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Ratinho é pré-candidato ao governo do Paraná. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Ratinho é pré-candidato ao governo do Paraná.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Secretário do Desenvolvimento Urbano do governo Beto Richa (PSDB) desde janeiro de 2013 ─ com uma curta interrupção para poder ser candidato em 2014 ─, Ratinho Jr. (PSD) deixa a pasta nesta segunda-feira (11). A partir de terça-feira (12), ele ocupará pela primeira vez a cadeira de deputado estadual no atual mandato, cargo para o qual foi o mais votado do Paraná, com 300 mil votos. O objetivo: estruturar a campanha ao governo do estado.

Para o pleito de outubro do ano que vem, Ratinho sabe que será cobrado pelo recente histórico ao lado de Richa. “Não tem como apagar o relacionamento que eu tive no governo. Fui secretário de Estado do governador”, reconheceu, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo. Ele, porém, disse acreditar que outras questões pesarão mais na decisão do eleitor do que os apoios que vier a receber. “A maneira que você vai se comportar perante à população, o teu histórico e o plano de governo que você apresentar vão ser muito mais importantes que qualquer outra pessoa que vai estar do teu lado.”

Citado na Operação Pecúlio como suposto beneficiário de propina oriunda de uma emenda apresentada ainda como deputado federal em 2013, Ratinho chamou o delator de “imbecil” e fez ressalvas ao instituto da delação premiada. “A delação é um instrumento importante, mas hoje se transformou num instrumento muito mais para mentiroso se safar das garras da Justiça, tentando jogar a culpa e a responsabilidade nas mãos de outros.” Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

Pela legislação eleitoral, o senhor teria até o final de março do ano que vem para deixar a Sedu e poder disputar o governo do estado. O que o levou a voltar agora à Assembleia?

A decisão de sair já estava sendo tomada em meados de abril, mas acabei protelando um pouco o prazo porque tinha alguns projetos aqui dentro que eu queria finalizar antes da minha saída. Então, a minha saída se dá pela necessidade de eu construir uma nova agenda, porque, na Sedu, ficaria apenas discutindo as questões da área de urbanismo. Neste momento, eu preciso ouvir os setores do estado: associações comerciais, agronegócio, representantes dos trabalhadores. Então, é necessário sair um pouco dessa pauta única de urbanismo e construir uma pauta com outros setores.

Além de buscar mais tempo para fazer essa pré-campanha, a saída da Sedu seria uma forma de descolar sua imagem do governador Beto Richa?

Como eu já disse, o motivo da decisão não foi esse. E não tem como apagar o relacionamento que eu tive no governo. Fui secretário de Estado do governador. Então, não tem como esse relacionamento ser apagado. O que tenho feito é buscar construir um projeto de futuro com o nosso grupo político.

O senhor é secretário do governo Richa desde janeiro de 2013 e a bancada PSD-PSC na Assembleia vota com o governo quase que integralmente. Diante disso, o senhor acha que seria natural o governador apoiá-lo na eleição do ano que vem? Esse assunto foi tratado com ele?

Não, isso nunca foi conversado, até para não o constranger, porque tem outras pessoas da base do governo que serão candidatos ou estão buscando ser. E eu acredito que as alianças acontecerão um pouco regionalmente, mas muito nacionalmente. Qual linha, por exemplo, o PSD vai tomar na candidatura a presidente? E assim os outros partidos. Portanto, muito das decisões regionais passa por Brasília. Isso só vai acontecer lá na frente mesmo.

Recentemente, o governador Beto Richa foi citado em pelo menos duas delações, no âmbito das operações Lava Jato e Quadro Negro. Qual a sua avaliação a respeito disso?

Quem está na vida pública está sujeito a ser fiscalizado e questionado. E acho que os órgãos fiscalizadores ─ Ministério Público, Tribunal de Contas, Polícia Federal ─ têm a obrigação de fazer esse papel. E nós temos que dar a oportunidade a quem está sendo acusado por algum motivo de se explicar, de se defender. Veja o Rodrigo Janot [procurador-geral da República]. Eu entendo e acredito que o Janot é um cara extremamente sério, e o braço direito dele estava em rolo. Agora imagina se fosse com um ministro de Estado, com um deputado o que aconteceu com o Janot. O cara estava execrado, apanhava em praça pública. Então, hoje esse julgamento antecipado é um risco. A gente sabe que a imprensa tem que vender jornal, tem que fazer barulho. Eu acho que a imprensa tem até um papel de fiscalização. Mas hoje estão colocando a honra de qualquer cidadão que tem uma história como se fosse lixo. Eu penso que tem de haver muita cautela em todo esse processo. Não é com Zé nem com Mané, é com todo mundo.

Em recebendo o apoio do governador Beto Richa em 2018, o quanto pode pesar na balança a estrutura da máquina do governo a seu favor...

A máquina não vai estar com ele.

Mas ele sairá candidato ao Senado e, portanto, renunciará ao governo?

Aí eu não sei. Nós só vamos saber em abril.

Mas falando hipoteticamente, o que pode pesar mais: o bônus da máquina para ajudar o senhor ou o ônus do desgaste da imagem do governador colado ao seu nome?

Em qualquer apoio ─ não estou falando de A ou B ─, você tem somas positivas e questões negativas. Eu também, se for apoiar alguém, possivelmente possa ajudar, mas também posso atrapalhar. Ninguém que está na vida pública tem 100% das pessoas que te adoram, nunca vai ter. É impossível você conseguir isso. E penso também que o apoio não é de uma pessoa, o apoio é de uma construção. E essa construção tem que ser feita nacionalmente. Eu vejo que o momento vai ser muito de posicionamento, em especial do projeto que você vai implantar para os próximos anos. E quem tiver um plano de governo extremamente planejado, organizado... essa é a minha preocupação, tenho me dedicado muito a isso. Porque nós sabemos onde queremos chegar. Não na questão eleitoral, mas no Paraná que queremos construir para os próximos anos. E estamos fazendo isso de uma forma muito planejada, porque quem não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve. E nós sabemos onde nós queremos chegar. Isso tem sido construído ao longo de um bom tempo. Hoje, a maneira que você vai se comportar perante à população, o teu histórico e o plano de governo que você apresentar vão ser muito mais importantes que qualquer outra pessoa que vai estar do teu lado.

Ninguém que está na vida pública tem 100% das pessoas que te adoram, nunca vai ter

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A sua candidatura ao governo do estado é irrevogável?

É muito difícil a gente falar que não pode haver qualquer tipo de mudança, porque nem eu sei se vou estar vivo lá frente. Espero estar e com saúde. Mas ela está muito consolidada. Deixou de ser uma candidatura só do Ratinho Jr., ela é uma candidatura de um projeto coletivo hoje. E passou a ser uma candidatura que está sendo apresentada para a população de uma maneira muito clara, transparente. Nunca fiquei fazendo joguinho de ir para o governo para depois ir para o Senado, ou ir para o Senado para depois ir para o governo, para depois negociar. Eu sempre tive uma posição muito clara. Se você pegar comício meu em 2002, eu falo: ‘Estou começando como deputado estadual e vou trabalhar para chegar ao governo do estado’. Então, é uma candidatura que está sendo construída há 15 anos.

O senhor tem conversando com outros pré-candidatos: Cida Borghetti, Osmar Dias, Roberto Requião?

Converso com todos. Eu não faço uma política destrutiva. Muito pelo contrário, eu mantenho uma boa relação com todos os atores políticos do estado. Acho que o Paraná perdeu muito tempo com esse perfil de política de não ter diálogo. Mas cada um tem o direito de ter o seu projeto, cada partido tem o direito de ter o seu projeto. E eles estão construindo o deles.

Mas lá na frente, pode haver um acordo entre alguns dos senhores?

Pode. Tudo pode ser acordado. Tem que ser conversado isso. Se eles entenderem que o nosso projeto é mais viável e melhor para o Paraná, vamos querer construir com eles sem problema nenhum.

Fora do governo a partir de agora, ainda ficou alguma aresta a ser aparada entre Richa e o senhor?

Eu já tinha falado da minha saída com o governador no primeiro semestre, que eu estava pensando em sair para construir minha agenda de pré-campanha. Foi tudo muito tranquilo, me posicionei que precisava organizar essa agenda, rodar o Paraná para discutir com a sociedade o que pensamos para o estado e também ouvir aquilo que as pessoas querem. Tudo foi bem maturado nesse sentido.

Já tinha falado da minha saída com o governador no primeiro semestre, que eu estava pensando em sair para construir minha agenda de pré-campanha. Foi tudo muito tranquilo

Mas no final do ano passado, o governador baixou um decreto retirando da Sedu a autonomia para firmar convênios com os municípios, no que foi considerado um esvaziamento da sua pasta.

Potencializaram demais o decreto, até porque ele não foi direcionado à nossa pasta. Várias secretarias precisaram centralizar uma série de decisões na Casa Civil. Foi uma decisão de governo, que entendeu que era necessário ficar mais a par do que estava acontecendo nas secretarias, inclusive em algumas decisões políticas. No nosso trabalho não mudou em nada, tanto é que o desempenho de liberações continua alto. No ano passado, 44% de tudo o que foi liberado pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN) para os municípios veio para o Paraná. E neste ano, já estamos em 35%.

Outro ruído que houve entre os senhores foi durante a eleição para prefeito de Curitiba, na qual Richa foi atacado duramente pelo candidato do seu partido, o deputado estadual Ney Leprevost. Isso foi esclarecido?

Foi passada a borracha em cima disso, até porque não teve nenhum problema. Isso demonstra bastante a nossa independência política. É bom registrar que eu não venho de nenhum grupo político. A minha trajetória política foi construída ao longo do meu trabalho, com algumas pessoas que foram ingressando nesse projeto. Eu não saí de um grupo político e comecei a ser candidato. Foi um início de carreira solo e nós fomos construindo um projeto de um novo grupo político no estado. E eu sempre deixei muito claro a minha maneira independente de ter esse posicionamento político. Demonstramos isso em Curitiba tendo candidato a prefeito contra outros partidos, inclusive do próprio governador; em Cascavel, onde tivemos nosso candidato e eles tiveram o deles. Isso é natural, porque partido político foi feito para se posicionar politicamente com candidaturas.

O senhor mesmo disse há pouco que não há como apagar sua relação com o governador. Quais erros e acertos o senhor considera que ele teve em quase sete anos no cargo?

Se você pegar os indicadores do passado, os números do estado são muito bons. Na saúde, você tem redução na mortalidade materno-infantil; o estado passou de 10.º lugar para 2.º do país no número de transplantes. Batemos todos os recordes da Sedu no volume de recursos liberados aos municípios, que é melhor maneira de transformar a vida das pessoas, por meio de obras que levem qualidade de vida a todos. Então, nos números gerais, o governo tem tido bons resultados. O maior exemplo é a questão fiscal do Paraná, que hoje é uma referência perante os demais estados, que estão com dificuldade até de pagar a folha de pessoal em alguns casos. A saúde financeira do estado está boa. Não está das melhores porque o país passa por dificuldades e tem buscado sair disso, mas eu vejo que os números são positivos.

O senhor citou especificamente a questão fiscal. Na época da votação do pacotaço, em 2015, o senhor disse que as medidas eram necessárias. Mantém essa posição?

Não tenha dúvida. Talvez com um outro perfil de articulação, mas que era necessário fazer era. Hoje, a comparação com outros estados é a prova disso.

E que avaliação o senhor faz do confronto entre servidores e policiais no dia 29 de abril daquele ano?

Todo mundo lamenta qualquer ato de violência. Aquilo foi um momento muito triste para o estado. Lamento profundamente como cidadão. Acredito que houve excesso dos dois lados. Serve de lição de que onde não há bom-senso não haverá bom resultado. Os professores e o governo deveriam ter se debruçado mais na mesa de negociações para tentar achar outras saídas, para não chegar naquela situação lamentável. Fica como exemplo para o futuro que, quando não se desarma, não há bom-senso nem vontade de se resolver, o resultado não é positivo. O radicalismo nunca é bom.

Voltando ao tema delação, há 20 dias o senhor foi ouvido pela Justiça, na condição de testemunha do ex-prefeito de Foz do Iguaçu Reni Pereira (PSB), no âmbito da Operação Pecúlio. Em uma das ações, o ex-secretário de Tecnologia da Informação de Foz Melquizedeque Souza disse que o senhor teria cobrado 10% de propina em cima de R$ 4 milhões de uma emenda apresentada em 2013, como deputado federal, para compra e implantação de câmeras de videomonitoramento na cidade. O senhor já negou esse fato. Por que o seu nome foi citado por ele?

Primeiro que eu não estou sendo investigado. Eu acho que a delação é um instrumento importante, desde que tenha uma série de regras. Hoje se transformou num instrumento muito mais para mentiroso se safar das garras da Justiça, tentando jogar a culpa e a responsabilidade nas mãos de outros. A licitação não aconteceu e um ponto importante: esse cidadão fala na delação que ouviu dizer que o Ratinho Jr. tinha qualquer tipo de problema naquela emenda. Ouviu dizer. Ele não me conhece, nunca me vi, não sei quem é e ele também não sabe quem eu sou. E outra mentira que ele coloca na delação: que tem uma obra, que eu teria liberado como secretário, para fazer uma avenida, que também teria fraude. Mandei fiscalizar. A obra é do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal], nem é nossa. Então, ele mentiu. Ele está tentando se safar. Ele é um imbecil na minha opinião.

Pelo que o senhor está dizendo, ele pode ter tentando envolver alguém maior no esquema?

Eu acho. É natural, eles tentam fazer isso. Em alguns casos as delações são sérias, mas essa ─ pelo menos no que está acontecendo em relação ao meu nome ─ é fraude. Só para você ter uma ideia: passou por mim aqui R$ 1,7 bilhão. Eu estou finalizando o meu ciclo na Sedu com 3,2 mil licitações, 70% obras e 30% maquinário. Nenhuma questionada pelo Ministério Público e nem pelo Tribunal de Contas. Na minha história como deputado estadual e principalmente como federal, porque tem mais emendas, nunca tive uma emenda questionada. Então, é um pouco estranho no momento em que eu me coloco como pré-candidato a governador começar a sair isso. Mas eu também estou preparado. Faz parte do show, do meio político, da maldade da política mentirosa, antiga, e a gente tem que enfrentar isso.

O senhor está há mais de quatro anos na Sedu e se fala muito que, graças a isso, conseguiu construir uma rede de contato com prefeitos, inclusive levando muitos deles para PSD e PSC. Esse é o seu principal trunfo para 2018?

Não, porque essa relação com prefeitos eu sempre tive. Acredito que a Sedu me deu a oportunidade de trazer um modelo de gestão privada para a gestão pública. Nós demos uma velocidade para vencer as burocracias que todo órgão público tem. Por exemplo, quando nós entramos aqui, o prazo médio entre o prefeito apresentar um projeto e os recursos serem liberados era de oito meses. Hoje, o nosso prazo médio é de 35 dias. Há casos de até 7 dias.

O que travava os processos antes?

Demos muito treinamento à nossa equipe, mandamos muita gente para a Secretaria do Tesouro Nacional, trouxemos muita gente deles para cá. Fizemos muita parceria com a Fomento Paraná, com sinergia, reuniões. Desgastamos essas etapas burocráticas para liberação de recursos. Antes, o prefeito recebia o aval do dinheiro, mas não tinha o projeto. Agora, ele só pode chegar aqui quando já tiver o projeto pronto, com as certidões negativas organizadas. Então, demos uma velocidade e quebramos alguns protocolos que amarravam essas liberações, a ponto de hoje, quando um processo do Paraná chega na Secretaria do Tesouro Nacional, a aprovação é quase que automática.

Aproximar o poder público da iniciativa privada parece ser o principal mote da sua campanha para o ano que vem.

Primeiro é bom registrar que a gente tem de ter alguns órgãos que sejam pertencentes ao Estado. A Copel e a Sanepar são um patrimônio do Paraná, empresas referências para o Brasil e que a gente tem de manter assim, sempre melhorando e inovando. Mas eu penso que nós podemos implantar no poder público uma velocidade muito próxima daquela da iniciativa privada e também que podemos enxugar o máximo possível a máquina pública, porque há um teto de arrecadação. O Paraná não vai sair de R$ 60 bilhões para R$ 90 bilhões em um ano ou dois. Então, se não você não fizer uma gestão eficiente, com inovação e tecnologia, o Estado fica rastejando. Além disso, temos de buscar a iniciativa privada para ser parceira em algumas coisas. A minha geração passou muito tempo discutindo ideologia, enquanto o Brasil precisa de metodologia. Qual é o método, o que dá certo? Para dar certo, é preciso fazer uma parceria como a com o Hospital do Rocio, em Campo Largo, que tem R$ 300 milhões de investimento privado, é de um único dono e atende 94% via SUS. Ficaram discutindo muito esquerda e direita e esqueceram de discutir o que dá certo. Então, a minha função agora é buscar método: implantar o que dá certo. Nós vamos montar um estado de cooperação. O Paraná tem isso na sua genética, no seu DNA. O paranaense tem isso na sua vocação. E eu quero fazer isso no poder público. Nós vamos estender a mão para a iniciativa privada, para que gere riqueza, gere empregos. Nós vamos nos preocupar muito com isso.

Até 2012 sua trajetória foi no Legislativo e, desde então, o senhor está no Executivo, comandando a Sedu. Faltava essa experiência ao senhor para poder pleitear o cargo de governador?

Eu busquei me preparar para enfrentar o desafio de todos os cargos que eu assumi. Fui deputado estadual com 21 anos e já relatei a CPI da Copel, que investigou R$ 2,5 bilhões em fraudes. Naquela época, por meio da CPI, a Justiça colocou quatro ex-secretários de Estado na cadeia. Depois disso, me tornei deputado federal, fui vice-presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara, fui o líder de bancada mais jovem do Congresso. Estudei, me formei, me pós-graduei, busquei conhecer coisas que deram certo e errado no mundo. Fui à China, Taiwan (conhecendo o parque tecnológico), Egito (conhecendo o sistema de turismo), Peru, Cuba (conhecendo os sistemas de saúde e educação), Coreia (conhecendo o sistema de resíduos sólidos), Israel (conhecendo a tecnologia na área de segurança), boa parte da Europa. Enquanto estou na vida pública, busquei conhecer projetos inovadores e que pudessem ser adaptados no Brasil. Um exemplo é o projeto “Meu Campinho” − que a Alemanha fez em 2006 construindo 1,6 mil campos de futebol de grama sintética para o contraturno escolar das crianças ou mesmo para que elas tivessem uma prática saudável de esporte −, que hoje é um sucesso no Paraná e, infelizmente, não temos o volume de recursos necessários para implantar em todo o estado.

O senhor acredita que essa falta de experiência no Executivo foi determinante para a sua derrota na eleição para prefeito de Curitiba em 2012?

Era a primeira vez que eu estava me apresentando para um cargo Executivo. As pessoas talvez ainda não tivessem a segurança de que um cara jovem conseguiria fazer o trabalho à frente de uma prefeitura importante. Mas quebramos muito isso aqui na Sedu, mostrando nossa capacidade de gestão. Foi usado naquele momento um trabalho de medo na população por parte da equipe do Gustavo Fruet, em relação ao quesito experiência. Mas é uma mentira que idade seja sinônimo de experiência. Tanto é uma bobagem que ele provou que foi o pior prefeito de Curitiba dos últimos 30 anos. Foi medíocre a gestão dele. E ficou claro no nosso trabalho na Sedu que o que importa realmente é a capacidade de liderar um grupo, de montar bons quadros. Isso eu aprendi na iniciativa privada e tenho tranquilidade de fazer também na vida pública.

Há algum tempo, o senhor passou a adotar o nome Carlos Massa Ratinho Jr. Isso tem relação com a disputa ao governo?

Não, isso tem a ver com algum evento mais formal. Tanto que no rádio e nos meus eventos normais, é Ratinho Jr. Não tem como esconder isso. Nem quero e nem devo. É um baita orgulho ter herdado esse apelido do meu pai e que é pelo qual as pessoas me conhecem. Não tem como eu negar isso.

O quanto o seu pai te influencia na política?

Eu converso muito com ele sobre a questão das empresas. Ele tem muito mais espírito comercial do que visão política. Mas ele é um torcedor e obviamente que torce para que eu vá bem o máximo possível.

Ele não queria que o senhor entrasse na política, não é?

Nem ele nem ninguém da minha família. Eu entrei por vocação e até por gratidão. A história da minha família todo mundo conhece, porque se confunde com a maioria dos paranaenses. Meu pai saiu desempregado, deixou eu e minha mãe no interior, depois de dois anos que a gente veio ver ele e moramos de favor com uma tia. Então, a vida me deu oportunidades que nós não esperávamos ter: construir um grupo empresarial, gerar empregos. Por isso, vi na política uma oportunidade de dar uma contribuição. Eu não quero fazer da política minha profissão. Eu quero contribuir por um período e depois regressar à minha vida particular, na iniciativa privada. Mas, neste período, eu me sinto capaz e acho que é até uma obrigação da minha geração de representar isso. O país passa por um colapso político, os políticos têm a necessidade de fazer uma reciclagem. O mundo mudou, a comunicação mudou, mas os políticos brasileiros não mudaram. Então, me vejo na obrigação com a minha geração e a dos meus filhos de poder implantar uma política que possa ser o diferencial e vejo uma oportunidade de fazer isso.

Meu pai saiu desempregado, deixou eu e minha mãe no interior, depois de dois anos que a gente veio ver ele e moramos de favor com uma tia. Então, a vida me deu oportunidades que nós não esperávamos ter

O senhor disse que não quer fazer da política profissão. Mas está na vida pública há 15 anos consecutivos, desde quando tinha apenas 21 anos de idade. Não há o risco de a sua imagem do novo na política se tornar a imagem de mais um político profissional?

Não, porque a gente veio construindo um projeto. Ninguém se elege num dia e se torna prefeito de uma capital, governador no outro. Isso é uma construção. A política é uma relação de confiança do homem público com o cidadão. Isso só se faz ao longo de um período, de um trabalho de relacionamento. Você vai sendo colocado à prova a todo momento. E não é num período curto, mas numa construção. Para gente chegar num tamanho de hoje ter uma bancada forte, ter um volume de prefeitos, isso foi trabalhado. Quando eu entrei no PSC, o partido tinha 30 vereadores, 1 prefeito. Isso foi construído eleição após eleição. Vejo que estou maduro o suficiente para apresentar um projeto importante e inovador para o estado, uma política moderna e já com a experiência de quatro mandatos.

Como responsável pela Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) no âmbito da Sedu, um tema pelo qual certamente o senhor será cobrado na campanha envolve a desintegração da Rede Integrada de Transportes (RIT) da Grande Curitiba. Divergências políticas da época, em 2015, entre prefeitura e governo do estado não poderiam ter sido evitadas para que milhares de pessoas não acabassem prejudicadas como ocorreu?

Isso ocorreu por causa da prefeitura de Curitiba. Historicamente, por várias gestões, Curitiba sempre falou que o peso maior do transporte público era a região metropolitana. Só que ninguém tinha um dado científico que demonstrasse isso. Então, por licitação, nós contratamos a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da USP, por R$ 1,5 milhão, que fez 128 mil entrevistas de origem-destino. O resultado foi que quem encarecia o custo da RIT era Curitiba, e não a região metropolitana. Portanto, deveria haver uma divisão mais justa nesse processo. E a prefeitura de Curitiba não aceitou naquele momento e começou a criar uma série de subterfúgios para desintegrar a rede. Nós fizemos o máximo para que isso não acontecesse porque sabíamos que era um modelo de 23 anos e, mesmo com prós e contras, funcionava bem se comparado às outras capitais do Brasil. Infelizmente, resolveram romper unilateralmente o sistema. E isso nos deu a oportunidade de estruturar a Comec, já que, como a Urbs ficou cuidando de tudo por quase 25 anos, a Comec acabou sendo uma repartição de RH. Contratamos técnicos, trouxemos um sistema de bilhetagem transparente, que hoje é acompanhado pelo Ministério Público, Tribunal de Contas, governo do estado e as próprias empresas ─ coisa que não acontece em Curitiba historicamente, porque há uma dificuldade de fiscalização da bilhetagem eletrônica. Tudo isso com o acompanhamento do Ministério Público, que eu fiz questão de chamar para participar de todas as reuniões. Esse investimento de R$ 2 milhões da bilhetagem, por exemplo, eu exigi que os próprios concessionários fizessem. Não teve dinheiro público. Inclusive, na época, eu queria fazer a licitação das empresas da região metropolitana para estar em conformidade com a lei, mas o próprio Ministério Público entendeu que não era o momento, que era para esperar. E estamos aguardando um novo momento para fazer a licitação.

Mas é impossível não avaliar que prevaleceram questões políticas nesse tema, uma vez que, no dia seguinte à vitória do Rafael Greca (PMN) sobre o Gustavo Fruet (PDT) em Curitiba, o governador Beto Richa anunciou a reintegração do sistema e, também, a retomada do subsídio ao transporte público da capital.

Houve uma boa vontade da prefeitura. Quando uma das partes não quer negociar, não tem negociação. E a verdade é que na gestão passada não tinha negociação. Eu até não culpo o Gustavo [Fruet], eu acho que ele foi induzido a erro. O chefe da Urbs era muito incompetente e acabou levando essa incompetência à visão do Gustavo.

Que Paraná o senhor tem em mente para os próximos anos?

O Paraná pode ser o estado mais musculoso do Brasil. Não em questão financeira, porque não tem como você passar São Paulo, que é quase que um país, tem quase 30% das riquezas do Brasil. Mas eu vejo o Paraná com uma capacidade de infraestrutura e de mobilidade muito forte. A gente consegue estar no patamar de São Paulo e até de alguns países de primeiro mundo.

Qual a deficiência mais urgente a ser resolvida no estado?

Temos três deficiências importantes, que eu acho que nós temos de trabalhar com muito foco. A infraestrutura. A nossa matriz econômica é o agronegócio e é necessário dar uma resposta a curto prazo em poder oferecer uma infraestrutura para fazer com que essa riqueza possa ser exportada. Temos também uma busca a ser feita, com o setor produtivo e em especial com o meio acadêmico, dos desenvolvimentos regionais. Achar a vocação de cada região. Quando você acha essa vocação, fica muito mais fácil de achar políticas públicas que gerem riqueza para aquela região. Isso nós podemos fazer com o meio acadêmico, com as universidades estaduais espalhadas pelo Paraná, trazer as universidades privadas também para debater esse assunto e nos ajudar a achar soluções. O Estado pode ser o indutor isso. E ainda alguns bolsões de pobreza que o Paraná tem e que nós temos que eliminar. Um estado rico igual o Paraná não pode admitir ainda ter pessoas na miséria.

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