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Em mais um sinal de que a retomada patina, os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta quinta-feira (17), mostram que falta trabalho para 27,7 milhões de brasileiros – 24,7% dos potenciais trabalhadores, maior percentual desde 2012. Essa é a taxa de subutilização da força de trabalho do país, que compreende os 13,1 milhões de desempregados, as 6,2 milhões de pessoas que trabalham menos de 40 horas por semana e as 7,8 milhões que poderiam trabalhar, mas não o fazem, seja por terem desistido de procurar ocupação – os desalentados –, seja por não terem disponibilidade para trabalhar. Reverso da moeda de um tímido crescimento econômico, o estado do mercado de trabalho mostra que falta confiança a consumidores e investidores.

Como já explicamos repetidas vezes neste espaço, o descontrole na trajetória do gasto público é fundamental para explicar esse cenário. Historicamente altos, os gastos do Estado reduzem a poupança e forçam altas periódicas dos juros. Nos últimos anos, a situação se deteriorou de forma drástica: a dívida pública disparou e chegou a 84% do PIB em 2017, pelos cálculos do FMI, contra uma média de 48% entre os países emergentes e apenas 25% no Chile. Mesmo que se retome o superávit primário nos próximos anos, a trajetória é ascendente. O governo conseguiu aprovar o teto de gastos, mas jogou a toalha na reforma da previdência, o que levanta dúvidas legítimas sobre como, afinal, o Brasil conseguirá controlar os gastos sem estrangular ainda mais a economia com impostos. A rigidez orçamentária atingiu 94% de toda a despesa da União no ano passado, e o maior gasto é justamente o previdenciário.

Liberar o imenso potencial criativo da força de trabalho brasileira será imprescindível para reencontrarmos o caminho do desenvolvimento

Sem enfrentar essa agenda, não haverá solução mágica. No entanto, a alta taxa de subutilização da força de trabalho convida a pensar em outros aspectos da vida econômica nacional, como o pouco estímulo ao empreendedorismo, à inovação e aos potenciais da atividade autônoma. Se o ambiente de negócios fosse mais arejado, a burocracia, menos sufocante e a confiança nas instituições, maior, haveria mais incentivos para que as pessoas usassem sua força de trabalho de forma mais criativa e investissem em soluções inovadoras para os problemas que as cercam. Num cenário de gigantismo estatal, no entanto, esse incentivo é quase nulo.

Opinião da Gazeta: As razões do desemprego (editorial de 01 de maio de 2018)

Nada disso é mero impressionismo. Na última edição do Índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation, o principal indicador sobre o tema no mundo, o Brasil amargou a 153ª posição entre 180 países, o que faz de nós um país majoritariamente não livre. Gastos do governo e ineficiência do Judiciário pesaram na avaliação, mas a baixa produtividade, as limitações à criação de novas empresas, a complexidade dos regimes jurídicos e a insuficiência regulatória foram apontadas como problemas. Já na última edição do relatório Doing Business, que mede a facilidade em fazer negócios, o Brasil ficou na 125ª posição geral entre 190 países, mas padeceu na incrível 176ª posição no quesito facilidade para criar uma empresa.

Opinião da Gazeta: Uma explicação para o atraso brasileiro (editorial de 02 de novembro de 2017)

Não se pode deixar de imaginar quantos dos brasileiros hoje desalentados não poderiam ser, em um ambiente propício, empreendedores e criadores de riqueza. Por enquanto, permanecem frustrados por restrições que estão além de suas forças e por uma classe política que não faz as reformas necessárias para destravar o país. Liberar o imenso potencial criativo da força de trabalho brasileira será imprescindível para reencontrarmos o caminho do desenvolvimento.

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