livre do seu canhestro raciocínio: se Lula for preso, não será pelos crimes que porventura tenha cometido, mas simplesmente por uma perseguição política com o objetivo de tirá-lo da disputa porque, segundo ela, há uma tentativa de “mudança nas regras”. Dilma repetiu em Cambridge o que já havia dito em outros países; na Suíça, chegou a insinuar que o pleito de 2018 corria o risco de ser adiado.

O raciocínio beira a insanidade pelo insulto intrínseco às instituições, ao sistema judicial brasileiro e ao insinuar que não se vive no Brasil um Estado Democrático de Direito. Com outras palavras, repete o bordão do lulopetismo durante o mensalão, quando a penca de condenações que atingiu alguns chefões petistas era chamada de “julgamento de exceção” .

Dilma faz da Operação Lava Jato o mesmo conceito. E para isso finge ignorar que as investigações e os processos judiciais aos quais Lula responde seguem estritamente as regras legais e civilizadas, incluindo o mais absoluto e amplo direito de defesa. No que, aliás, seus advogados têm sido competentes, até mesmo na estratégia de provocar discussões com o juiz Moro durante audiências ou de ingressar com medidas (todas negadas, até o momento) tentando impedir o magistrado paranaense de julgar a causa.

Feliz e providencialmente, também Moro participou do evento. Falou depois de Dilma e teve a oportunidade de colocar as coisas na perspectiva correta: foi sábio o suficiente para não personalizar os fatos, de não se pronunciar fora dos autos. Limitou-se a defender teses que faltam à compreensão de Dilma, mas numa única frase sintetizou o que sentem todos os brasileiros: “O Brasil pode se orgulhar de estar, dentro da lei, enfrentando seriamente a corrupção. A vergonha está na corrupção, não na aplicação da lei”.

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