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| Foto: Daniel Caron/Gazeta do Povo

“Democracia” é uma palavra que costuma estar no discurso dos líderes petistas, que a invocaram, por exemplo, para defender Dilma Rousseff durante o processo de impeachment, apesar de haver fartas provas do crime de responsabilidade cometido pela presidente e de o processo seguir todo o trâmite legal determinado pelo Supremo Tribunal Federal. O petismo e suas entidades-satélites – por exemplo, nos movimentos sindical e estudantil – não se cansam de convocar “atos pela democracia” nos quais o que mais se faz é negar a verdadeira democracia, trabalhando pela desmoralização das instituições e pela revogação do salutar princípio segundo o qual a lei vale para todos, como se pode ver nas manifestações petistas contra a condenação do ex-presidente Lula.

A prática petista também é pródiga em negar o discurso de defesa da democracia; o exemplo mais recente foi protagonizado por ninguém menos que a presidente do partido, a senadora paranaense Gleisi Hoffmann, que tentou impedir na marra a votação da reforma trabalhista no Senado, tomando a Mesa Diretora da casa legislativa ao lado da colega de partido Fátima Bezerra (RN) e da aliada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Sabedoras de que não sairiam vencedoras no voto, recorreram à força, interrompendo o funcionamento de um dos três poderes.

O modelo petista é o de submeter as instituições à vontade do partido

E, na última reunião do Foro de São Paulo, entidade que reúne grupos de esquerda latino-americanos, a presidente do PT mais uma vez mostrou que o tipo de “democracia” por ela defendido está muito distante da verdadeira democracia. Durante o encontro realizado na Nicarágua, além de fazer as costumeiras críticas ao juiz Sergio Moro, defender Lula e chamar o atual governo de “golpista”, Gleisi Hoffmann fez, sem corar, a defesa do regime assassino do ditador venezuelano Nicolás Maduro. “O PT manifesta seu apoio e solidariedade ao presidente Nicolás Maduro frente à violenta ofensiva da direita contra o governo da Venezuela”, afirmou.

A distorção da realidade presente no discurso da petista não poderia ser mais completa. “Violenta ofensiva” quem tem promovido é justamente a ditadura bolivariana que levou a Venezuela aos caos econômico, social e político com seu “socialismo do século 21”. O país que tem “excesso de democracia”, nas palavras de Lula, mantém presos políticos, incluindo líderes oposicionistas; fez do Judiciário mero apêndice das vontades do ditador, negando a independência entre poderes; ignora as decisões do Legislativo, que tem maioria oposicionista graças à vontade popular expressa pelo voto; e reprime os protestos populares contra seu governo, fazendo cerca de uma centena de mortos desde o início das manifestações. Nem mesmo o arcebispo de Caracas escapou: coletivos armados bolivarianos mantiveram a ele e outras 400 pessoas “praticamente sequestradas”, em suas palavras, dentro da igreja onde o arcebispo havia acabado de celebrar missa.

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Em seu discurso no Foro de São Paulo, Gleisi ainda defendeu a Assembleia Constituinte convocada por Maduro e que pretende reescrever a Constituição para aumentar os poderes do ditador – aquilo que a petista chamou eufemisticamente de “consolidação cada vez maior da revolução bolivariana”. Além de decidir pela instalação da Constituinte de forma autoritária, sem realizar nenhuma consulta à população (a votação realizada no último dia 16 foi extraoficial), Maduro ainda criou um sistema de eleição que, na prática, viola o princípio da representação popular ao dar metade das cadeiras a representantes de entidades tradicionalmente aliadas do chavismo.

O apoio do PT a Nicolás Maduro é mais uma indicação da face profundamente antidemocrática da legenda, que exalta ditadores do passado e do presente e despreza o império das leis. O modelo petista é o de submeter as instituições à vontade do partido, que assim poderia mandar e desmandar, livre do incômodo sistema de freios e contrapesos. Os chefes petistas podem falar o quanto quiserem em democracia, mas, em suas ações, não se cansam de pisoteá-la.

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