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Na quinta-feira, dia 25 de junho, o Conselho Monetário Nacional definiu a primeira mudança nas metas de inflação desde 2006. Naquele ano, ficou decidido que o centro da meta seria de 4,5% ao ano, com tolerância de dois pontos porcentuais para cima e para baixo. Na revisão da semana passada, os 4,5% ficaram intocados – o que mudou foi o intervalo, que passa a ser de 1,5 ponto porcentual, ou seja: o piso da meta, que era de 2,5%, será de 3%; e o teto, que era de 6,5%, cai para 6%. A nova meta valerá a partir de 2017.

Nem todos os países adotam metas de inflação. Mas, dentre as nações que usam o sistema, um breve levantamento mostra que a meta de 4,5% adotada pelo Brasil desde 2005 é alta se comparada tanto ao mundo desenvolvido (o centro da meta é de 2% no Canadá, na Suécia, no Reino Unido, na Nova Zelândia e nos Estados Unidos; na Noruega, é de 2,5%; na Suíça e na zona do euro, o teto da meta é de 2%; a Austrália não tem centro da meta, mas a inflação precisa ficar entre 2% e 3%) quanto em relação aos vizinhos latino-americanos: o Peru coloca o centro da meta em 2%; Chile, Colômbia e México adotam 3%. Ou seja, o Brasil ainda demonstra uma tolerância à inflação maior que em economias fortes ou emergentes que, em vários aspectos, deveriam ser uma inspiração para nossa própria política econômica.

Neste sentido, a redução do teto da meta pode ser encarada como um sinal positivo, embora ainda muito tímido, especialmente se levarmos em conta que são sempre os mais pobres as grandes vítimas da inflação, por terem pouquíssimos meios de se defender dela. A inflação desorganiza o sistema de preços e corrói o poder de compra do trabalhador. Não há como uma sociedade ver seu dinheiro se desvalorizar em quase 5% ano após ano e considerar esse fenômeno perfeitamente normal, ou mesmo tolerável. O próprio Brasil já teve metas menores de inflação: em junho de 2001, o CMN decidiu que, para 2003, o centro da meta seria de 3,25%, mas o objetivo teve vida curta: ainda antes de 2003 começar, o alvo já tinha sido elevado para 4%.

Não há como uma sociedade ver seu dinheiro se desvalorizar em quase 5% ano após ano e considerar esse fenômeno perfeitamente normal

Não surpreende que haja quem encare a decisão do Conselho Monetário Nacional com uma ponta de ceticismo. Afinal, a redução no teto da meta vem em um momento no qual a política econômica tem se mostrado incapaz de conter a inflação – cuja disparada é motivada especialmente por erros do governo, que represou artificialmente preços administrados em época eleitoral e impôs reduções insustentáveis nas tarifas de energia elétrica. O resultado é o aumento generalizado de preços desde o início de 2015, pois muitos dos preços reajustados, como o da própria energia, geram um efeito cascata que repercute em vários outros produtos e serviços. Aliás, desde 2010 o IPCA tem estado mais próximo do teto da meta que de seu centro, tendo superado os 6% em 2011 e no ano passado.

E aqui reside o grande desafio do Banco Central: o de, em tempos turbulentos como os que estamos vivendo, construir credibilidade para que os novos limites da meta de inflação não se tornem letra morta. E, para isso, entregar resultados é muito mais importante que fazer promessas ou manifestar boas intenções. Que o diga o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, motivo de piada internacional a cada previsão que fazia para o desempenho da economia brasileira. Incapaz de fazer prognósticos precisos sobre o PIB do ano, Mantega ainda teve a audácia de lançar previsões de longo prazo, quando em dezembro de 2013 disse que o Brasil cresceria a uma média de 4% ao ano até 2024. Quando isso ocorre, as risadas são o de menos: muito pior é o risco para a credibilidade do país que tem alguém deste naipe no comando da economia. Que o Banco Central veja neste caso o exemplo do que não fazer e tenha sucesso no combate à inflação presente, ganhando moral para a tolerância zero para com a inflação futura.

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