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O agronegócio sustentou os saldos positivos alcançados pela balança comercial brasileira durante treze anos consecutivos até 2014. Agora, apesar de seguir em expansão, perde a liderança global nas exportações de suas duas principais commodities, soja e carne bovina, diante de avanços mais expressivos na concorrência. Como ocorreu em 2014, o setor preserva fôlego imenso nas exportações e deve registrar superávit acima de R$ 80 bilhões, mas isso não é o suficiente para garantir saldo positivo para o país nem a posição de “celeiro do mundo”.

A retomada da liderança nas exportações de soja é esperada já para a temporada 2015/16. Na carne vermelha, isso pode levar cinco anos, conforme as projeções de ambos os setores. No entanto, não se trata simplesmente de recuperar a posição assumida pelos Estados Unidos, maior produtor da oleaginosa, e pela Índia, que ganha espaço com a venda de carne de búfalos para a Ásia, o Oriente Médio e a África. A perda de posição remete o país para seus problemas internos.

Investimentos em infraestrutura são necessários para sustentar toda a economia nacional

Simplesmente aumentar a produção não significa ganhar espaço no mercado global. E liderar as exportações não vale a pena se for para levar prejuízo. É preciso avançar em competitividade. Ou seja, a soja e a carne brasileiras precisam ser competitivas em regiões distantes, com redução no custo Brasil. A perda da liderança aconteceu, sim, devido ao aumento da produção dos concorrentes diretos. Mas também pela desvantagem do agronegócio brasileiro em infraestrutura. O Brasil tem estoque maior de soja que os Estados Unidos, mas vende menos porque amarga custo logístico maior e, consequentemente, preços menos atraentes aos produtores.

O agronegócio não quer recuperar a liderança no mercado internacional somente porque aumentou a produção e precisa escoá-la de qualquer maneira. Essa meta precisa ser atingida com evolução logística que garanta sustentabilidade ao setor. Aí sim fará sentido eliminar a vantagem de 400 mil toneladas que a Índia abriu na exportação de carne e a de 3,33 milhões de toneladas que os Estados Unidos estão abrindo na soja.

Outras questões básicas ainda se impõem. O Brasil terá condições de escoar safra 25% maior daqui dez anos? Há garantia de mercado para uma produção 30% mais volumosa de carne? Segundo estimativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil deve registrar um crescimento no plantio de grãos de 57 milhões para 67 milhões de hectares. E a produção deve passar das atuais 200 milhões de toneladas para 250 milhões de toneladas. A soja, principal produto agrícola, deve saltar da casa de 90 milhões para perto de 120 milhões de toneladas, sendo mais da metade destinada à exportação. Em carnes, a expansão prevista pelo Mapa é de 30%, de 26 milhões para 34 milhões de toneladas.

Para escoar esse volume maior da produção agropecuária são necessários mais investimentos em infraestrutura, que logicamente beneficiarão os mais diversos setores da economia. Porém, ainda faltam recursos, que só devem surgir se a área for tratada como prioridade pelos governos. Estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostra que hoje são necessários R$ 195 bilhões para uma mudança significativa no escoamento da produção agropecuária. Esse valor refere-se a 250 projetos, de um total de 2.045 analisados, e diz respeito a intervenções em ferrovias, rodovias, hidrovias, portos e terminais de transbordo. Desse total de 250 projetos, 111 têm relação direta com as rotas de transporte do agronegócio.

Esses investimentos em infraestrutura, sejam originados do setor público ou do privado, são necessários não apenas para o setor do agronegócio, mas para sustentar toda a economia nacional, que se apoia na produção e exportações do campo. A CNT elencou 75 ações necessárias aos portos, 67 na malha ferroviária, 48 nas rodovias, 46 em hidrovias e 14 em terminais de transbordo. Se cada uma dessas ações se transformar em um projeto bem elaborado que mereça a aplicação do dinheiro público e de investidores, estará aberto um caminho para que o país possa viabilizar a produção do campo e aquecer a economia.

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