• Carregando...
 | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Com dificuldades na negociação de sua delação premiada, o ex-deputado Eduardo Cunha abriu uma ofensiva contra o relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin. Ele acusa o ministro de obstruir pedidos de liberdade e beneficiar executivos da JBS.

Leia todas as matérias sobre a operação Lava Jato

Em nota escrita no complexo penal em que está preso, o peemedebista relata que Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS, pediram ajuda para aprovar o nome de Fachin para o STF, em 2015, e que disseram manter “relação de amizade” com o então candidato.

“Quando Joesley Batista e Ricardo Saud me procuraram para ajudar na aprovação [de] Fachin, além da relação de amizade que declararam ter com ele, me passaram a convicção de que o país iria ganhar com a atuação de um ministro que daria a assistência jurisdicional de que a sociedade necessitava.”

O ex-presidente da Câmara alega que Fachin concedeu “assistência célere e eficiente” aos donos da JBS, “que em apenas três dias conseguiram homologar um acordo vergonhoso, onde ficaram livres, impunes e ricos”.

Fachin já afirmou que não contou “com o auxílio de qualquer empresa ou grupo em seu processo de indicação” e que “qualquer insinuação neste sentido é inaceitável”. A JBS não comentou as declarações de Cunha na carta.

Na nota entregue a aliados na semana passada, o ex-deputado afirma que o ministro se recusa a pautar pedidos de habeas corpus da Lava Jato desde que a 2ª turma do STF decidiu libertar o ex-ministro José Dirceu, em maio.

Para Cunha, Fachin age “como uma criança que perde e leva a sua bola para casa, acabando com o jogo”.

Com poucas esperanças de obter os benefícios da delação, Cunha passou a apostar que o STF poderia tirá-lo da prisão, assim como ocorreu com Dirceu. Ele reclama, porém, que o relator não leva seus pedidos a julgamento.

“O que eu gostaria [...] é ter o direito ao julgamento e não ser vítima de uma obstrução da Justiça”, afirma.

Procurado pela reportagem, o gabinete de Fachin afirmou que Cunha já teve dois pedidos negados pelo relator da Lava Jato em decisões liminares e que apenas dois recursos aguardam julgamento.

A assessoria do ministro disse ainda que, entre maio e agosto, foram julgados na 2ª turma do STF mais de dez habeas corpus de relatoria de Fachin, e que o colegiado aprecia rotineiramente diversos temas sobre a operação.

O gabinete do juiz informou que tem 4.600 processos e mais de cem inquéritos, e “se pauta pela ordem jurídica, sem qualquer distinção”.

ESTRATÉGIA

Cunha decidiu adotar uma linha de ataque depois de ver frustrada sua tentativa de fechar um acordo de delação premiada, segundo pessoas próximas ao ex-deputado.

O ex-presidente da Câmara abriu negociações com a Procuradoria-Geral da República para delatar empresários e políticos, mas as tratativas foram suspensas devido à falta de consistência de seus relatos. Ele está preso desde outubro de 2016 e já foi condenado a 15 anos e quatro meses de reclusão pelo juiz Sérgio Moro.

No texto escrito da prisão, Cunha ironiza as possibilidades de apelo judicial e diz que recorrerá ao papa.

“Se até quem carregou a mala foi solto, por que continuo preso?”, pergunta, em referência a aliados do presidente Michel Temer e do senador Aécio Neves (PSDB).

O gabinete de Fachin afirma que recaem sobre Cunha outras ordens de prisão, “proferidas por juízos e instâncias diversos”.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]