• Carregando...
 | Brunno Covello/Arquivo Gazeta do Povo
| Foto: Brunno Covello/Arquivo Gazeta do Povo

Em julho de 2012, a então presidente Dilma Rousseff produziu uma pérola de ilógica econômica. Em cerimônia pública, ela disse que não é pelo Produto Interno Bruto (PIB) que se mede o desenvolvimento de um país, mas pela forma como trata suas crianças e adolescentes. Para quem obteve diploma de bacharel em Economia, a declaração foi no mínimo mostra de ignorância em seu próprio campo de formação universitária, ou então apenas um ato de demagogia política. Os filósofos diriam que a ex-presidente praticou “falácia de composição”, que é uma figura de retórica derivada de argumento logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho quanto ao objetivo de provar o que afirma.

Na época, chamou a atenção dos analistas que o ex-presidente Lula elogiava seu partido e a si mesmo justamente pelas taxas de crescimento do PIB desde 2003. Dilma Rousseff, na prática, estava se defendendo da retração das taxas de crescimento do PIB e usou a via tortuosa de dizer que não era pelo PIB que se mede o desenvolvimento de um país. O problema maior nesse tipo de declaração é que os políticos – que são espertos quando se trata de conquistar votos – acreditam que, pela ignorância ou pela ingenuidade, boa parte da população acredita na enrolação discursiva e na falsidade do argumento. Foi preciso que a própria Dilma Rousseff jogasse o país em grave recessão para que a tese da ex-presidente fosse completamente desmoralizada.

O Brasil precisa desesperadamente fazer o PIB crescer como único caminho para reverter os indicadores sociais ruins

É óbvio que o crescimento do PIB sozinho não é condição suficiente para resolver os problemas sociais, nem para definir a forma como o país trata as crianças. Entretanto, a recessão e o tamanho da queda do PIB criaram três tragédias econômicas que têm a ver com a forma de solucionar problemas sociais: o desemprego de mais de 14 milhões de pessoas, a queda na arrecadação tributária do governo e a deterioração dos programas sociais. Enquanto a população seguiu crescendo durante os quatro anos de recessão, o alto desemprego jogou na desocupação e deixou sem renda 14% da população economicamente ativa (aquela em condições de trabalhar, em grande parte composta de pais de família que perderam condições de atender as necessidades de suas crianças).

O segundo efeito – a queda da arrecadação tributária – fez o governo reduzir seus programas sociais de transferência de renda e outros, inclusive os programas de atendimento às crianças e adolescentes. Somente a soma desses dois efeitos derivados da queda do PIB – desemprego e queda na arrecadação – é prova suficiente de que o Brasil precisa desesperadamente fazer o PIB crescer como único caminho para reverter os indicadores sociais ruins, inclusive para recuperar o orçamento fiscal a fim de ter mais recursos para aplicar em programas sociais. Vale lembrar que uma coisa é medir os efeitos de queda no PIB em um país com renda por habitante de US$ 50 mil/ano ou mais (caso da Dinamarca, Estados Unidos etc.), outra coisa é ver o efeito disso no Brasil, cuja renda por habitante é de pouco mais que US$ 10 mil/ano.

Leia também:A complicada superação da recessão (artigo de Gilmar Mendes Lourenço, publicado em 22 de junho de 2017)

Leia também: O entrave do progresso (editorial de 19 de setembro de 2017)

No Brasil, não há instrumento mais eficaz para a melhoria social que o crescimento do PIB. Depois que o PIB de 2016 foi 7,4% menor que o de 2013, com o número de desempregados saltando de 5,5 milhões para 14 milhões nesse mesmo período, a previsão de que o PIB de 2017 deve crescer apenas 0,5% sobre 2016 é ruim. O aspecto positivo a ser destacado é que, possivelmente, trata-se da interrupção no processo recessivo. Para 2018, fala-se em crescimento de 3%, que é importante, porém insuficiente para recuperar os níveis de 2013, quando a população era 6,4 milhões de pessoas menor que a atual. Sem crescimento, as carências sociais não serão superadas. Com crescimento, tudo dependerá da competência dos governantes.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]