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| Foto: Yuri Cortez/AFP

O ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso lançou uma espécie de “maldição” na semana passada ao comentar o esforço de pré-candidatos ao Palácio do Planalto em agradar o mercado financeiro. "O país não é composto de mercado só. Quem for o candidato de mercado vai perder [as eleições]", disse FHC, durante evento em São Paulo.

De fato, apesar de importantes para o futuro do país, propostas como privatizações, reformas estruturantes e novas medidas fiscais e tributárias não alcançam o coração da maior parte do eleitorado. Para a população de modo geral, o que mais importa são ações concretas para saúde e segurança. Soluções para essas áreas deverão dominar os debates eleitorais no segundo semestre.

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Pesquisa realizada em janeiro deste ano pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção de Crédito (SPC) aponta que 70,4% dos entrevistados priorizam na escolha de seu candidato alguém que vá realizar projetos de melhorias para a população na saúde, educação e obras de infraestrutura. Outras características mais valorizadas incluem ser uma pessoa próxima da população (28,6%) e alguém que não tenha tido contato com a política (12,5%). 

Se o mercado financeiro pede medidas de redução das despesas públicas, privatizações, reformas (como a da Previdência e a tributária), independência do Banco Central para a política monetária (definição dos juros e inflação dentro da meta), a população está preocupada mais é com a corrupção, saúde, educação, segurança e geração de empregos. 

Quase metade dos entrevistados (47,5%) afirma ser prioritário o combate à corrupção. O investimento em saúde é o segundo ponto mais importante (38,7%), seguido pelo investimento em educação (33,0%), em segurança pública (32,5%) e a geração de empregos (29,0%). 

Por enquanto, os candidatos têm tentado focar nas pautas econômicas. O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) apresentou o economista Paulo Guedes como seu mentor, enquanto o governador Geraldo Alckmin (PSDB) apontou Pérsio Arida, um dos criadores do Plano Real. 

A consultoria internacional Eurasia avalia, em relatório a seus clientes, que a apresentação de Arida reforça a postura pró-mercado do tucano, mas não melhora sua competitividade eleitoral. “Depois da confirmação de Arida, Alckmin e seu time vão provavelmente usar a mídia para testar questões de campanha, como a privatização da Petrobras e a autonomia do Banco Central”, apontam os analistas. “Entretanto, a apresentação de Arida não reduz as fraquezas de Alckmin”, afirmam. 

Já o pré-candidato e ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), vem se colocando como o nome ideal para a Presidência da República por ter vasta experiência no mercado financeiro e poder tocar reformas estruturais, como a da Previdência. 

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Mas mesmo Meirelles sabe que não são com os temas econômicos que o próximo presidente conseguirá se eleger. “Quem é candidato só do mercado tem apoio proporcionalmente pequeno. Mas a questão é que a importância do mercado não é o número de votos. Quem ganha eleição tem apoio de todas as classes sociais e de todo o Brasil", afirmou ele, em entrevista à Rádio Eldorado. 

O presidente Michel Temer (PMDB) – que também poderá ser candidato ou reforçar plataformas do governo para lançar um indicado seu à corrida eleitoral – iniciou 2018 tentando se descolar das pautas econômicas e abraçando pautas populares, como a segurança pública. Depois de passar 2016 e 2017 apontando melhoras na inflação e reformas econômicas como os maiores feitos do seu governo, Temer anunciou em fevereiro uma intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. 

A intervenção também é um acerto político, ajudando Temer a manter a base no Congresso mobilizada em torno de um assunto popular, e não algo sem apoio da população como a reforma da Previdência. Para a consultoria Eurasia, a intervenção vai ajudar o presidente a manter sua base mobilizada perto das eleições.

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