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 | Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas
| Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas

As incertezas na política e a crise econômica não foram capazes de deixar o brasileiro desanimado para viajar ao exterior e até ajudaram a aumentar os gastos com viagens e remessas de dinheiro para outros países. O brasileiro viajou mais entre janeiro e agosto deste ano do que no mesmo período de 2016.

Dados do Banco Central revelam que o gasto com viagens ao exterior está 35% maior neste ano, nos oito primeiros meses de 2017, passando de US$ 9,186 bilhões para US$ 12,429 bilhões. As remessas de recursos por pessoas físicas para o exterior acumulam a expressiva alta de 69,3% no ano, somando US$ 1,312 bilhão.

“Em 2017 houve uma leve recuperação no turismo. As pessoas começam a se planejar olhando o preço do dólar, se vale ou não a pena fazer a viagem agora. Quando você começa a ter mais estabilidade, as pessoas começam a olhar com outros olhos para uma viagem internacional. É uma experiência”, avalia Juvenal dos Santos, superintendente de varejo do Grupo Confidence, especializado em operações de câmbio.

As remessas financeiras (transferências de valores do Brasil para outros países com limite de US$ 100 mil) realizadas pela Confidence cresceram 51%, em volume financeiro, em agosto deste ano, em comparação ao mesmo mês do ano anterior. A demanda de venda de moedas estrangeiras expandiu 9% no volume financeiro, nas operações realizadas pela corretora, na mesma comparação.

Esse serviço é muito utilizado para manter intercambistas e viajantes em outros países, com uma grande quantidade de operações com valores menores, entre US$ 7 mil e US$ 8 mil. “Atribuo esse crescimento principalmente ao aumento da venda de pacotes de intercâmbio. O brasileiro, de classe média, entende que é um investimento no seu filho. Uma forma de garantir ao filho uma experiência internacional. Por mais que tenhamos passado por dificuldades econômicas, esse sonho não amainou. Continuou existindo e mesmo quando os negócios recuaram, o intercâmbio continuou crescendo”, afirmou o executivo.

Essa classe média está se sentindo mais segura neste ano para fazer viagens. “O brasileiro está muito ligado nesse humor econômico, no preço da moeda. No ano passado, tivemos picos bastante importantes da moeda, frente ao dólar, que agora já recuaram. Isso começa a dar às pessoas essa coragem de fazer viagem. 2017 tem sido um ano bastante feliz nesse sentido. Agora, no segundo semestre, que é a alta temporada, esperamos um movimento expressivo de brasileiros viajando para fora”, disse Santos.

“Up” no currículo

Por outro lado, a crise política e econômica acabou ajudando algumas pessoas a finalmente colocarem em prática o sonho do intercâmbio ou de mandar os filhos para o exterior, como um investimento na carreira. “A falta de segurança e a instabilidade política e econômica têm levado muita gente a pensar em investir em intercâmbio. Quando temos uma reunião para entender as motivações que levam as pessoas a viajar, vejo muita gente decepcionada com a situação do Brasil. Querem ir para um lugar que isso não acontece”, afirma Andreia Ribeiro, consultora educacional da LoveUK, que representa universidades do Reino Unido no Brasil.

Buscando uma recolocação no mercado de trabalho e guardando dinheiro há vários anos para fazer um intercâmbio, a jornalista Sídia Ambrosio embarcou rumo a Cambridge (Inglaterra), em março deste ano, para cursar Inglês durante três meses. “Estava desempregada havia um ano. Aproveitei esse momento e investi em mim. Aproveitei a crise para me aprimorar. Estava adiando essa viagem”, contou.

Entre os brasileiros que encontrou em Cambridge, Sídia relata que a sensação de que o Brasil está enfrentando uma crise levou vários de seus colegas a buscarem uma vivência no exterior. “Quem tem cidadania europeia já pensa em não voltar mais para o Brasil. Querem fazer contatos, ver o mercado de lá. Se acharem, não voltam mais”, disse.

Para ela, não houve melhora na economia neste ano que justifique o aumento das viagens ao exterior, mas sim uma necessidade de investir em educação. “Não vejo melhora na economia. Vejo pessoas arriscando, ou que economizaram durante anos e agora fizeram essa viagem, muitos pais que aproveitaram o momento de crise no país para investir e dar um ‘up’ no currículo dos filhos”, avalia.

A crise brasileira não botou medo na assistente de produção de rádio Terezinha Patrícia Viana de Souza, que aos 63 anos decidiu realizar o sonho de viajar ao exterior. Ela passou sete meses em Dublin (Irlanda) e voltou ao Brasil em dezembro de 2016, usando economias e recursos do FGTS que havia recebido ao se aposentar.

“Minha mãe nasceu durante a primeira guerra e me dizia que crise vai acontecer sempre. Não devemos deixar de fazer algo por isso. Faça o que você quiser fazer. Estude, trabalhe, divirta-se. A crise existe. Mas a gente tem de seguir a vida. Senão não fazemos nada. Só repetimos o mantra ‘crise’”, concluiu.

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