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 | Wilson Dias    /    Agência Brasil
| Foto: Wilson Dias / Agência Brasil

Ex-ministro do governo Lula, ex-conselheiro de empresas de Joesley Batista e agora possível candidato à Presidência da República em 2018 com o apoio de Michel Temer. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não esconde suas pretensões políticas e agora terá de superar o fogo amigo de seus oponentes. Ele também terá de corrigir um efeito colateral negativo de sua quase candidatura: técnicos reclamam que há um gargalo nos trabalhos do Ministério da Fazenda com maior atenção do ministro às reformas e ao cenário político. 

Dentro do governo, o foco total de Meirelles em aprovar a reforma da Previdência vem incomodando técnicos que dependem da articulação com a Fazenda para a concretização de projetos de suas pastas. O time de estrelas da economia que ocupa as secretarias do Ministério da Fazenda teria ficado sem direcionamento claro sobre as prioridades da pasta. 

A qualidade técnica da equipe de Meirelles é inconteste, mas há quem compare o time da Fazenda aos Galáticos do Real Madrid de 2003 a 2006, com grandes estrelas como Figo, Zidane, Beckham e Ronaldo, mas que não ganhou títulos. A reforma da Previdência seria o título da equipe de Meirelles (e seu principal legado na disputa política), e mesmo ela pode não sair do papel. 

Fora do governo, entidades que representam segmentos econômicos criticam pontualmente a atuação da Fazenda, em especial sobre temas que ainda dependem de regulamentação. Apesar disso, a visão é que de Meirelles continua com “carta branca” do mercado.

Para o cientista político André Cesar, da Hold Assessoria Legislativa, o atual governo não tem como permitir que Meirelles avance em outros temas que poderiam compor seu portfólio eleitoral. Além disso, o tempo é curto e Meirelles tem de trabalhar para construir sua imagem de candidato. 

“Ele vai usar nas eleições o discurso de que é reformista. Caso não consiga aprovar a reforma, Meirelles terá de mudar seu norte, apresentar a reforma da Previdência como sua pauta caso seja eleito presidente. Não há muito mais a oferecer, é essa a agenda que está posta”, avalia César. 

Atenção na eleição

Um desafio do ministro será dosar sua atuação ministerial com a política. Como ministro da Fazenda, Meirelles tem de defender pautas impopulares e que desagradam aos políticos, com corte de gastos e privatizações. Já o pré-candidato  gostaria de poder liberar recursos e não tratar de temas polêmicos, para agradar a aliados e garantir apoio. 

O ministro terá de encontrar um meio-termo até o período de formalização das campanhas, em março, o que pode justificar a lentidão na tomada de decisões pela Fazenda e até a indefinição sobre alguns temas. Até lá, os ataques direcionados a Meirelles podem resvalar na atuação do Ministério da Fazenda. 

Uma das relações que o ministro tem de gerenciar com cautela é com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e com os tucanos. Maia é uma peça importante no tabuleiro eleitoral do Palácio do Planalto nos próximos meses e o apoio do PSDB para as reformas e privatizações será essencial. Além disso, é com partidos como o DEM e o PSDB que o atual governo poderá fazer alianças de olho na eleição presidencial. 

“Costurar isso não será fácil. O centro-direita tem muitos nomes. Tem muita gente querendo espaço. Será uma eleição que vai parecer muito com a de 1989. E Meirelles é mais um, apesar do peso de estar na Fazenda, ele ainda terá de avançar”, analisa André César. 

Um exemplo disso é a proposta de privatização da Eletrobras, que pode trazer recursos para o Tesouro e para os acionistas da empresa e ainda devolver recursos para os consumidores da conta de luz, com diversos reflexos positivos – mas que tem oposição no Congresso. 

Depende da Fazenda o último aval para envio do projeto de reforma do setor elétrico ao Congresso (fundamental para a privatização da Eletrobras). O projeto deveria ter chegado no Congresso em novembro. O atraso da entrega do assunto ao Congresso também tem outro motivo: Rodrigo Maia assumiu responsabilidade pela tramitação da privatização na Câmara e se o Executivo forçar o ritmo, pode desagradar o presidente da Câmara. 

Com sua possível candidatura parecendo cada vez mais possível, o ministro terá de se cuidar dos ataques, avalia César. Como defesa, também é provável que projetos de interesse de oponentes de Meirelles encontrem dificuldades no governo e fiquem em banho-maria. “Vai ter fogo amigo. Sempre existe na política. Isso é provável, e se a candidatura dele realmente andar, ele sofrerá mais ataques contra projetos que ele defende”, disse o cientista político. 

Esforço para convencer o eleitor

O ministro e sua equipe de marketing vêm tentando colocar sua assinatura em dados econômicos positivos da gestão Temer, como a queda da inflação, a redução dos juros, a interrupção da queda do PIB, a geração de empregos. Meirelles sem dúvida é um dos capitães desse processo e pode colocar sua digital nesses indicadores, com a certeza de que os outros co-autores não têm pretensões eleitorais.

A atuação da Fazenda e da equipe de Meirelles concretizaram pelo menos duas pautas fundamentais para a virada econômica no pós-Dilma Rousseff, a PEC do Teto de Gastos e a criação da Taxa de Longo Prazo (TLP). Essas duas medidas foram importantes para a redução dos gastos públicos, com o cumprimento da meta de déficit fiscal, permitindo a ancoragem das expectativas dos investidores, por exemplo. 

Ao tentar construir sua imagem em torno das reformas e da economia, o ministro também corre o risco de entregar aos possíveis oponentes argumentos para atacá-lo. “A não retomada da economia também é importante. Se a economia não melhorar mais, os adversários de Meirelles vão usar isso contra ele na campanha”, avalia o cientista político. 

A Gazeta do Povo encaminhou ao Ministério da Fazenda questionamento sobre as principais ações da pasta na gestão Meirelles, sobre as próximas prioridades e ainda qual a visão da pasta e do ministro sobre os processos de privatização. Por questões de agenda, as perguntas não foram respondidas.

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