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O desarranjo na economia brasileira fez com que o país novamente caísse na armadilha das grandes oscilações cambiais. Após a desvalorização do real ocorrida entre o fim de 2014 e o início deste ano, o país se tornou a economia cuja moeda mais se valorizou no mundo neste ano, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS). O movimento mostra as dificuldades de se conviver com o câmbio flutuante quando outros fundamentos econômicos são voláteis.

O câmbio flutuante foi adotado pelo Brasil somente em 1999. Ele era uma das pernas do tripé macroeconômico, completado pela meta de inflação e pelo controle das contas públicas. Nesse modelo, a taxa de juros é determinada em função da meta de inflação, que é perseguida com apoio da política fiscal e influenciada por uma variável não controlada, que é o câmbio.

O problema central do modelo é que, em um país instável na manutenção das variáveis que ele controla, o câmbio oscila de maneira violenta – isso mesmo com o Banco Central tendo adotado a postura de intervir no mercado com instrumentos derivativos e a compra e venda de moeda estrangeira. Os efeitos dessas variações reverberam durante meses e dificultam a construção de um cenário de longo prazo para quem está na economia real.

A desvalorização do real ocorrida entre julho de 2014 e setembro de 2015 foi de 31%, segundo dados do BIS que corrigem os índices pela inflação. Em seguida, houve uma valorização de 30% até julho deste ano. O primeiro movimento pressionou a inflação, influenciada pelos preços de produtos importados, mas abriu ao mesmo tempo a perspectiva de elevação das exportações. Em poucos meses, o cenário mudou e já começa a incomodar a indústria, que contava com o câmbio para elevar suas vendas ao exterior.

De fato, o movimento de desvalorização do real não foi suficiente para que as exportações compensassem a perda de atividade econômica interna. Neste ano, os embarques de produtos manufaturados apresentaram um recuo de 2,32%. A perda de competitividade da indústria nos anos de real forte foi tamanha que a melhora da cotação do dólar verificada até o início deste ano não foi suficiente para a conquista de novos mercados.

Não é de estranhar que comecem a aparecer vozes pedindo intervenções mais pesadas no câmbio, como fez o empresário Abílio Diniz – sua sugestão é que se aumente o imposto sobre a entrada de dólares trazidos por investidores. As reclamações são legítimas. Poucos empresários no mundo lidam com tantas variações cambiais em tão pouco tempo.

Ao mesmo tempo, intervenções muito pesadas no câmbio mascaram outros desequilíbrios macroeconômicos. Foi assim que a intervenção maciça feita pelo BC entre 2013 e 2014 para segurar a alta do dólar serviu para conter artificialmente a inflação que o governo Dilma Rousseff teimava em dizer que não existia. O saldo foi a criação de US$ 100 bilhões em derivativos cambiais que custaram bilhões em juros à autoridade monetária.

O primeiro passo para se amenizar o problema é a sustentação do tripé macroeconômico. O governo tem de apoiar sem ressalvas a manutenção da meta de inflação, com um ajuste fiscal duradouro. Isso reduzirá a especulação no mercado de juros, com o efeito benéfico sobre o grau de oscilação cambial.

A melhora macro pode ser acompanhada pela criação de um Comitê de Política Cambial, instrumento sugerido pelo atual presidente do BC, Ilan Goldfajn, em um trabalho feito antes de assumir o posto. Nos moldes da reunião que hoje decide a taxa de juros, o comitê avaliaria os movimentos cambiais para estabelecer políticas de gestão de reservas, taxação de entrada de recursos, entre outras variáveis. Isso melhoraria a comunicação com o mercado e produziria um modelo para reduzir a volatilidade .

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