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A crise política – cujo complicador maior é o processo de impeachment em andamento na Câmara dos Deputados – e a inédita crise moral estampada no grande número de operações policiais e judiciais, das quais a Lava Jato é apenas a maior delas, são duas catástrofes sociais fabricadas internamente e que respondem por parte substancial do caos econômico que o Brasil vive. A essência maior da crise é o Produto Interno Bruto (PIB) terminar 2016 sendo 7,2% menor que o PIB de 2013, para uma população que terá crescido 5,4 milhões de habitantes nos últimos três anos.

Nenhuma ideologia e nenhum regime político são capazes de distribuir riquezas que o país não produziu – constatação que, apesar de simples, parece não ser entendida por boa parte da esquerda. O declínio do PIB enquanto a população aumenta provoca ampliação da distância negativa entre a renda por habitante hoje e aquela existente quando a recessão teve início. O Brasil terminará 2016 mais pobre do que era ao fim de 2013, medida a pobreza com base no PIB por habitante ou na renda per capita, que significam a mesma coisa. O aspecto trágico que atinge o Brasil neste momento vai além da queda do PIB. Uma coisa é a redução do produto por habitante em um país com PIB per capita de US$ 30 mil/ano. Bem mais grave é um processo equivalente em um país com menos de US$ 12 mil/ano de PIB per capita, como é o caso do Brasil.

Nenhuma ideologia e nenhum regime político são capazes de distribuir riquezas que o país não produziu

A primeira perda grave é o declínio do PIB no geral e o declínio no PIB por habitante, cuja recuperação não é fácil. Quando uma empresa reduz a produção, seja pela desativação de um turno diário de trabalho ou pela desativação de máquinas e equipamentos, a recuperação mais adiante é penosa. Muitas organizações, principalmente no setor industrial, não conseguem retomar o nível anterior de produção: algumas vão à falência (é o caso das fábricas endividadas que, em face da redução da produção e vendas, não conseguem sobreviver); outras simplesmente não têm capacidade de remontar os setores desativados durante a crise; e há aquelas que não conseguem recuperar o mercado perdido com seu próprio encolhimento.

A segunda perda relevante está na infraestrutura física que, no caso do Brasil, segue envelhecendo e ficando obsoleta do ponto de vista tecnológico. Esse mesmo processo da infraestrutura física ocorre, ainda que em menor escala, na infraestrutura empresarial – o chamado parque produtivo –, em razão da suspensão dos projetos de reposição e modernização de máquinas e equipamentos. No caso da indústria de transformação brasileira, a crise tem feito um estrago de alta proporção e fará que a estrutura produtiva nesse setor termine 2016 com menor produtividade (produto por hora de trabalho).

A terceira perda está no nível de emprego e nos salários médios recebidos pelos trabalhadores. Os sindicalistas esclarecidos têm demonstrado preocupação com o retorno de milhões de trabalhadores à classe D, sobretudo aqueles que haviam ascendido à classe C, e sabem que a solução desse problema está longe de vir por mera vontade de conceder reajustes salariais. Nos anos de bonança, o setor industrial concedeu reajustes salariais reais acima do crescimento da produtividade e diminuiu sua capacidade competitiva internacional. Desde a instalação da atual crise, os salários médios caíram, o desemprego aumentou e a recuperação não é uma simples volta ao passado.

Embora haja outras perdas relevantes, essas três bastam para mostrar o tamanho do problema que o Brasil vive e com o qual terá de lidar no futuro – seja quem for que vá governar o país.

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