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Antes tivesse sido mais uma daquelas declarações folclóricas sobre a mandioca, a mulher sapiens, as metas ou o cachorro oculto atrás de cada criança. Mas não, Dilma Rousseff foi bem clara na entrevista que deu a três jornais brasileiros: ela não imaginava que a situação da economia brasileira estava tão complicada.

“Vocês sempre me perguntam: no que você errou? (...) Em ter demorado tanto para perceber que a situação poderia ser mais grave do que imaginávamos. E, portanto, tivéssemos de ter começado a fazer uma inflexão antes. Não dava para saber ainda em agosto [de 2014]. Porque não tinha indício de uma coisa dessa envergadura. A gente vê pelos dados. Setembro, outubro, novembro. Nós levamos muitos sustos. Nós não imaginávamos. Primeiro, que teria uma queda da arrecadação tão profunda. Ninguém imaginava isso. (...) Gasto público. Talvez o meu erro foi não ter percebido prematuramente que a situação seria tão ruim como se descreveu. A crise começa em agosto, mas só vai ficar grave mesmo entre novembro e dezembro. É quando todos os estados percebem que a arrecadação caiu” – essas são as palavras de Dilma, nas quais só alguém muito ingênuo teria como acreditar.

A necessidade de contar com maquiagens e recursos atípicos para fechar as contas já era indício mais que suficiente de que algo estava errado

Em primeiro lugar, porque a crise só existe graças às próprias ações do governo Dilma, que durante quatro anos abandonou completamente o tripé macroeconômico da era Fernando Henrique para adotar a “nova matriz econômica” baseada na gastança. Impossível que o governo não soubesse que, ao bagunçar o setor elétrico com redução de tarifas na base da canetada e, com propósitos eleitoreiros, segurar artificialmente o preço da gasolina e dos transportes públicos (em combinação com prefeitos aliados), estava preparando uma bomba inflacionária que explodiria muito em breve.

Bem antes de 2014 o governo federal já estava recorrendo à “criatividade contábil” para fechar as contas. As metas de superávit primário só eram alcançadas graças a rendas extraordinárias como o Refis e leilões nas áreas de petróleo e telecomunicações. A necessidade de contar com maquiagens e recursos atípicos já era indício mais que suficiente de que algo estava errado. Em agosto de 2014, o governo também já sabia que a produção industrial estava em queda: de março daquele ano em diante, a produção nunca foi maior que a do mesmo mês do ano anterior.

E, como se não bastasse, avisos externos não faltaram. Os adversários de Dilma Rousseff na campanha da reeleição cansaram de bater na tecla da crise iminente. Agosto de 2014 nem tinha chegado ainda e Lula já tinha publicamente pedido (e recebido) a cabeça dos responsáveis por um relatório do banco Santander que apontava para a deterioração de indicadores em caso de vitória de Dilma; em julho de 2014 a coligação da presidente processou a consultoria Empiricus, que fez alertas semelhantes (O TSE reverteu a tentativa de censura). Tudo isso foi desprezado por Dilma como “terrorismo eleitoral”.

Será mesmo possível que uma economista de profissão, com fama de gestora eficiente no governo Lula, diante de todos os indícios estatísticos e avisos de que a tempestade já estava formada e chegaria logo, pudesse ser surpreendida pela realidade dessa forma? O mea culpa de Dilma, uma presidente desesperada para recuperar a popularidade, se não for simplesmente uma tentativa de iludir a população, é um enorme atestado de incompetência.

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