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 | Gibran Mendes/PT/Divulgação
| Foto: Gibran Mendes/PT/Divulgação

Embora ainda não haja clareza sobre o que de fato ocorreu na madrugada de sábado (28), quando um homem abriu fogo contra o acampamento petista, ferindo duas pessoas em Curitiba, o ocorrido é preocupante e vem a somar-se a outros casos recentes de violência. Se a virulência na retórica, em que lamentavelmente lideranças e pré-candidatos à Presidência têm investido, já não convive bem com a democracia, atos de violência política que atentem contra a integridade física e a vida dos cidadãos devem ser rechaçados com veemência.

O que se sabe até agora, segundo o relato de testemunhas e um vídeo de câmeras de segurança, é que um homem teria passado pelo acampamento gritando impropérios, ao que os acampados responderam disparando rojões e atirando pedras contra seu carro. O indivíduo teria retornado ao local e efetuado os disparos. Por mais que se diga que se trata de um caso isolado perpetrado por radicais, não se pode esquecer que, há cerca de um mês atrás, a caravana do ex-presidente Lula (PT) foi alvejada no interior do Paraná e que, em 14 de março, o trágico homicídio de Marielle Franco, vereadora no Rio de Janeiro, veio a aumentar a cifra de lideranças políticas assassinadas no Brasil. Em que pesem as diferenças de circunstâncias nesses ocorridos, é difícil não enxergar no conjunto um agravamento inaceitável das tensões políticas no país.

É bom que se diga que o próprio Partido dos Trabalhadores alimenta esse discurso belicoso

É certo que se deve esperar das autoridades policiais uma investigação diligente nesses casos, mas, quanto mais se demora a solucioná-los, mais se alimenta o delírio de certos setores que, a fim de tirar dividendos políticos da retórica do medo, insistem na tese estapafúrdia de que o Brasil vive uma guerra e um estado de exceção.

É bom que se diga que o próprio Partido dos Trabalhadores alimenta esse discurso belicoso. Em reação ao último ocorrido, a senadora Gleisi Hoffman (PT), presidente do partido, culpou a operação Lava Jato e o juiz Sergio Moro. Em janeiro, a mesma Gleisi Hoffman já havia dito que “para prender o Lula, vai ter que prender muita gente, mas, mais do que isso, vai ter que matar gente. Aí, vai ter que matar”. Tampouco se esquece do caso gravíssimo de lideranças petistas que agrediram o empresário Carlos Alberto Betton, que bateu com a cabeça em um caminhão. O ex-vereador de Diadema Manoel Eduardo Marinho e seu filho foram indiciados por lesão corporal dolosa pelo ocorrido.

Opinião da Gazeta: A democracia fraturada (editorial de 02 de julho de 2017)

Todos esses casos revelam nos envolvidos uma profunda incapacidade para a convivência democrática. A atividade política, nas democracias, requer que se enxergue os campos concorrentes como adversários a ser tratados com lealdade, não como inimigos que devem ser eliminados. A vida em comum exige que entendamos opiniões e interesses diferentes como elementos para se construir, por meio do diálogo e da razão, e com paciência, o bem comum de toda a sociedade. Não há sociedade saudável sem um profundo respeito pela dignidade humana, que repele a retórica odienta e, muito mais, as vias de fato da violência.

Opinião da Gazeta: Violência e vingança (editorial de 31 de março de 2018)

Há tempos demais a sociedade brasileira vem normalizando o discurso do “nós contra eles”, da luta e da resistência como se em guerra estivéssemos e de certas posições políticas como se doenças fossem. As autoridades farão bem em identificar com presteza os radicais de todos os espectros políticos que porventura tenham cometido crimes e processá-los na forma da lei, até para que a impunidade não incentive a repetição desses atos. Mas é urgente que as lideranças políticas assumam a responsabilidade de moderar a retórica e rejeitar a violência, que esgarça o tecido social, mina a confiança e depaupera ainda mais nossa cultura democrática.

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