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 | Beto Barata/Presidência da República
| Foto: Beto Barata/Presidência da República

Sem querer, é claro, Eliseu Padilha deu a Michel Temer uma chance e tanto. O ministro-chefe da Casa Civil pediu afastamento para uma cirurgia, e adiou em algumas semanas o seu retorno, que deveria ocorrer na próxima segunda-feira, 6 de março. Se tiver a coragem necessária, o presidente deveria simplesmente agradecer a Padilha pelos serviços prestados na articulação política e já colocar no lugar um novo ministro que não apresente os fatores complicadores de Padilha – fatores esses que já existiam, mas ganharam nova dimensão nos últimos dias.

Padilha era o “Primo” na delação premiada de Claudio Melo Filho, executivo da Odebrecht que teve seu depoimento vazado tempos atrás. O ministro licenciado foi descrito como um dos principais nomes do PMDB, “a pessoa mais destacada desse grupo para falar com agentes privados e centralizar as arrecadações financeiras”, “verdadeiro preposto de Michel Temer” e que “concentra as arrecadações financeiras desse núcleo político do PMDB para posteriores repasses internos”. Padilha teria sido o intermediário de um pagamento milionário da Odebrecht ao PMDB, sendo responsável por receber parte do dinheiro. Essa revelação não abalou o status de Padilha no ministério, mas, nos últimos dias, o vazamento do depoimento de José Yunes – ex-assessor da Presidência citado na mesma delação – à Procuradoria-Geral da República e uma entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo mudaram as coisas. Em ambas as situações, Yunes disse ter servido como “mula involuntária” de Padilha.

Um ministério precisa ser formado por gente acima de qualquer suspeita

Não se trata de relativizar a presunção de inocência, mas simplesmente de constatar que um ministério precisa ser formado por gente acima de qualquer suspeita. Se voltar ao trabalho na Casa Civil, Padilha inevitavelmente gastará tempo demais se explicando e se defendendo, em vez de se concentrar no trabalho de articulação política essencial para o presidente Temer, que precisa de apoio para conseguir aprovar as reformas da Previdência e trabalhista, as primeiras de uma lista que pretende reativar a cambaleante economia brasileira. O Planalto terá de lidar não apenas com o fisiológico “centrão”, mas também com setores do próprio PMDB insatisfeitos com outras escolhas de Temer – basta lembrar da birra do vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho, que prometeu fazer oposição ao governo após a nomeação de um não mineiro (o paranaense Osmar Serraglio) para o Ministério da Justiça. Qualquer articulador terá trabalho em tempo integral para domar essas feras; não pode ter esqueletos no armário que apareçam frequentemente para lhe sugar a energia.

O desgaste de Padilha ainda tem o efeito de atingir o próprio Temer, visto como leniente com os amigos suspeitos de participar de esquemas de corrupção. O presidente até buscou se distanciar dessa imagem ao prometer que réus da Lava Jato não farão parte de seu ministério (apesar de manter na Esplanada um ministro do Turismo que responde no STF por outros crimes sem ligação com o petrolão), mas a verdade é que Temer poderia ter evitado esse tipo de situação logo que assumiu o governo. No entanto, preferiu deixar a lealdade política falar mais alto, dando cargos a Padilha, Moreira Franco, Romero Jucá e Geddel Vieira Lima, além de contar com Renan Calheiros para fazer avançar suas pautas no Senado. Não surpreende que a lama tenha respingado no Planalto.

A pauta de reformas de Michel Temer é importante para o país. E, para levá-la adiante, seu corpo auxiliar precisa ter não apenas capacidade técnica e de articulação política, mas também gozar de credibilidade moral. À medida que se aproximam votações importantes, o presidente tem a oportunidade de promover mudanças no primeiro escalão que ressaltem esse perfil. Ele só terá a ganhar com isso.

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