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Fotos mostram Richa ao lado de Fanini em momentos de lazer, durante viagem ao exterior. | Reprodução/MP-PR/
Fotos mostram Richa ao lado de Fanini em momentos de lazer, durante viagem ao exterior.| Foto: Reprodução/MP-PR/

Principal delator da Operação Quadro Negro, o empresário Eduardo Lopes de Souza, dono da Valor Construtora, afirmou à Justiça que pelo menos R$ 12 milhões do total desviado de obras de escolas estaduais abasteceram campanhas eleitorais, em 2014. O dinheiro vivo teria sido repassado ao então diretor da Secretaria de Estado da Educação (Seed) Maurício Fanini, apontado nas investigações como amigo próximo do ex-governador Beto Richa (PSDB).

O detalhamento dos repasses ocorreu em audiência na 9.ª Vara Criminal de Curitiba, realizada na semana passada. O vídeo do depoimento foi divulgado na noite de segunda-feira (14) pela RPC TV.

Lopes de Souza afirma que, por meio do esquema investigado pela Quadro Negro, a Valor “levantou” pouco mais de R$ 14 milhões, dos quais R$ 12 milhões teriam sido repassados diretamente para Fanini abastecer campanhas eleitorais. “R$ 1 milhão, mais ou menos, a gente calculou que foi para atender a demandas da empresa [Valor]; R$ 1 milhão e pouco, que eu entreguei pros deputados. E o restante, tinha feito pro Fanini”, declarou.

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O delator ressalta que, entre esses repasses, estão “mesadas” de R$ 100 mil, que seriam destinadas a financiar as campanhas de Richa e do irmão e do filho do ex-governador, em 2018. “Na crise, eu estava atendendo tudo, inclusive os R$ 100 mil por mês, [pagos] a partir de 2015 pra campanha do Beto, do Pepe [Richa] e do Marcello [Richa].”

No mesmo depoimento, Lopes de Souza revela que temia por sua integridade física. “Naquele momento, eu estava atendendo tudo. Nem podia atender, mas estava atendendo. Aí, eu estou naquele momento que, se eu parar, eu vou morrer”, disse.

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Segundo o delator, Fanini deixou claro, no início do esquema, que os recursos desviados das escolas seriam destinados a financiamento político. Para isso, eles criariam um “pacote de obras” que seriam tocadas pela Valor.

“O Fanini disse: ‘Eduardo, vamos ganhar um pacote de obras, o máximo que conseguir. E vamos alimentar a campanha. Vai atendendo. Vai precisando de dinheiro, vai atendendo, vai atendendo. Depois a gente faz aditivo. Mas aí, você fala assim: Pô, Eduardo, mas se o Beto [Richa] perde, né? Essa é uma pergunta que todo mundo fez pra mim. Foi um jogo que a gente fez. Foi um jogo’”, relatou o empresário.

Repasses

De acordo com o depoimento, o dinheiro era repassado sempre em espécie e conforme a demanda apontada por Fanini. À medida que o amigo de Richa solicitava, o empresário tinha que fazer os repasses.

“Ele [Fanini] dizia assim: ‘Ó, preciso entregar R$ 500 mil. Eduardo, tem que fazer o troço pra amanhã. Se vire. Acabei de sair do Palácio [Iguaçu], entendeu?!”, disse o delator. “Traga R$ 500 mil, traga R$ 400 mil, traga... Entendeu?!”, completou, adiante.

Fanini está preso desde setembro do ano passado, acusado de lavagem de dinheiro. Nas investigações, constam fotos de viagens que o ex-diretor da Seed fez com Richa e as respectivas esposas ao exterior. Após passar um tempo detido no Complexo Médico-Penal, em Pinhais, e na sede da Polícia Federal de Curitiba, Fanini foi transferido a Brasília por questões de segurança. Nos bastidores, ele negocia para também se tornar um delator do esquema.

Outro lado

A defesa de Fanini disse que está impedida de comentar as declarações de Lopes de Souza, porque o caso tramita sob segredo de Justiça. À RPC TV, Beto Richa disse que “são falsas as informações prestadas por um criminoso confesso que não tem fundamentos ou provas”; e que determinou investigações quando soube das irregularidades. Marcello Richa afirmou que as acusações do delator são inverídicas e sem provas. Pepe Richa não foi localizado.

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