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 | Chris J. Ratcliffe/AFP
| Foto: Chris J. Ratcliffe/AFP

O terror atacou o Reino Unido pela terceira vez em menos de três meses. Em 22 de março, ocorreu o atentado na Ponte de Westminster, ao lado do Parlamento, em Londres, com cinco mortos. Exatos dois meses depois, um terrorista suicida matou 22 pessoas ao causar uma explosão na saída de um show da cantora Ariana Grande, em Manchester. Agora, três homens em uma van atropelarem dezenas de pessoas na Ponte de Londres, na capital britânica, e, depois de bater o veículo, entraram em bares e restaurantes do Borough Market, esfaqueando quem estivesse por perto antes de serem mortos pela polícia. O ataque do último dia 3 de junho matou pelo menos oito pessoas e ainda há dezenas de feridos, vários em estado grave.

Os três casos tiveram em comum o fato de os terroristas agirem movidos pelo radicalismo islâmico, seja como membros de grupos como o Estado Islâmico, seja como “lobos solitários” inspirados pelo discurso extremista. Um dos responsáveis pelo ataque na Ponte de Londres já havia até mesmo sido filmado com um grupo radical que pede a adoção da lei islâmica no Reino Unido.

Não há obrigação de aceitar ou tolerar extremismos que destruirão um país por dentro

Atos de terror como os que o Reino Unido vem presenciando provocam debates acalorados e o pedido por providências imediatas por parte dos governos nacionais. Os alvos mais óbvios são os imigrantes provenientes das recentes ondas de refugiados, mas não se pode ignorar o fato de que os terroristas de Londres e Manchester também incluem cidadãos britânicos, nascidos no país, ainda que descendentes de outros imigrantes. No fim, a questão migratória está inserida dentro de um contexto maior, que é o choque de culturas.

O fenômeno migratório é, em geral, uma fonte de riqueza para as nações que se dispõem a receber estrangeiros em busca de uma nova vida. Nações como os Estados Unidos se orgulham por serem melting pots – lugares em que cidadãos dos mais diversos lugares do mundo se encontram e trabalham juntos, movidos por objetivos comuns. A palavra-chave, aqui, é assimilação: o recém-chegado preserva suas manifestações culturais características, mas se esforça para compreender e fazer seus os valores que moldam a sociedade que o acolhe, apesar das adversidades que sempre envolvem uma mudança tão radical. Irlandeses e italianos que chegaram a Nova York no século 19, vítimas do preconceito anticatólico dos chamados “nativistas”, buscaram carreiras na polícia e no Corpo de Bombeiros não apenas por serem trabalhos perigosos que outros não queriam fazer, mas como maneira de mostrar aos demais que eles eram confiáveis.

Mas o que fazer quando determinado grupo se recusa a essa assimilação? Este é o dilema que tem dividido a Europa desde a onda de terrorismo mais recente, iniciada com o ataque à redação do Charlie Hebdo, em Paris, no início de 2015, e simultânea à crise dos refugiados. O islamismo radical recusa qualquer diálogo com a sociedade ocidental e seus valores; sua plataforma não é a coexistência pacífica, mas a dominação ou a aniquilação, com tudo o que ela implica: a humilhação da mulher, a total intolerância religiosa e a violência contra minorias como os homossexuais.

Opinião da Gazeta:Nice e o multiculturalismo (editorial de 16 de julho de 2015)

Leia também:O multiculturalismo como inimigo da civilização (artigo de Bruno Garschagen, publicado em 18 de janeiro de 2015)

Duas respostas já se mostraram totalmente equivocadas: uma é a do nacionalismo xenófobo, que pede o fechamento das fronteiras aos estrangeiros. Esse fenômeno já assumiu outros contornos, como a crítica aos “forasteiros que roubam empregos” dos locais, mas, com a ascensão do terrorismo, agora adota como alvo integrantes de grupos “perigosos” – seja pelo recorte de nacionalidade, seja pelo de religião –, em uma generalização que nega uma nova chance a muitos que dela realmente necessitam e àqueles que não compartilham de visões extremistas. A outra é a de um certo multiculturalismo que iguala todas as culturas e impede até mesmo a crítica a valores evidentemente equivocados, sob o argumento de que se trata de mera “forma de pensar” diferente e que merece respeito. Esse tipo de atitude impede o diálogo e incentiva a formação de guetos que, em casos extremos, chegam a abolir o ordenamento jurídico local para implantar leis e costumes que são seu oposto completo. A tolerância com essas situações é o caldo ideal para que o radicalismo brote dentro da Europa, sem a necessidade de que os extremistas venham de fora.

A necessária e sadia abertura à riqueza da imigração e da diversidade cultural e religiosa não inclui a obrigação de aceitar ou tolerar extremismos que destruirão um país por dentro. Encontrar a melhor forma de reforçar o compromisso intransigente com as liberdades democráticas e com a tolerância – valores que são, sim, superiores àqueles que propõem sua supressão – é a chave se a Europa quiser sobreviver.

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