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Agronegócio ajudou - e muito - os resultados positivos da economia brasileira no início de 2017 | Lineu Filho/Gazeta do Povo
Agronegócio ajudou - e muito - os resultados positivos da economia brasileira no início de 2017| Foto: Lineu Filho/Gazeta do Povo

A economia brasileira conseguiu se desvencilhar da crise política? Há indícios de que sim, mas a resposta não é tão simples. Se por um lado os mercados estão menos suscetíveis aos humores de Brasília, por outro a melhoria de alguns indicadores econômicos ainda não está consolidada e uma reforma importante como a da Previdência pode não sair. A Gazeta do Povo conversou com economistas que explicam as perspectivas da economia brasileira – e porque não há uma resposta definitiva para essa questão.

A economia descolada

Enquanto o Brasil ainda dava os primeiros passos para deixar a recessão, um novo escândalo político assustou os mercados: foi em maio, com as delações bombásticas da JBS, que colocaram o presidente Michel Temer no olho do furacão – e as revelações tiveram tanto peso que ele está sendo acusado de corrupção passiva. O dia da divulgação dos áudios foi caótico: a Bovespa caiu tanto que foi preciso acionar o “circuit breaker”, para paralisar as negociações no auge da queda, e o dólar disparou. No dia seguinte, os mercados já tinham digerido as gravações contra Temer e seguiram em frente com ares de normalidade.

O economista Eduardo Giannetti falou que, apesar de um dia de pânico dos mercados, logo ficou claro que a economia brasileira tem resiliência para absorver a incerteza política sem danos profundos. “As perspectivas hoje não são tão favoráveis quanto eram antes do escândalo, mas ao mesmo tempo a economia mostrou uma capacidade de absorção no curto prazo, para evitar aquela situação de colapso e beira do precipício e queda livre, como chegamos a ter no final do governo Dilma”, avalia.

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O consultor econômico da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) Nicola Tingas também vê um descolamento da economia. Para ele, durante as várias crises que o país já teve, houve respostas diferentes na relação entre economia e política. “Hoje, há um consenso de que a economia precisa estar desatrelada da política, ainda que não seja indiferente”, pondera.

Na avaliação de Tingas, a sociedade brasileira chegou a um esgotamento tão profundo, principalmente por causa do cenário político, que isso cria uma ruptura em que não se tolera mais a continuidade dessa recessão. “Dentro dos cenários que se desenvolvem, você percebe que é a política que gira em torno da economia. Tem muito jogo político para rolar, vai ter volatilidade, mas tem a travessia para fazer e a economia precisa manter uma direção. E há vários sinais, não só de embalar a saída da recessão, como também de retomar o crescimento”, diz.

E quais os indícios de que a economia vai conseguir caminhar sozinha? A produção de automóveis aumentou, a supersafra agrícola ajudou no resultado do PIB do primeiro trimestre e o volume de exportações. Além disso, inflação controlada e redução na taxa de juros foram medidas importantes para dar um fôlego à economia.

A economia agarrada

Há quem seja mais cauteloso e veja a economia ainda agarrada ao cenário político. Patricia Krause, economista chefe para América Latina da Coface, lembra que a economia teve melhoria de indicadores, o que está atrelado à leve recuperação da recessão e também à página virada do impeachment de Dilma Rousseff (PT).

“A economia não consegue se descolar totalmente da política. Depois de um resultado surpreendente em maio, devemos ter queda em junho. Os dados de confiança já apontam para queda. A produção industrial cresceu, mas a capacidade instalada da indústria caiu e é o menor nível desde dezembro de 2016”, avalia.

Para ela, embora ainda se aposte em um crescimento de 0,4% no ano, as perspectivas estão piorando a cada semana. “Ainda está muito aberto por causa do cenário político. Crescemos no primeiro trimestre, mas no segundo trimestre não dá para garantir. Vai depender muito das reformas e da política em geral”, pondera.

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Os indícios de melhoria são todos de curto prazo, na opinião de Alvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais, corretora do Banco Modal. “Se você pegar um mês ou outro com produção industrial melhor, faturamento da indústria subindo, desemprego diminuindo...é uma visão de curto prazo que pode não se consolidar. O PIB do primeiro trimestre foi um ‘oba oba’, mas o do segundo trimestre deve ser negativo. Então, até teve uma pequena melhoria, mas muito baixa. A única coisa que realmente está bem é a taxa da inflação, que está em queda, e as contas externas, por conta das exportações crescente”, avalia.

Para ele, mesmo o lado bom tem uma conotação negativa: A inflação cai porque não tem demanda de consumo e a exportação em alta mostra que as empresas estão sendo obrigadas a ir para o mercado exterior porque não há força no mercado interno. A diferença desse momento na economia para o auge da crise, ainda no governo Dilma, é de que atualmente os mercados não têm muito para onde ir e já estão razoavelmente ajustados. Além disso, o andamento das reformas também é um fator de ânimo para a economia. “Se piorar mais o lado político, a economia vai ajustar para baixo, mas devagar. Se melhorar o lado político por alguma razão, os mercados mudam de patamar, tem uma precificação melhor”, analisa.

Bandeira alerta para outro risco: o de perdermos um bom momento do mercado externo, simplesmente por não estarmos captando os movimentos dos mercados no exterior, principalmente Europa e Estados Unidos, que estão em recuperação. “Não é momento ainda de cravar que saímos de recessão. Mas é razoavelmente difícil continuar, a não ser que piore muito. Mas você vai concordar comigo que ‘zero mais’ ou ‘zero menos’, dá tudo no mesmo: é só uma marca estatística que não resolve”, argumenta.

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