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 | Ricardo Stuckert/Fotos Públicas
| Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas

Qual é o Lula verdadeiro? Aquele que convoca o “exército de Stédile” para brigar contra os seus adversários, como fez no início de 2015, em ato “em defesa da Petrobras” na sede da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio? Ou o que, magnanimamente, diz que está “perdoando os golpistas deste país”, como fez em 30 de outubro, no ato final da etapa mineira de sua caravana de propaganda eleitoral antecipada? Assim como o “Lulinha paz e amor” de 2002 não passou de uma fachada amigável ao mercado para conseguir conquistar um eleitorado refratário ao discurso radical do líder sindicalista, não é um verdadeiro espírito de reconciliação que move o ex-presidente, mas puro pragmatismo.

Sem saber ainda se poderá ser candidato à Presidência em 2018, pois sua condenação em primeira instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pode ser confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, Lula sabe que o PT, se quiser sobreviver eleitoralmente nos estados, precisa se agarrar a um parceiro de peso. E o principal – talvez único, já que o partido não é mais unanimidade nem mesmo entre a esquerda – deles é o PMDB, a legenda que mais se beneficiou daquilo que os petistas insistem em chamar de “golpe”, mas foi a mera aplicação da Constituição no caso de uma presidente que desrespeitou a lei.

Lula sabe que o PT, se quiser sobreviver nos estados, precisa se agarrar a um parceiro de peso

Para conseguir essa aproximação com os peemedebistas sem insultar a militância que continua a acrescentar o termo “golpista” a cada menção ao presidente Michel Temer, Lula tirou da cartola a conversa fiada do “perdão” e já botou outras lideranças petistas para ir a público justificar alianças com “golpistas”. O presidente do PT no estado de São Paulo, Luiz Marinho, disse ao jornal O Estado de S.Paulo que “nós temos que recuperar bases. A maioria do povo também apoiou o impeachment e nós queremos recuperar a maioria do povo”. Poderia até parecer que o partido está em um esforço para compreender – e perdoar, por que não? – a esmagadora maioria da população que quis o impeachment. Mas, a julgar por estudo recente da Fundação Perseu Abramo, o think tank petista que investigou o pensamento da população pobre que deixou de votar no PT em 2016, o partido já se convenceu de que o problema não está nele, mas no povo. De qualquer maneira, logo na sequência Marinho se entrega: “Agora vamos analisar no sentido de ganhar a eleição”. É isso que interessa. E para isso vale quase qualquer coisa.

“O PT deve permitir aliança com partidos que apoiaram o golpe”, ainda diz Marinho. Mas que ninguém se precipite, não se trata de um “liberou geral”. É preciso ter princípios. Coligação com o PMDB paulista, por exemplo, nem pensar – trata-se da base do presidente Michel Temer. Agora, se o aliado for o alagoano Renan Calheiros, por exemplo, dono de uma vasta lista de investigações e processos que superam de longe as encrencas de Lula com a lei, por que não? Na etapa nordestina da caravana, o senador e o ex-presidente trocaram elogios que causaram mal-estar até mesmo dentro do PT, ao que a presidente nacional do partido, a senadora paranaense Gleisi Hoffmann, respondeu que “não podemos levar essas coisas tão a ferro e fogo” – reputação enlameada, provavelmente, está entre essas “certas coisas” que se pode esquecer ou minimizar.

Leia também:A descoberta dos petistas (editorial de 30 de março de 2017)

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Já em 2016 o partido dava mostras de que o discurso do “golpe” não passava de produto para consumo externo para manter a militância mobilizada. No imediato pós-impeachment, o PT estava em coligações com partidos que votaram pelo impeachment em quase 2 mil dos 5,5 mil municípios brasileiros. O PMDB foi o principal parceiro, mas até o PSDB e o Democratas compuseram chapas com os petistas em cerca de 700 municípios. Mas, naquela ocasião, o partido perdeu quase 60% do número de prefeituras que tinha conquistado em 2012 e também elegeu menos vereadores: 2,8 mil em 2016 contra quase 5,2 mil em 2012. Para não sofrer derretimento semelhante nas assembleias legislativas e no Congresso Nacional, vale sacrificar a coerência, abraçar corruptos e “golpistas” e fingir generosidade. Só falta saber se o eleitor vai acreditar.

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