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Na última quarta-feira, dia 25, o presidente de Israel, Reuven Rivlin, encarregou oficialmente o primeiro-ministro reeleito, Benjamin Netanyahu, de formar um novo gabinete. Ele tem 28 dias, extensíveis por outros 14, para montar o ministério e garantir maioria no Parlamento do país. A julgar pelo tom da campanha eleitoral, as perspectivas de paz entre israelenses e palestinos ainda continuarão diminutas.

O cenário eleitoral israelense é caracterizado por uma miríade de partidos políticos, o que torna a montagem de uma maioria parlamentar um quebra-cabeças complexo. Até porque, ao contrário do Brasil, com suas dezenas de legendas dispostas a vender seu apoio por qualquer cargo, a maioria dos partidos israelenses tem plataformas ideológicas muito bem definidas e posições firmes sobre uma série de temas, como o papel da religião judaica na vida pública e as negociações de paz com os palestinos.

O Likud, partido de Netanyahu, estava prestes a perder a maioria para a centro-esquerda israelense, chefiada por Yitzhak Herzog, líder do Partido Trabalhista. Ele contava com o apoio de Tzipi Livni, que até pouco tempo atrás era ministra da Justiça de Netanyahu, mas abandonou o governo no período eleitoral e é uma das maiores defensoras da solução de dois Estados. Diante da ameaça, o premiê apelou para os votos da direita ultranacionalista e adotou um discurso pouco conciliador em relação aos árabes. Em uma entrevista, Netanyahu chegou a dizer que “criar um Estado palestino hoje e retirar gente [colonos judeus] dessas terras” significaria “dar espaço para ataques do Islã radical contra Israel”. O repórter perguntou se isso queria dizer que não haveria Estado palestino enquanto Netanyahu estivesse no poder, e o primeiro-ministro respondeu afirmativamente. A estratégia funcionou: com as urnas abertas em 17 de março, o Likud conseguiu 30 cadeiras, mais que qualquer outro partido ou coalizão, o que lhe deu o direito de formar o gabinete. Ele precisa atrair outros partidos que somem mais 31 cadeiras para obter a maioria.

Cabe a Israel dar os passos mais decisivos se realmente há interesse em estabelecer uma paz duradoura

Em 2009, Netanyahu havia discursado na Universidade Bar-Ilan e defendido a criação de um Estado palestino. Durante seu governo, no entanto, pouco foi feito para avançar em uma conciliação – mesmo porque o Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007, não tem o menor interesse em assinar a paz com Israel e continuou sua campanha de lançamento de foguetes contra o território israelense, o que por sua vez gerou uma forte resposta militar de Israel. Em setembro do ano passado, mal havia conseguido se entender com o Hamas para encerrar a campanha em Gaza, Netanyahu anexou unilateralmente uma pequena área de 400 hectares na Cisjordânia, território administrado pela Autoridade Nacional Palestina.

Não se trata de questionar o direito de Israel à legítima defesa quando seu território é alvo de ataques terroristas, e parece inverossímil pensar que qualquer aspirante ao cargo de primeiro-ministro defendesse uma atitude passiva enquanto cidadãos israelenses são atacados. Mas cabe a Israel dar os passos mais decisivos se realmente há interesse em estabelecer uma paz duradoura. Os Estados Unidos, tradicionais aliados dos israelenses, vêm colocando mais pressão para que isso aconteça, e logo após a vitória eleitoral Netanyahu já amenizou seu discurso e voltou a falar no Estado palestino. O problema é que ele se reelegeu com os votos daqueles que não suportam nem mesmo pensar nessa solução, e talvez acabe precisando deles também para formar seu novo governo. Se isso ocorrer, será difícil sonhar com a paz nos próximos anos.

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