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O atual nível da recessão econômica fez o desemprego atingir a elevada marca de 11,4 milhões de pessoas desocupadas, jogou na ociosidade expressiva parte da capacidade produtiva e desestimulou os investimentos produtivos. Esse quadro pode sugerir, à primeira vista, que basta haver aumento da demanda para a recuperação da produção e aumento da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Essa é a interpretação de alguns economistas e políticos do PT, os quais andam propondo elevação dos gastos do governo como meio de puxar o investimento e o consumo para fazer a economia crescer. Muitos acreditam que essa lógica simplista é o caminho para a recuperação, conforme foi divulgado em documentos do partido.

A ingenuidade dessa proposta reside em dois pontos essenciais. O primeiro é achar que basta haver aumento da demanda para que os investidores voltem rapidamente com seus projetos, façam expansão empresarial e invistam em novos negócios. Na prática, a coisa é mais complexa. A crise política, a crise econômica e a enxurrada de corrupção no sistema público criaram um ambiente de falta de confiança e levaram os investidores nacionais e estrangeiros a fugirem das decisões de investimento. Não basta haver demanda; é preciso haver clima político, jurídico, econômico e moral capaz de sinalizar a volta da estabilidade e estimular os investidores e os donos de empresa.

É ilusão achar que o governo pode gastar indefinidamente sem causar problemas graves

O segundo ponto é achar que o governo pode gastar indefinidamente sem causar problemas graves. O governo tem apenas duas fontes de recursos para pagar seus gastos: os tributos e os empréstimos. A terceira fonte seria a expansão monetária, algo inaceitável em razão de seu potencial inflacionário. Em relação à tributação, é pequeno o espaço para a elevação de tributos, pois a alta carga atual dificulta qualquer tentativa de aumentar o peso do governo sobre os contribuintes. Quanto à tomada de empréstimos novos pelo setor público, além de depender de fundos disponíveis nos bancos resultantes de depósitos das pessoas e das empresas, a dívida pública já atingiu níveis muito altos e precisa parar de crescer para não detonar nova crise.

A elevada dívida pública é responsável pela alta taxa de juros e, se o governo seguir aumentando a tomada de empréstimos, há risco de uma crise de crédito e explosão da taxa de juros. Registre-se que, somente neste ano, o déficit público primário (receitas menos despesas antes do pagamento dos juros da dívida) está orçado em R$ 170,5 bilhões, cifra gigantesca para o tamanho da economia brasileira. Tem sido um hábito entre políticos e economistas de esquerda a apresentação de propostas dissociadas da racionalidade e da crise financeira nas contas do governo.

O mercado internacional está melhorando, os preços das commodities exportadas pelo Brasil vêm subindo e abrindo a possibilidade de elevar o volume de dólares ingressados no país. Apesar desse dado favorável, a recuperação econômica interna deverá ser lenta, pois os demais fundamentos requeridos para o bom ambiente dos investimentos e dos negócios estão solapados pela tríplice crise econômica, jurídica e moral. De uma forma ou de outra, o impasse sobre o impeachment se resolverá nas próximas semanas e reduzirá a incerteza sobre o ambiente político e a governabilidade, além de definir que política será adotada, a depender de quem fique na Presidência da República. Em meio a esse panorama, a economia prenuncia recuperação lenta.

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