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Menos de dois meses após o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P), outra agência, a Fitch Ratings, rebaixa a nota brasileira. Essas agências internacionais de classificação de risco examinam o ambiente político, o ambiente jurídico ligado aos negócios e a situação econômica, basicamente com o objetivo de verificar como andam os indicadores que identificam a capacidade do país de pagar seus compromissos financeiros internacionais. É por meio desse trabalho que nasce o chamado “risco Brasil”, utilizado pelos bancos estrangeiros e fundos de investimento para saber qual o risco de conceder empréstimos e fazer investimentos no país.

O sistema de notas é apresentado de maneira um pouco confusa para o grande público, do qual o aspecto mais importante é a linha divisória entre as notas que colocam o país no grau de investimento, que é a condição de bom pagador que merece confiança do sistema financeiro internacional, e o grau especulativo, que classifica o país como lugar de alto risco para aplicação de dinheiro. Quando têm grau de investimento, o governo e as empresas do país conseguem captar dinheiro no exterior a juros mais baixos, pois a taxa de risco embutida no custo do dinheiro é menor, e os fundos de investimento não têm restrição estatutária para investir no país.

Há três anos o Brasil vem acumulando uma sequência de más notícias e péssimos indicadores econômicos

O Brasil passou por diversos ajustes até conseguir chegar a notas boas o suficiente para ser classificado como lugar de baixo risco e ficar na faixa do grau de investimento. Essa posição foi conseguida em razão da melhoria dos indicadores econômicos e sociais, possível apenas após o êxito do Plano Real no combate à inflação, em 1994. Mas as coisas mudaram, a realidade econômica piorou e a conquista obtida está sendo perdida. Infelizmente, há três anos o Brasil vem acumulando uma sequência de más notícias e péssimos indicadores econômicos. As ameaças de que o país poderia ser rebaixado – não por má vontade das agências de classificação de risco, mas pela piora real da situação econômica e política nacional – começam a ser concretizadas.

Apesar do rebaixamento da nota de crédito pelas duas agências (que estão entre as três mais importantes agências do mundo), na Fitch o Brasil ainda não perdeu seu grau de investimento, e também não entrou na faixa definida como grau especulativo, mas já foi marcado com viés negativo, ou seja, tendência de sofrer mais rebaixamentos. Se a situação política e econômica continuar se deteriorando, a nota será revista para baixo e diversos fundos de investimento terão de retirar seu dinheiro do Brasil em face da proibição estatutária de emprestar para países classificados como grau especulativo. O problema é que a expressiva queda do PIB em 2015, a persistência da inflação, os elevados déficits das contas públicas, o aumento do desemprego e o péssimo ambiente político podem empurrar os indicadores usados pelas agências ladeira abaixo, obrigando-as a novos rebaixamentos da nota de crédito brasileira.

A S&P já havia colocado o Brasil em viés negativo, principalmente em razão da crise política que inviabiliza o ajuste fiscal e o controle do déficit nas contas do governo, e está de olho no cenário político e econômico. Não havendo melhora, a agência pode acabar rebaixando novamente a nota do país. A Fitch vai na mesma linha e colocou a nota do Brasil em viés negativo. Na prática, o rebaixamento já feito pelas duas agências e a anotação de viés negativo levam algumas instituições financeiras a tratar o Brasil como grau especulativo, provocando elevação da taxa de juros nos financiamentos concedidos a empresas e governos brasileiros e induzindo alguns fundos de investimento a reduzir sua exposição em ativos brasileiros.

O prejuízo não está apenas na elevação da taxa de juros e na redução das aplicações em títulos brasileiros, mas também no fato de que os credores devem resgatar suas aplicações já feitas em papéis brasileiros. Isso seria muito ruim, pois implicaria deságio no valor dos títulos emitidos pelo governo e por empresas do Brasil, ou seja, elevação da taxa de juros. Tal situação levaria à redução acelerada das reservas cambiais brasileiras mantidas no exterior, cujo efeito, entre outros, seria forçar o preço do dólar para cima.

No fim das contas, é a repetição de situações que o Brasil já viveu em passado distante e vem vivendo nos últimos meses, sem que nada pareça indicar melhoria do cenário político e econômico do país. Enquanto isso, quem sofre é a população.

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