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Neste domingo ocorre mais uma manifestação contra o PT e o governo de Dilma Rousseff em dezenas de cidades. É o terceiro grande evento do gênero – o primeiro, em 15 de março, surpreendeu mesmo aqueles que contavam com grande participação popular, forçando uma reação do governo federal ainda no mesmo dia, com entrevistas dos ministros José Eduardo Cardozo e Miguel Rossetto. Em 12 de abril, a presença popular foi menor, mas ainda assim muito significativa. Nesses quatro meses que separam a última passeata daquela marcada para este domingo, o cenário político dá mostras que podem tanto animar quanto desanimar o brasileiro que discorda da maneira como o PT está conduzindo o país.

A questão das “pedaladas fiscais”, os artifícios usados pelo governo federal para maquiar as contas públicas, entrou definitivamente no radar político nacional e se transformou em um caminho concreto para o impeachment de Dilma. Em junho, pela primeira vez na história um presidente da República teve de enviar explicações para o Tribunal de Contas da União, que analisa o caso; dias atrás, um novo prazo foi concedido ao Planalto devido a novos indícios de irregularidades encontrados. Uma rejeição das contas de Dilma poderia abrir caminho para um processo de impeachment no Congresso Nacional. Além disso, a Operação Lava Jato se aproxima da cúpula petista, com a prisão de José Dirceu. A inflação e o desemprego seguem em alta, fatores que estimulam o descontentamento da população.

Diante de uma referência a conflito armado, é inacreditável que não se tenha ouvido uma única palavra de repúdio por parte do Planalto

Por outro lado, a reaproximação entre Dilma e o presidente do Senado, Renan Calheiros, pode ser vista como algo mais que uma tentativa de “garantir a governabilidade”. Calheiros tem influência no TCU, e seria o Senado o responsável por votar o eventual impeachment de Dilma (a Câmara apenas autoriza a abertura do processo). A possibilidade de as contas de Dilma acabarem aprovadas não é desprezível. As ações no Tribunal Superior Eleitoral que buscam impugnar a chapa Dilma-Michel Temer por suposto uso de dinheiro do petrolão na campanha estão paradas. Esse cheiro de pizza no ar pode levar brasileiros a achar que de nada adianta ir às ruas, pois no fim os conchavos políticos acabam prevalecendo.

A manifestação deste domingo, no entanto, tem incógnitas adicionais. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) de São Paulo e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC convocaram uma manifestação de apoio no Instituto Lula, no mesmo dia e hora do protesto na Avenida Paulista. Até então, os eventos eram feitos em dias separados, e movimentos afinados com o petismo já tinham se organizado para ir às ruas na próxima quinta-feira, dia 20. Por mais que defendamos o direito à manifestação de ambos os lados, marcar um ato pró-Lula simultâneo ao protesto contra o governo pode ser visto como uma provocação que tem potencial explosivo. É verdade que há seis quilômetros de distância entre os dois eventos, mas o risco de conflitos localizados antes ou depois do ato, quando os participantes estão se dirigindo aos protestos ou se dispersando, não é desprezível – é a mesma razão pela qual não se marcam partidas de times rivais na mesma cidade no mesmo dia.

Mas muito mais preocupantes são as palavras do presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, em evento realizado na quinta-feira, com a presença de Dilma. Após reclamar que há “preconceito de classe” no Brasil, Freitas diz que “isso implica agora, nesse momento, ir para as ruas, entrincheirados, com arma na mão, se tentarem derrubar a presidente Dilma Rousseff (...) qualquer tentativa de atentado à democracia, à senhora ou ao presidente Lula, nós seremos um exército que vai enfrentar essa burguesia na rua”.

Esta é uma declaração que não se justifica nem mesmo como arroubo retórico (como Freitas fez parecer no Twitter, tentando amenizar o impacto de suas palavras); é irresponsável e perigosa, ainda mais se considerarmos que, no palavreado dos defensores de Dilma, “atentado à democracia” inclui até mesmo o recurso a instrumentos legítimos como o impeachment ou uma impugnação de candidatura. Diante dessa referência a conflito armado, é inacreditável que não se tenha ouvido uma única palavra de repúdio por parte do Planalto. Dilma, que estava no evento, não fez nenhum comentário; Rossetto, perguntado em entrevista sobre as declarações de Freitas, desviou do tema. Em fevereiro, Lula já tinha recrutado o “exército de Stédile”, em evento na Associação Brasileira de Imprensa que contou com a presença do líder do MST. Esse discurso que fomenta a desestabilização não condiz com a autêntica defesa da democracia; a sociedade precisa permanecer atenta.

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