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| Foto: EVARISTO SA/AFP

No último dia 12 de maio, o presidente Michel Temer completou dois anos à frente da Presidência da República, três meses dos quais como presidente interino. A cinco meses das eleições, por mais que o governo ainda tente emplacar uma ou outra reforma, não é possível negar o clima de fim de festa em Brasília. Onerado por um passivo ético expressivo que acabou custando seu capital político, Temer não conseguiu superar o velho fisiologismo do PMDB, esbarrou no esquema criminoso de poder montado pelo PT, embora, junto à equipe econômica, tenha o mérito de ter revertido a violenta recessão econômica de 2014-2016. A avaliação desses dois anos de governo revela uma nítida fotografia das encruzilhadas brasileiras.

Não seria fácil superar o estrago de uma recessão que fez o PIB recuar quase 8% em dois anos e o desemprego chegar a 14 milhões de brasileiros, uma herança inegável da malfadada experiência “neodesenvolvimentista” do PT, maquiada pela “contabilidade criativa” e pelas pedaladas fiscais da ex-presidente Dilma Rousseff, que acabaram por lhe custar o mandato. Não se ignora que o PMDB ajudou a sustentar o projeto de poder petista, mas a partir de 2015 o partido começou a acenar no rumo correto, do ponto de vista econômico, com o documento “Ponte para o Futuro”. Ao assumir o governo, Temer acertou nas indicações de Henrique Meirelles para a Fazenda e de Illan Goldfajn para o Banco Central, recuperando a confiança do mercado e de investidores.

Lideranças políticas e a sociedade brasileira não devem se esquecer desses anos difíceis

O presidente também deu passos importantes com a aprovação do novo regime fiscal, a PEC do teto, e da Reforma Trabalhista, fundamental para a melhoria do ambiente de negócios no Brasil. Nesse campo, a atuação do governo foi fundamentalmente correta, a inflação baixou a cerca de 3% do ano passado, depois de um pico de 10,67% em 2015, e a economia cresceu cerca de 2%, encerrando a recessão. No entanto, a Reforma da Previdência naufragou e a agenda de microrreformas segue tímida, o que afeta a confiança do setor produtivo e dos consumidores. A retomada do crescimento desaponta a maior parte dos analistas e, junto à trajetória do gasto público, aumenta os desafios do próximo presidente.

Parte disso, é bom destacar, deve-se ao terrível desempenho do governo em se comunicar com a população. O desastre do slogan “O Brasil voltou, 20 anos em 2”, apresentado esta semana, é a síntese da incapacidade do poder público em comunicar, de uma forma efetiva, moderna e inspiradora, necessidades reais do país. Isso é um desafio para campanhas e candidatos neste ano. No entanto, não se pode negar que a erosão da autoridade moral do presidente foi determinante para o abandono da agenda de reformas.

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Desde o início do governo, a cúpula palaciana esteve envolta em denúncias graves de corrupção. Não era de se espantar, dado que todos tinham papel de destaque nos esquemas viabilizados pelas administrações petistas. Caíram Romero Jucá, Geddel Vieira Lima e Henrique Alves Dias. Contudo, o desmoronamento moral do governo Temer chegou com as conversas tortas que teve com o empresário Joesley Batista, à sombra de um esquema nada republicano. Em que pesem o açodamento da Procuradoria-Geral da República (PGR) e as suspeitas sobre a conduta do procurador Marcelo Miller, foi ali, em maio do ano passado, que Temer perdeu as condições de liderar o país. Na prática, queimou seu capital político no Congresso para se salvar de duas denúncias criminais – as primeiras contra um presidente no exercício do mandato – e ainda não se livrou da possibilidade uma terceira.

Opinião da Gazeta: A face autoritária do PT (editorial de 20 de janeiro de 2018)

Não será fácil superar os mais de dez anos de degradação moral semeada pelo petismo, que esgarçou as instituições brasileiras ao seu limite, normalizou o desrespeito à lei e o escárnio ao Judiciário e inflamou a retórica política brasileira à beira da violência. Escapar desse atascadeiro não é tarefa simples, como o governo Temer bem o demonstra. É imprescindível que lideranças políticas e a sociedade brasileira não se esqueçam desses anos difíceis, para nunca mais imitá-los, a começar pela escolha dos políticos que estarão à frente do país nos próximos mandatos.

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