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Futuros educadores passam pouco tempo em sala de aula, preparando-se para o ofício que vão abraçar. Falta prática na preparação de avaliações e exercícios. Isso explica muita coisa

O salário, a estrutura das escolas e os currículos são os vilões coroados da educação brasileira. Arrisca que qualquer criança de 6 ou 7 anos seja capaz de descrever cada um desses inimigos, como se narrasse sua saga preferida de super-heróis. Mas há mais bandidos em Gotham City. A formação dos professores – assunto tratado cheio de dedos – é o caso e merece uma história de ação e suspense só para ela.

A questão não é pão saído do forno. Sabe-se, a estatísticas tantas, do círculo do vício que ronda o ensino. Uma parcela significativa dos que abraçam o magistério – em particular no ensino fundamental e médio – veio de escolas ruins. Bingo: sim, eles reproduzem em sala de aula as deficiências de sua formação. Sim, o magistério se tornou uma carreira pouco atraente para os melhores alunos ou alunos oriundos das melhores escolas. Por tabela, permanecem abertas as 170 mil vagas para professores de Matemática, Física, Química e Biologia, áreas mais atingidas pela operação desmanche que vitimou a educação depois da década de 1950. São questões para arranca-rabos.

O repertório modesto, ou insuficiente, dos atuais professores não é o único problema. As licenciaturas, a seu modo, também colaboram para que o ensino seja ruim e o aluno não aprenda, acentuando uma situação a qual lhes caberia amenizar. Um dos motivos dessa ineficiência estaria na falta de prática didática nos cursos universitários. Estima-se que apenas 10% do currículo de um curso de Pedagogia, por exemplo, seja realizado em escolas de ensino fundamental e médio, espaço nos quais os futuros professores podem produzir exercícios e entender a dinâmica educacional.

Se comparada a países mais desenvolvidos, essa porcentagem se torna ultrajante, um flagrante de que estamos errando a mão. Vinga entre nós a tradição acadêmica – retórica, discursiva e esotérica – em detrimento, que ironia, da práxis, palavrinha mágica, repetida à exaustão, convite a teorizar fazendo e vice-versa. Em tempo – é bom considerar a própria resistência do ensino de crianças e jovens a afrouxar as rotinas, abrindo-se de fato aos estagiários do curso superior. Como de resto, no Brasil, não é fácil.

Nesse sentido, vale uma crítica ao modelo taylorista – e terrorista – que norteia os governos. Um professor precisa de tempo e investimento para produzir exercícios, criar jogos pedagógicos e melhorar a performance. Mas, como o ensino no país sofre de disparidades regionais crônicas, em muitas divisas os gestores insistem em não pagar os educadores pelo tempo dedicado à confecção de exercícios. É uma desconsideração. Leva muito mais horas preparar um exercício que uma aula, não raro repetição do lecionado em outros anos. E, por seu caráter lúdico e avaliativo, o exercício pode colaborar mais com a aprendizagem que uma exposição exaustiva. Mesmo assim, salário zero para quem cria jogos, elabora perguntas, desenha atividades.

Dados recentes divulgados pelo Ministério da Educação e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) traçaram um perfil do professor brasileiro. Os índices deveriam estar grudados nos espelhos e geladeiras dos tecnocratas da educação. Um total de 24% dos 2,1 milhões de professores brasileiros não cursaram faculdade. Entre esses, uma pá deles não chegou ao fim do ensino médio.

Melhoras? Sim, graças ao ensino remoto de Pedagogia, cuja oferta de vagas cresceu 45 vezes em uma década e aumentou sobremaneira o índice de professores graduados. A falta de prática educacional, contudo, permanece feito um abismo, reforçando que é preciso desejar melhoras ao ensino. E um remédio para seus males – já sabemos de que doença o sistema sofre. Não se trata de treino – trata-se de apresentar o futuro professor à escola. Nada mais natural.

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