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O Brasil vem assumindo uma posição de liderança no contexto internacional no que tange aos desequilíbrios ambientais. Mesmo assim, é preciso reconhecer que também falta ao governo brasileiro fazer a lição de casa em algumas questões

Com a previsão de atrair perto de 50 mil visitantes e delegações de 190 países, começa hoje o encontro dos chefes de Estado na Rio+20, quando mais uma vez estará em discussão o futuro do planeta via desenvolvimento sustentável. Apesar do clima de festa, da presença de várias lideranças mundiais, ambientalistas, cientistas, de um sem-número de representantes de ONGs e de uma pauta recheada de temas relevantes, a perspectiva de resultados práticos importantes é pequena. Uma passada de olhos na Eco-92, também realizada no Rio de Janeiro, mostra que pouca coisa mudou nestas últimas duas décadas, apesar do elenco de ações aprovado à época para amenizar o impacto do desenvolvimento desenfreado no meio ambiente.

As históricas dificuldades de países ricos de um lado, e emergentes e pobres de outro, para chegar ao consenso em torno de um acordo factível que permita tornar a Terra um lugar melhor para todos mais uma vez aparece como principal entrave. Dificuldade que começa pela maior potência mundial, os Estados Unidos, que resistem em apoiar iniciativas efetivas para reduzir os danos do efeito estufa, apesar de serem os maiores emissores de poluentes causadores do fenômeno na atmosfera. Um sinal de que a postura norte-americana não irá sofrer nenhuma guinada inesperada nas discussões da Rio+20 está na ausência, já confirmada, do presidente Barack Obama.

Apesar das recorrentes dificuldades para transformar propostas teóricas em ações globais concretas, não passam despercebidos os esforços do Brasil para obter compromissos mais factíveis no terreno ambiental, em particular dos países industrializados.

A proposta capitaneada pelo Brasil atesta que o país vem assumindo, nos últimos anos, uma posição de liderança no contexto internacional no que tange aos desequilíbrios ambientais. Mesmo assim, é preciso reconhecer que também falta ao governo brasileiro fazer a lição de casa em algumas questões que dizem respeito diretamente ao tema. Exemplo disso são as dificuldades para conciliar os interesses do agronegócio com a questão ambiental, tornadas claras no impasse durante a elaboração do Código Florestal. Na mesma toada está a questão do desmatamento na Amazônia, que, apesar dos recentes bons resultados na redução nos índices de perda de cobertura verde, é uma empreitada que ainda deixa a desejar.

Por fim, o país também fica devendo na questão do pleno desenvolvimento das energias renováveis, em especial o álcool anidro. Depois de alguns acenos positivos para o incentivo ao combustível, inclusive com o incremento da tecnologia flex na indústria automobilística, o que se verifica hoje é um lamentável retrocesso no uso da bioenergia. E os números de 2011 atestam isso com clareza: enquanto o consumo de combustíveis derivados de petróleo experimentou aumento de 19%, o uso do etanol despencou 29%.

De maneira geral, as questões colocadas acima mostram o tamanho e a complexidade do desafio ambiental com que o mundo se depara hoje. Enquanto governantes não admitem mudanças nas suas matrizes energéticas e nos processos de industrialização, relatórios ambientais e estudos científicos insuspeitos traçam um panorama alarmante para um futuro não tão distante. Como garantir um planeta ambientalmente sustentável para as próximas gerações é a grande indagação que precisa ser respondida com urgência.

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