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 | Fernanda Carvalho/Fotos Públicas
| Foto: Fernanda Carvalho/Fotos Públicas

Um fenômeno que tem passado despercebido no debate nacional, sobretudo nos meios políticos, é a piora do grau de competitividade do Brasil nos mercados internacionais. A piora relativa da competitividade – que é a capacidade de competir com outras nações nas vendas para o exterior – tem potencial de criar enormes prejuízos à economia interna, principalmente porque alguns concorrentes diretos do Brasil estão melhorando a produtividade e a capacidade de concorrer. A junção de piora no grau da competitividade brasileira com a melhoria na competitividade de países concorrentes prejudica ainda mais a situação econômica do Brasil e ajuda a aprofundar a pobreza.

De saída, é necessário lembrar que não se pode confundir a capacidade de competir de uma empresa isoladamente com a capacidade competitiva do país como um todo. Essa confusão lança uma cortina de fumaça na gravidade do problema e não deixa às claras o desastre econômico nacional. A competitividade de uma empresa depende de sua eficiência produtiva, do grau de tecnologia incorporado em sua operação, da carga tributária embutida nos custos, da taxa de juros e dos salários reais comparados com o resto do mundo. Entretanto, para o país como um todo, entram no cálculo a eficiência da infraestrutura física – sobretudo transportes e portos – e a chamada relação salário/câmbio, que é a comparação dos salários internos com os salários dos trabalhadores internacionais em termos de poder de compra.

Quando o país perde na comparação com os concorrentes internacionais em todos os indicadores de custos e de competição, em geral a saída para viabilizar as exportações diante da ineficiência competitiva é pela desvalorização da taxa de câmbio. Ou seja, uma empresa ineficiente em um país ineficiente pode continuar exportando e tendo lucro caso o preço dos dólares obtidos nas vendas ao exterior seja elevado. A desvalorização da moeda nacional perante o dólar joga nas mãos do exportador valores em reais maiores o suficiente para cobrir a falta de competitividade. O que não fica claro para a população é o fato de que esse tipo de situação torna os trabalhadores nacionais mais pobres que os assalariados estrangeiros, por diminuir a relação salário/câmbio e reduzir o poder de compra dos salários internos em termos de preços internacionais.

Como a maioria dos assalariados não compra dólares regularmente, esse quadro fica mascarado. Porém, essa máscara é parcial, já que parte do que é consumido no mercado interno vem do exterior, fazendo que as importações se tornem mais caras na moeda nacional, logo, reduzindo o poder de compra dos salários. Um exemplo dessa situação é o trigo, produto que é importado em mais da metade do consumo nacional. O que não fica explícito para a grande massa de trabalhadores é que a elevada taxa de câmbio cumpre a função de ajudar na compensação da baixa competitividade nacional perante os concorrentes internacionais, e o preço disso é o empobrecimento relativo perante o mundo.

A precária infraestrutura, as deficiências do capital físico produtivo, a alta carga tributária e o alto custo do financiamento às empresas estão entre os fatores que vêm criando enormes problemas para a competitividade do país. Some-se a isso a baixa produtividade do trabalho (produção por hora de trabalho), agravada pelas deficiências do capital humano e do baixo nível de conhecimento tecnológico incorporado ao sistema produtivo, e tem-se a explicação de por que o Brasil encerrará a segunda década do século 21 sem ter conseguido erradicar a pobreza.

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