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Jair  Bolsonaro  (PSL) é réu em uma ação no STF em que responde por injúria e calúnia, e por incitação ao crime de estupro | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Jair  Bolsonaro (PSL) é réu em uma ação no STF em que responde por injúria e calúnia, e por incitação ao crime de estupro| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Sai o professor impaciente, entra o pré-candidato à Presidência da República, atento ao decoro que a posição exige. Foi o que prometeu Ciro Gomes (PDT) na segunda-feira (16), ao relembrar o encontro nada amistoso que teve com um blogueiro ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) no último dia 9.

Na ocasião, o presidenciável se estranhou com Arthur do Val, 31 anos, conhecido como “Mamãe Falei”. Marcada por provocações, a conversa terminou com Ciro chamando o blogueiro de bobão e batendo com a mão na nuca dele. Pelo vídeo, não há como mensurar a força aplicada pelo pré-candidato. “Tu acha que se eu tivesse batido, não tinha uma marquinha não? Do jeito que eu sou”, defendeu-se. “Eu falei: ‘deixa de ser um merda, rapaz, e saí de perto’”, explicou.

O estilo por vezes agressivo não é exclusividade do pedetista. A corrida pela Presidência deste ano conta com pelo menos outros dois pré-candidatos conhecidos pelo comportamento nem sempre adequado ao posto de concorrente ao cargo de presidente do país. O que pode sinalizar faíscas e farpas trocadas durante a campanha eleitoral.

“Palhaço” e “meu brother”

Pré-candidato pelo PSB, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa era visto na corte como o juiz linha-dura do mensalão – não à toa, ficou conhecido como o “xerifão” do processo.

Crítico e de língua afiada, em 2016, já aposentado da corte, Barbosa usou as redes sociais para classificar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) de “patético espetáculo” e “impeachment tabajara”, e comparou o presidente Michel Temer (MDB) aos “velhos caudilhos”. “De repente, forças políticas altamente conservadoras tomaram o Brasil. Tomaram tudo! Dominam o Congresso. Cercam o novo presidente (um político que pode ser comparado aos velhos ‘caudilhos’ latino-americanos).”

Em 2013, quando foi presidente do STF, Barbosa foi ríspido com um repórter do jornal O Estado de S.Paulo, na saída de uma sessão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ele havia sido criticado pela associação de juízes por ter concedido entrevista a jornais estrangeiros em que afirmava haver uma cultura pró-impunidade no Judiciário brasileiro.

Interrompendo a pergunta do jornalista, Barbosa disparou: “me deixa em paz, rapaz. Vá chafurdar no lixo como você faz sempre”. O repórter tentou continuar com a pergunta, mas ouviu do então presidente do STF: “não tenho nada a lhe dizer, não quero nem saber do que o senhor está tratando”. À porta do elevador, diante dos jornalistas que o aguardaram após a sessão, chamou o repórter de “palhaço”.

O incidente com o jornalista rendeu a Barbosa uma condenação, em segunda instância, no Distrito Federal.

Em 2012, se envolveu em outro problema com um profissional da imprensa, ao ser perguntado por um repórter negro se estava mais sereno, após os registros de faíscas trocadas com outros ministros do STF. “Logo você, meu brother?”, questionou o então ministro, dizendo que a pergunta estava baseada em “estereótipos” que “eles”, ou seja, repórteres brancos presentes, haviam sido educados e “comandados para levar adiante”.

Em abril de 2009, Barbosa protagonizou, com o ministro e à época presidente do STF, Gilmar Mendes, bate-boca quente durante uma sessão da corte que analisava recursos protocolados contra duas leis julgadas inconstitucionais pelo Supremo.

Ao ouvir de Mendes que não tinha condições de dar lição de moral em ninguém, Barbosa acusou o colega de corte de destruir a credibilidade do Judiciário brasileiro, e emendou: “Vossa excelência, quando se dirige a mim, não está falando com os seus capangas de Mato Grosso”.

Cartaz rasgado e defesa ao irmão

Em novembro de 2013, quando era secretário estadual de Saúde no Ceará, Ciro Gomes se viu frente a frente com um grupo de estudantes da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e da Universidade Regional do Cariri (Urca), que estavam em greve. O grupo aguardava o então secretário no aeroporto da cidade de Iguatu (384 km de Fortaleza).

Um vídeo que circulou à época mostrava Ciro tentando conversar com os manifestantes. Quando o bate-papo se transformou em troca de acusações, o agora pré-candidato tirou um cartaz da mão de um dos estudantes e, depois de rasgá-lo, deixou o local.

Três anos depois, Ciro enfrentou novamente um grupo de manifestantes, ao sair em defesa do irmão, o ex-ministro de Dilma e ex-governador do Ceará, Cid Gomes (PDT), em Fortaleza. O grupo protestava contra a possível nomeação do ex-presidente Lula (PT) à Casa Civil. Cid questionou, junto ao grupo, a gravação, divulgada em março de 2016, da conversa entre a então presidente e Lula.

Ao se envolver na discussão, Ciro, visivelmente irritado, mandou os manifestantes estudarem história e, ao responder a um dos participantes do protesto, xingou Lula. “O Lula não é inocente nada. O Lula é um m... e quando alguém é um m... a gente representa na polícia (...) Não vem de madrugada assustar uma pessoa indefesa porque vocês são covardes. Bando de fascistas. Pega teu caminho.”

Em nota, Ciro afirmou após o ocorrido que foi até os manifestantes para defender os direitos e a integridade do irmão.

“Cadáver político”

Em palestra na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) em outubro do ano passado, Ciro não se conteve ao falar sobre Marina Silva (Rede), rival na disputa pela presidência da República, dizendo que não via nela energia suficiente para a disputa e que o momento, para ele, “é muito de testosterona”.

Na mesma ocasião, ao falar sobre Aécio Neves, tornado réu no STF na última terça-feira (17), acusado de crimes de corrupção passiva e ativa, e obstrução de Justiça, disse que o tucano é um “cadáver político”.

Alguns meses antes, chamou o ex-prefeito de São Paulo e pré-candidato ao governo do estado paulista, João Doria (PSDB), de “farsante”. O tucano respondeu que o ex-governador do Ceará deveria se preocupar com sua saúde mental.

Em 2002, Ciro, que era candidato à presidência da República, causou constrangimento à então esposa, a atriz Patrícia Pillar. Questionado sobre o papel dela na corrida ao cargo de líder do executivo nacional, declarou que uma das funções mais importantes que ela desempenhava era dormir com ele: “A minha companheira tem um dos papéis mais importantes, que é dormir comigo. Dormir comigo é um papel fundamental”, disse.

Com Patrícia ao seu lado na ocasião, e ao perceber a gafe, o político afirmou aos jornalistas que o entrevistavam que estava brincando, e destacou habilidades da atriz no manejo de assuntos sociais, sua inteligência e sensibilidade.

Ficha corrida

O deputado federal e pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL) coleciona uma lista robusta de confusões. Ele é réu em uma ação no STF em que responde por injúria e calúnia, e por incitação ao crime de estupro, pelas ofensas dirigidas à colega de parlamento Maria do Rosário (PT-RS). Em dezembro de 2014, disse à deputada que não a estupraria “porque ela é muito feia” e que, por isso, “ela não merece ser estuprada”.

No último dia 12, Bolsonaro foi denunciado junto ao STF pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, por racismo praticado contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs. Segundo a denúncia, o presidenciável é acusado de, em uma palestra realizada em abril do ano passado no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, usar “expressões de cunho discriminatório, incitando o ódio e atingindo diretamente vários grupos sociais”.

Na palestra, Bolsonaro prometeu que, se eleito, pretende acabar com todas as reservas indígenas e comunidades quilombolas do país, além de encerrar o financiamento público para ONGs. “Pode ter certeza que se eu chegar lá (presidência da República) não vai ter dinheiro pra ONG. Se depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de fogo dentro de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola”, declarou. Ele defendeu que reservas indígenas e quilombolas atrapalham a economia. “Onde tem uma terra indígena, tem uma riqueza embaixo dela. Temos que mudar isso aí”, disse. “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gastado com eles.

Em almoço realizado no fim do mês passado em Curitiba, o deputado voltou às declarações inconsequentes ao defender o porte de armas, a ditadura militar e o fim do Ministério da Cultura. “Na próxima vez que eu vir para cá, quero ver, no mínimo, 200 armas com o pessoal”.

Elogio a torturador e cusparada

Durante as votações na Câmara pelo impeachment de Dilma Rousseff, Bolsonaro aproveitou seu voto para exaltar a memória do Coronel Carlos Brilhante Ustra, primeiro militar reconhecido pela Justiça como torturador e comandante de uma delegacia de polícia acusada de ser palco de mais de 40 assassinatos e ao menos 500 sessões de tortura.

“Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, o meu voto é sim”, declarou o deputado, que antes já havia citado o regime militar, ao dizer que a esquerda perdeu em 1964 - ano do golpe perpetrado pelos militares - e perdia novamente em 2016.

O episódio rendeu uma das confusões mais célebres envolvendo Bolsonaro, ao receber uma cusparada do deputado Jean Wyllys (Psol-RJ). Na ocasião, o parlamentar carioca justificou o ato ao dizer que teria sido ofendido pelo deputado quando se dirigia ao microfone do plenário para declarar seu voto.

A cusparada rendeu a Wyllys uma advertência por escrito, definida pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.

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