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Gustavo Fruet, ex-prefeito e ex-deputado federal | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Gustavo Fruet, ex-prefeito e ex-deputado federal| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Pouco mais de cinco meses depois de ter deixado o Palácio 29 de Março, o ex-prefeito Gustavo Fruet (PDT) começa, aos poucos, dar as caras novamente. No período em que ficou recluso – um “autoexílio”, como ele definiu –, o político evitava dar declarações públicas e mal se manifestava até pelas redes sociais. Após assimilar a derrota para Rafael Greca (PMN) e passar a limpo a própria gestão, o ex-prefeito está voltando à cena, já de olho nas próximas eleições.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Fruet adiantou que deve permanecer no PDT e que está muito próximo de Osmar Dias, provável candidato ao governo do estado. O ex-prefeito também disse que não subiria no mesmo palanque que o governador Beto Richa (PSDB) e fez críticas a Greca. Leia a íntegra da conversa, que é dividida em duas partes: a primeira sobre o cenário político atual e o futuro na política, e a segunda sobre o legado de sua gestão em Curitiba e a campanha de 2016.

Presente e futuro: os cenários políticos

Depois das eleições o senhor se recolheu. O que é que o senhor fez nesses meses? Como definiria esse período?

Foi de oxigenação. Foi importante. Foram 18 anos [de atividade pública] sem interrupção. Eu tive uma interrupção só entre deixar a Câmara dos Deputados e disputar a prefeitura. Mas tem sido um período bom. Primeiro, dá um olhar diferente, observando o cenário: o local, o estadual e o nacional. Segundo, recompor uma série de questões pessoais que a gente acaba deixando em segundo plano. Questões básicas. Eu estou pedalando mais, caminhando, almoçando, jantando e dormindo com horário, vendo cinema, filme, li muito, estou escrevendo bastante. Fiz a agenda da prefeitura, organizando essa memória. Apesar de a gente ter essa imagem extremamente negativa da política, eu nunca abandonei. Eu evitei dar declarações públicas. Essa é uma das primeiras entrevistas – antes eu falei com o José Carlos [Fernandes, colunista da Gazeta do Povo] – e tenho participado de eventos político-partidários. Comecei a me reunir com grupos, a participar de palestras, já visitei 25 municípios. Então, eu estou começando a me movimentar.

José Carlos Fernandes: o autoexílio de Gustavo Fruet

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O senhor está baseado em Curitiba?

Eu ‘tô’ em Curitiba. Reabri o escritório na Rua [Desembargador] Westphalen, no Edifício Colombo, onde sempre tive escritório. Então, tenho ido lá todo dia de manhã. Virou um novo ponto de encontro. As pessoas começam a procurar, e pelo cenário de crise, percebo que há uma carência [de lideranças]. Todo mundo procurando saber qual vai ser o caminho, o que vai acontecer, quais serão os próximos passos.

Depois desse período de reflexão, dá pra entender que o Gustavo Fruet vai sair da toca, vamos dizer assim?

Podemos dizer assim. É uma boa definição. Não que eu tenha me enfurnado, me entocado, né, mas foi um autoexílio: ficar um pouco mais quieto e absorver um pouco do que aconteceu e do que está acontecendo, até com relação à eleição e da minha gestão.

Enquanto prefeito, o senhor assinou aquele documento, se manifestando contrariamente ao pedido de impeachment da então presidente Dilma...

É até interessante. Na época, na eleição, eu até expliquei isso. Eu não assinei aquele documento, tanto que eu não estava em Brasília naquela reunião. Enfim, esse é um assunto, pra mim, superado. Mas na época eu fui questionado, até na Gazeta, e eu expliquei. O que eu acho, de novo, é [que se tem que] aplicar o que está na Constituição. A Constituição foi pensada para a crise e ela estabelece as saídas. Senão, a gente vai ficar de casuísmo em casuísmo e isso nunca vai ter fim. Porque as pessoas falam, né, “o povo quer isso, o povo quer aquilo”. Como se mede isso o tempo inteiro?

Agora, sem o peso do cargo público, qual análise que o senhor faz? Foi golpe ou não foi golpe?

Não. Eu acho que tinha a Constituição, como está tendo agora. O impeachment é essencialmente político. O que eu acho que está havendo é que... o Brasil não é melhor ou pior nos costumes que nenhum país. Onde que dá a diferença institucional? (...) Só o Brasil, só o Brasil , entre os países ocidentais, teve dois momentos de impeachment. Nenhum outro país teve. Então vivemos, na democracia brasileira, uma instabilidade político-institucional. Agora, de novo, a gente vai ter que achar uma saída. (...) O que gera essa pressão hoje é “quem vai assumir o Brasil?”. É muito difícil achar um nome que faça essa transição até 2018.

Entre os cenários, qual o Gustavo Fruet acha “menos perigoso”?

Acho que agora abriu a possibilidade para o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] cassar a chapa completa [Dilma e Temer]. O Temer deu uma entrevista dizendo que não tinha a sociedade, não tinha a imprensa, mas tinha o Congresso. Na hora em que ele começa a perder o Congresso... O Congresso já está discutindo quais são as alternativas. Quem vai ser o fiel [da balança] aí? O PSDB. O PSDB, que pode se aliar ou ao PMDB, grupo do Temer, ou se aliar, num processo desse, ao grupo do PT. Agora, não é uma transição fácil.

O que gera essa pressão hoje é ‘quem vai assumir o Brasil?’ É muito difícil achar um nome que faça essa transição até 2018

Falando em política nacional, qual o preço que o senhor pagou por ter tido feito aliança com o PT? O senhor acha que teve algum peso na derrota da eleição municipal?

[O desgaste] foi maior agora, em 2016, do que em 2012. Nesta eleição [2016] eu não tive apoio do PT. Pelo contrário, o PT antecipou o rompimento e lançou candidato [Tadeu Veneri] e focou toda a eleição contra a gestão. Mas é contraditório, né? Hoje, mesmo, eu fui ao mercado e ainda hoje eu escuto isso na rua [críticas à aliança com o PT]. Isso vai marcar pra frente também.

No ano que vem tem eleições. E o senhor?

Eu ‘tô’ acompanhando muito o processo, tenho conversado bastante com o Osmar [Dias, do PDT]. O Osmar é candidato, eu quero estar com ele nesse processo. Eu acho que o próximo governo não vai ter facilidades. É evidente que também estou avaliando. Tem horas que estou determinado, animado [riso]. Meu pai [o ex-prefeito de Curitiba, Maurício Fruet] falava muito que “político sem mandato é como sino sem badalo”. É difícil não ter um espaço. Só ficar na rede social não dá. (...) Assim... já passou meu período sabático e eu ‘tô’ começando a ficar nervoso de novo [risos].

Se fosse para participar, qual cargo casaria melhor com seu período político?

Eu adorei o privilégio de ter sido do Executivo. Mesmo com a pressão, com o momento difícil, é algo realizador. É obvio o que vou dizer: o Legislativo é muito mais analítico, o que é bom, é importante. Mas a capacidade de direção do Executivo não tem comparação. Mas de qualquer maneira, se for para participar de eleição majoritária, vai depender da posição do Osmar e das alianças que vão ser construídas. Então, tudo que a gente falar hoje, eu não sei como vai ser daqui um ano.

O senhor continua no PDT, mesmo com essa aproximação do Osmar com o Beto [Richa (PSDB)]?

Sim. Ontem eu falei bastante com o Osmar, viu? E foi muito boa a conversa. A gente estabeleceu uma agenda de contatos aqui na Região Metropolitana [de Curitiba], conversei muito com ele sobre o que eu acho com a questão da educação, da saúde, do transporte. Foi uma conversa boa, assim, que a gente teve. Claro eu gosto muito e gostei, e acho que o momento vai ser desafiador, do Congresso Nacional. Tem essas variáveis. Por exemplo, essa questão do Alvaro [Dias, que pode ser candidato a presidência], pode haver um convite para o Osmar. Mas neste momento, não há cogitação de mudança partidária.

Mas o senhor subiria no mesmo palanque que o Beto Richa, por exemplo?

Não! [risos] Mas aí é o seguinte. É uma coisa que eu não posso sofrer por antecedência. Não sei qual vai ser o caminho dele [Richa], como é que vai ser, mas o fato é que independente da minha relação com ele, fecha o ciclo. Isso vai gerar uma nova acomodação nas forças políticas do Paraná.

O Senado está fora de questão?

Não, não. Evidentemente, depende das composições do ano que vem. Até porque são duas vagas para o Senado.

Meu pai falava muito que ‘político sem mandato é como sino sem badalo’. É difícil não ter um espaço

Circularam algumas fotos do senhor com membros do PMDB. Está havendo algum namoro, algo assim?

O [deputado estadual] Anibelli [Neto (PMDB)] é muito meu amigo [risos]. Há uma semana, dez dias, nós almoçamos juntos. Ele é vice-presidente do PMDB. Mas assim, o Anibelli é um grande amigo, tenho muitos amigos no PMDB, o Osmar deve estar tendo diálogo com setores do PMDB..., mas ele [Anibelli] divulgou [a foto do encontro], mas não houve esse propósito o evento, não.

Uma eventual mudança de partido prejudicaria sua imagem, criando aquela coisa do candidato que não tem vinculação. O senhor já trocou algumas vezes...

É, duas. PMDB, PSDB e PDT: duas mudanças. Mas, assim, eu não ‘tô’ cogitando isso [mudar de partido]. Abstraindo um pouco a minha situação. Eu acho que esse modelo partidário faliu, se esgotou. Eu não sei qual é o caminho novo. Vejo algumas pessoas, assim, até dizendo de partidos com imagens novas. Pelo que vi, são práticas iguais ou piores que as noticiadas agora. Acho que o que vai unir a sociedade mais do que nunca são ideias e lideranças. Mas, reitero, não tem como disputar eleições sem filiação partidária.

As delações recentes indicam que o caixa 2 é um crime quase institucionalizado. O senhor acha que é possível fazer uma campanha sem caixa 2?

Acho. Mas o problema não é nem o caixa 2, mas quem vai financiar a campanha. E porque existe o caixa 2? Como é que uma pessoa que queira me doar R$ 1 mil vai fazer um depósito no partido? Quem se dispõe a esse tipo de exposição? Então, no Brasil, hoje, são 200 grandes financiadores de campanha. No estado, não deve ser diferente: uns 80, 100 financiadores. Em Curitiba, uns 20 financiadores. Vende também uma ilusão de que só a doação de pessoa física vai gerar recursos para a campanha. Exemplo foi agora: eu vou ficar com uma dívida [de campanha] de mais de um ano.

O senhor defende o financiamento público de campanha, então?

Defendo. Tem que achar um caminho, o que é dolorido também.

As planilhas contabilização paralela apontaram que o senhor recebeu R$ 300 mil da Odebrecht. Na época, o senhor negou. Como o seu nome foi parar na lista?

Eu não estive negando. Eu tive o depósito via partido. Tinha uma planilha errada. Tanto que não foi objeto de inquérito. Mas defendo, como defendi, plena investigação. Mas nunca neguei que tinha origem esse recurso. O que me incomoda é saber dessa máquina que foi montada. Sem ingenuidade ou pureza o que eu vou te falar: tem muita gente que recebeu [dinheiro da Odebrecht] e, assim, pelo que eu conheço e conheci, não teve nada de corrupção; como tem gente que recebeu e que não apareceu ainda [risos].

Neste momento, não há cogitação de mudança partidária.

Em 2012, o Rodrigo Rocha Loures apoiou a sua candidatura aqui em Curitiba. Te surpreendeu essa...

Surpreendeu. É lamentável. É um desastre para a vida pessoal dele esse momento. Ele estabeleceu muito bom diálogo com diferentes setores no Paraná. Pra mim, foi uma surpresa.

O presidente Temer classificou o Rocha Loures como um rapaz de muito boa índole. Como o senhor classificaria?

Ele tem uma história, o que a gente chama de testemunha abonatória. Era uma imagem extremamente positiva. Ele ocupou algumas funções da vida pública só com imagem boa e, de repente, esse episódio virou esse turbilhão. Eu achei muito ruim, mas foi uma surpresa e lamento profundamente que ele tenha se envolvido nisso ou tenha sido envolvido nisso. Eu não sei qual vai ser a resposta dele e acho que muito do futuro do Temer vai depender do que ele falar agora.

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Henry Milleo/Gazeta do Povo

Passado: balanço da gestão e da campanha eleitoral

Como o senhor gostaria que sua administração fosse lembrada?

Com o tempo, [como uma gestão] séria, que ficou na contramão de denúncias. Curitiba foi a capital mais premiada das capitais brasileiras, com melhores resultados fiscais, com melhores resultados em educação, agora os dados divulgados de saúde também apontam a qualidade dos serviços, lembrando que nós ampliamos os serviços, não reduzimos - como agora foi fechada a UPA da Matriz.

E como acha que a gestão vai ficar lembrada?

Acho que é o tempo... Até, pra você ver como é a coisa do custo... [risos] Esses dias me ofereceram uma pesquisa qualitativa, pra ver o saldo da gestão: [a pesquisa custava] R$ 80 mil. Eu não fiz, né? [risos]. Eu fico na rua. É outro humor agora. Eu dou graças a Deus de poder caminhar, hoje fui almoçar no Mercado [Municipal], poder tomar um café, poder pedalar, eu não quero perder essa ligação com a cidade de Curitiba, com a população e o gesto de carinho. Claro que as pessoas me cobravam: “Ô, prefeito, precisa fazer isso, precisa fazer aquilo”. Mas, assim, sempre foi uma cobrança administrativa, que eu entendo. Nunca por desvio. Curitiba, apesar de todos os desafios, deu um salto. Deixamos ela numa situação fiscal no meio da maior crise do Brasil.

Tem alguma coisa que o senhor faria diferente se fosse hoje?

Ah, sim. Acho que sim [risos]

O quê, por exemplo?

Não, eu não vou contar [risos]. Mas é claro que tem que entender as circunstâncias também. É evidente que o tempo permite avaliação. Mas eu não fico remoendo. Eu entendo as circunstâncias. Eu não imaginava ser prefeito num cenário daqueles, acho que ninguém em 2012 imaginava que o brasil fosse entrar nessa crise. Eu fui prefeito na pior crise do Brasil. A gente conseguir fazer essa travessia foi uma vitória

No finalzinho da campanha, o senhor deu uma declaração de que seria inevitável subir a tarifa do transporte coletivo. O senhor acha que isso pode estar vinculado a sua derrota?

É verdade. Me perguntaram, eu assumi. Lembro até que foi na Gazeta. Eu falei: “olha, pelo contrato, será feito o aumento”. Não lembro exatamente qual foi a resposta, mas que ficaria nos limites da inflação. Só eu falei isso. Um candidato disse que ia reduzir a tarifa, e o outro que ia integrar com tarifa única já no primeiro dia de governo... Engraçado que eu não tive muito [apoio de] pesquisas. E eu recebi depois uma pesquisa qualitativa e vários grupos diziam o seguinte: “olha, a gente sabe que o que está sendo dito não é verdade, mas a gente quer acreditar”. Qual o preço da comunicação, no discurso, pra ganhar uma eleição, né?

O senhor se arrepende de algo que o senhor tenha dito?

Não, não [decidido]. Com isso eu ‘tô’ em paz. Eu sempre me referi a essa questão de recursos, do esgotamento desse modelo, a questão da situação fiscal do município, do transporte, que Curitiba criou o sistema mais caro do Brasil... só que a conta chegou, né? E, por coincidência, chegou na minha gestão.

É outro humor agora. Eu dou graças a Deus de poder caminhar [...] poder tomar um café, poder pedalar, eu não quero perder essa ligação com a cidade de Curitiba, com a população e o gesto de carinho

Quando o senhor foi eleito, uma de suas bandeiras era abrir a caixa-preta da Urbs. O mandato passou e o senhor não fez efetivamente isso. Por quê?

Não foi, não foi assim. São poucas as pessoas que, ao longo do mandato, se dedicam a estudar a tarifa. Uma coisa é você dizer que a tarifa tá cara, porque o preço do pneu não está sendo considerado, porque as empresas pagam o combustível mais barato e não houve a renovação da frota... O outra coisa é a discussão minuciosa deste processo. Se for fazer um histórico, em junho de 2013, eu recebi diversas comissões na prefeitura, abri o salão nobre da prefeitura, colocamos no site da prefeitura e da Urbs a cópia de todos os contratos, mas são poucas as pessoas que se dedicam a esse trabalho minucioso de acompanhamento. Essas informações são públicas, mas é um tema que tem uma força simbólica muito expressiva. (...) A gente avançou no sentido de não interromper [o serviço], mantivemos a integração física e a prefeitura sozinha manteve a integração com várias linhas da região metropolitana.

Pelo que o senhor viu, haveria motivos ou necessidade de refazer a licitação do transporte público?

Não, porque isso vai ter um custo e isso tem que ser avaliado na hora de se tomar uma decisão como essa. Eu posso, com tranquilidade, avaliar: o modelo, ele foi criado justamente sustentando pelas empresas existentes. (...) Em vários, países, o que eu tenho visto? Grandes empresas de capital aberto, o sistema tem algum subsídio do governo central e do governo estadual. Esse modelo que nós temos aqui, ele não vai se sustentar, se ele não tiver uma fonte de financiamento. E também não se sustenta [voltar] à estaca zero. Aqui em Curitiba, a gente encontra um debate técnico que deve ser levado, mas há resistência de alguns setores a projetos alternativos, como o metrô, o VLT, porque isso pode representar uma mudança de controle em relação ao modelo econômico que sustenta o modelo atual. Mas se for fazer uma nova licitação, rompendo a atual, isso vai ter um grande custo no futuro para Curitiba , porque é evidente que isso vai gerar indenização.

O episódio do subsídio [ao transporte coletivo], em que o governo estadual primeiro retirou e, agora, com a eleição do novo prefeito, voltou atrás e repassou novamente. Isso irritou o senhor em algum momento?

[risos] Até irritou. Acho que essa é a expressão, né? Eu me lembro que dedicamos algumas músicas [em sua página pessoal, no Facebook] a alguns personagens. [passando a ficar sério] Eu acho de uma pequenez de quem está na vida pública não ter a maturidade pra entender que o processo eleitoral é acirrado, então a gente vai para o extremo. Mas se a gente não tiver a maturidade pra superar isso, então não pode estar na vida pública. Eu perdi politicamente com isso. Mas quem que foi prejudicado? É o seu João e a dona Maria, que não tem vale-transporte e tem que pagar tarifa do bolso para trabalhar de diarista. E o sistema também, né? Porque isso gera um desequilíbrio. Mas o julgamento tem que ser da população. É uma coisa que tenho que absorver.

Uma das questões centrais da campanha foi a da assistência social. O prefeito eleito apontava que a cidade estaria tomada por mendigos, até que veio o episódio do “cheiro de pobre”. Que mudanças o senhor acha que houve na gestão da FAS?

Nenhuma. Pelo contrário. Ele diminuiu serviços. E está vendo que não se desconstrói uma estrutura só no discurso. Tentaram criar uma imagem negativa de Curitiba. Eu acho maldade. Eu não fiz isso nas campanhas. E de repente [o discurso de Greca] mudou, como se do dia 31 de dezembro para 1º da janeiro a cidade tivesse mudado de realidade. O que não há hoje – e nisso eles foram muito efetivos pela máquina de comunicação que criaram – é o processo de desqualificação da cidade e das políticas públicas. Mas fecharam serviços e é visível a distância dessa realidade social hoje.

Após as eleições, no início deste novo mandato, o senhor “apanhou” bastante, né?

Isso.

E ficou calado por muito tempo. Como foi esse período, em que a sua gestão era apontada como causadora de diversas crises que a atual gestão teria herdado?

Primeiro que, assim. O Greca, apesar de ser prefeito, ele falava muito mal do Luciano Ducci (PSB), falava muito mal do Beto Richa, falava muito mal do [Roberto] Requião (PMDB) e se aliou com todos. Ele perde um pouco de força e de credibilidade, quando ele manifesta, assim, até um grau de ódio em relação à gestão. Em segundo, acabou a lua-de-mel. Então, é uma estratégia que não funcionou, que deu errado pra ele. Ele tem que ser avaliado pela gestão e o que efetivamente está sendo feito. Terceiro, nada como o tempo para fazer uma avaliação e uma comparação. Tanto que a essência desse projeto [de ajuste fiscal] dele que tramita na Câmara não é o equilíbrio fiscal. Se ele conseguir aprovar todos os pacotes, [a prefeitura passa a] ter recursos R$ 600 milhões a R$ 900 milhões pra ele poder gastar de outra maneira. (...) Ele prometeu muito, mas não tem recurso novo. (...) Se isso for aprovado, ele vai transferir pras próximas duas ou três gestões o problema de Curitiba.

Mas se for fazer uma nova licitação [de ônibus], rompendo a atual, isso vai ter um grande custo no futuro para Curitiba , porque é evidente que isso vai gerar indenização

Qual foi a Curitiba que você entregou?

[Com] uma dívida menor que quando assumi. Considerando, ainda, que tivemos a maior queda de receita da história do país. O [ministro da Fazenda, Henrique] Meirelles falou, esses dias, que a crise de 2015 e 2016 foi pior que a Grande Depressão de 1930. Nós conseguimos manter os serviços, pagamos os projetos em andamento. Fomos a única sede da Copa que cumprimos com o PAC da Copa. Fizemos o maior corte de custeio, de R$ 1 bilhão. E deixamos uma situação em relação à receita corrente líquida melhor que quando eu assumi. Tanto que entrei com pedido de informação, com base na Lei da Transparência, sobre o saldo de todos os fundos da prefeitura, para verificar, com essas informações, se bate com o discurso que ele está adotando. Nunca neguei que havia uma crise e sempre afirmei que a prefeitura deveria pensar na manutenção dos serviços, ao invés de pensar em novos investimentos. (...) Estou pedindo esses fundos para mostrar a desonestidade das informações que estão sendo apresentadas.

Qual seria a saída?

Eu vou apontar isso em artigos [que está escrevendo e que pretende publicar em breve]. Algumas eu adotaria, outras não. Agora, é opção do prefeito. Eu fiz opção de manter serviços, principalmente saúde, educação e assistência social. Custa, custa caro. O que ele está tentando fazer? Diminuir a oferta desses serviços, fechar serviços, evitar novas contratações, como prometeu, evitar reajustes. E lei de reajustes é dele, de 1994. Ele que enviou projeto de lei para ter reajuste anual. Ele está mudando a lei dele. Ou houve demagogia ou mentira. A Câmara vai avaliar. Mas é uma decisão que vai transferir [o ônus dos reajustes dos servidores] para as próximas gestões.

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