À direita, o secretário de Infraestrutura e Logística, José Richa Filho, ao centro o governador Beto Richa e à esquerda o diretor geral do DER-PR, Nelson Leal Júnior, ambos na comemoração dos 70 anos do órgão, em dezembro de 2016| Foto: Orlando Kissner/ANPr/Arquivo

A prisão do diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR), Nelson Leal Jr., caiu como uma bomba no Palácio Iguaçu. Aliado de Beto Richa (PSDB) desde a época da prefeitura de Curitiba, ele é subordinado ao irmão do governador e secretário de Estado de Infraestrutura, Pepe Richa. Ao comentar o assunto, integrantes do círculo de poder do tucano não escondem a preocupação com os desdobramentos do caso – na esfera policial e também eleitoral. Leal Jr. foi exonerado do cargo no final da tarde.

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Deflagrada no âmbito da Lava Jato nesta quinta-feira (22), a Operação Integração investiga casos de corrupção na concessão de rodovias federais no estado. Contra Leal Jr. pesam suspeitas de recebimento de dinheiro de forma ilícita de empresas ligadas ao pedágio. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), ele “firmou com as concessionárias inúmeros termo de ajuste sem amparo técnico em que foi acordada a retirada de obras e o incremento das tarifas”.

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Por ora, Leal Jr. está preso temporariamente por cinco dias, prorrogáveis por mais cinco. E o receio do Palácio Iguaçu é como isso vai respingar no governador. O atual diretor-geral do DER foi secretário de Obras em Curitiba quando Richa era vice-prefeito e se manteve na pasta quando o tucano assumiu a prefeitura. Na administração da capital, ele ainda foi assessor no gabinete do então prefeito Beto Richa e também na Secretaria de Governo.

Já com Richa no governo do estado, Leal Jr. assumiu o DER em 2013 – ele também integra o Conselho Fiscal da Copel. No órgão, onde tem salário de R$ 12,7 mil, ele responde a Pepe Richa, que, agora, vê sob risco as pretensões de se candidatar a deputado federal.

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Busca na Casa Civil

Alvo de mandado de busca e apreensão em seu local de trabalho na Casa Civil do governo do estado, Carlos Felisberto Nasser também tem um histórico político com Richa. Ele foi assessor no gabinete do prefeito de Curitiba de janeiro de 2005 a novembro de 2011 – já na gestão Luciano Ducci (PSB). Em fevereiro de 2013, Nasser foi nomeado na Casa Civil, onde atua na Coordenadoria de Assuntos Políticos e recebe salário de R$ 9,7 mil.

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Aliados diretos do governador, no entanto, afirmam que a relevância política de Nasser é “zero” e que ele é um senhor de mais de 80 anos com câncer. Até por isso, não haveria preocupação de Richa em relação ao envolvimento do assessor palaciano na Lava Jato, a quem o Executivo se referiu como ocupante de um “cargo de terceiro escalão, sem qualquer vínculo com o gabinete do governador”. Ele também foi exonerado da função de assessor.

Outro lado

A defesa de Nelson Leal Júnior disse que está estudando o caso, mas já adiantou que o cliente tem total disponibilidade de prestar todos os esclarecimentos. “Tanto é verdade que mesmo sem a presença de advogados, tão logo o procurador chegou a residência dele, ele prestou depoimento, abdicando da presença de advogado”, informou o advogado Beno Brandão.

A reportagem não conseguiu contato com Carlos Nasser ou seus advogados.

Em nota, a Secretaria de Estado da Comunicação Social, do governo do Paraná, informou que já houve a instauração de “processo de investigação” para “esclarecimento de eventuais irregularidades apontadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal”. A investigação será conduzida pela Controladoria Geral do Estado.

“Tanto os contratos quanto os aditivos relacionados ao chamado Anel de Integração foram conduzidos pelo Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER), que é o poder concedente. E todos terminaram submetidos ao crivo da Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Infraestrutura do Paraná (Agepar), que homologou seus termos", continuou a nota do governo do Paraná.

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Em nota distribuída à imprensa nesta sexta-feira (23), a Triunfo Participações e Investimentos diz que sempre contribuiu de “forma transparente” com todas as autoridades e que está à disposição para esclarecer os fatos apurados pela Operação Integração e que, por ter capital aberto (ações negociadas na bolsa) os seus resultados financeiros – e de suas controladas – são públicos e auditados.

A companhia disse que tem administração distinta da Construtora Triunfo S.A. e que Triunfo, Econorte e Rio Tibagi não contrataram os serviços de Adir Assad ou do ex-diretor do DER Nelson Leal Junior. A Triunfo Participações informa ainda que contratou os serviços de Carlos Felisberto Nasser, em assessoria financeira e mercado de capitais, em 2013, quando ele não era assessor da Casa Civil. E que prestou todos os esclarecimentos sobre a contratação do escritório de Rodrigo Tacla Duran e seus subcontratados.

A empresa alega ainda que a Econorte cumpriu 100% dos investimentos previstos no contrato de concessão. E que do total arrecadado com pedágio desde o início da cobrança, 56% foram para investimentos e só 14% se converteram em lucro. Para explicar o aumento da tarifa via aditivos, a Triunfo Participações e Investimentos diz que ele se deveu a uma redução unilateral dos valores cobrados em 50% no primeiro ano de concessão, além de “atraso no reajuste de pedágio conforme previsto no contrato de concessão; isenção de pedágio para mais de 20 mil usuários nas praças de pedágio (lei dos caminhoneiros e outros)”.