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| Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

A desistência do ex-ministro Joaquim Barbosa (PSB) de disputar a presidência da República deu um banho de água fria em uma faixa de cerca de 10% dos eleitores que buscam um outsider para votar nas eleições de outubro. A ânsia do brasileiro por um político “novo” para ocupar o principal cargo do país é confirmada em praticamente todas as pesquisas de intenção de votos já realizadas até agora. Mesmo assim, nenhum candidato que se enquadre na categoria de novidade consegue parar em pé na disputa.

Joaquim Barbosa é o caso mais recente de desistência. No último levantamento do Paraná Pesquisas, divulgado no início de maio, o ex-ministro apareceu com percentuais que variavam entre 9% e 11% das intenções de voto, ocupando o segundo ou terceiro lugar entre os pré-candidatos, dependendo do cenário.

Antes de Barbosa, a onda Luciano Huck também parecia promissora para o apresentador. Na última pesquisa Datafolha realizada com seu nome, em janeiro, Huck tinha entre 5% e 8% dos votos, ocupando entre o quinto e o sexto lugar, dependendo do cenário. O apresentador estava na frente de nomes tradicionais na política, como Alvaro Dias (PODE), Henrique Meirelles (PMDB) e Rodrigo Maia (DEM) e empatado na margem de erro com o tucano Geraldo Alckmin (PSDB).

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No Rio de Janeiro, o ex-técnico da seleção brasileira de vôlei, Bernardinho, também desistiu de ser o candidato do Novo ao governo. Bernardinho vai atuar apenas como “embaixador” do partido nas eleições pelo país, sem disputar nenhum cargo.

Enquanto isso, políticos da velha guarda tentam vender a imagem de novidade nas eleições presidenciais. É o caso do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), que ocupa atualmente o sétimo mandato na Câmara e tenta se vender como um capitão do Exército avesso à conduta tradicional de políticos e partidos. A ex-ministra Marina Silva (Rede) também tenta emplacar o discurso do novo – há pelo menos três eleições. O senador Alvaro Dias (PODE) também busca relacionar sua imagem à nova política, apesar de ocupar cargos eletivos desde 1968.

O personagem intocável

Para o cientista político Mario Sergio Lepre, a sociedade está esperando algo que não existe ao apostar as fichas em um outsider da política: um candidato intocável. “Não existe essa lógica da áurea do intocável, isso que começou a cair a ficha desse pessoal”, explica. “Não existe um nome que seja intocável, não existe alguém que vá conseguir governar o Brasil sem ter que nomear, por exemplo, um Ricardo Barros ministro da Saúde”, exemplifica.

Lepre faz referência ao modelo de presidencialismo de coalizão que existe no Brasil, em que o presidente negocia cargos com políticos do Congresso para ter apoio para conseguir aprovar reformas e medidas importantes para o governo.

“A política tem um modus operandi que é necessário para fazer andar as propostas. A gente tem que parar com essa lógica de pensar que tudo é ruim, que qualquer coisa que venha de uma negociação política é ruim. Isso é mentira. Você só consegue reforma trabalhista, reforma da previdência se você tiver uma articulação significativa de forças. Isso é típico da política e não podemos perder isso. Esse excesso de purismo que andou acontecendo nos últimos anos levou a esse ambiente que não é bom para a eleição”, diz o cientista político.

Para Lepre, a possibilidade de novos nomes surgirem na política depende de reformas estruturais no sistema político brasileiro. “O Brasil ainda não conseguiu. A gente precisa viabilizar ainda algumas reformas estruturais que vão permitir que a disputa política seja mais razoável”, defende.

Partidos inibem participação

Para o cientista político Marcio Coimbra, o sistema político brasileiro inibe a entrada de novas lideranças na política, que não conseguem musculatura para chegar ao fim de uma campanha. Para ele, a maneira como os partidos políticos funcionam não favorece a entrada de novos nomes no campo político.

“As estruturas partidárias, de financiamento de campanha e sistema de presidencialismo de coalizão no Brasil, inibem a entrada de atores novos. Até porque a gente vê muitas dinastias de sobrenome na política. Ou seja, são pessoas que conseguem entrar na política porque já vem de uma tradição política, ou são catapultadas por algum segmento, como igreja, televisão”, explica.

Falta musculatura e jogo de cintura

Além da inibição que começa dentro dos próprios partidos políticos, que não favorecem a renovação das lideranças políticas, os outsiders enfrentam ainda outro problema ao avançarem sobre o campo da política: a falta de habilidade e jogo de cintura.

Lepre lembra que a política não é uma atividade fácil e que os candidatos estão sempre vulneráveis a ataques pessoais e ao escrutínio de suas atividades. Durante a breve pré-campanha à presidência, Huck pôde perceber isso. Surgiram informações sobre sua relação com políticos investigados em escândalos, compra de jatinho particular com dinheiro do BNDES, entre outros casos.

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“Todo outsider que vai entrar na política, chega sem blindagem, sem o coro grosso da política”, diz Coimbra. “Há pessoas que fizeram coisas bem piores do que eles dentro da política, mas esses caras sabem nadar nas águas da política”, completa.

“A política é penosa. Um candidato como o Geraldo Alckmin (PSDB), que já é político, qualquer coisa que você aponte para ele já é esperado porque ele é político”, ressalta Lepre. Já para candidatos de fora da política, o eleitor espera uma “áurea intocável”, segundo o cientista político.

Insider com pinta de outsider

Para o cientista político Marcio Coimbra, a chance de um político tradicional que consiga vender o discurso do “novo” ganhar as eleições em outubro não é pequena. “As pessoas estão acreditando que vai existir um outsider e, quando não tem, você pode criar um insider com pinta de outsider”, explica. Para ele, Alvaro Dias é o candidato com maior potencial para incorporar a imagem de outsider, mesmo estando na política há décadas. “Mais importante que um outsider é conseguir se vender como um”, destaca.

Coimbra lembra que o Brasil já elegeu candidatos que se venderam como outsiders em outras eleições. “Em 1989 um insider com pinta de outsider ganhou a eleição, que era o Collor. Em 1960, um insider com pinta de outsider, que era o Jânio, ganhou a eleição para presidente”, ressalta.

Os dois cientistas políticos, porém, fazem um alerta: mesmo que um candidato de fora da política vença a eleição, não significa que vai conseguir governar. “O indivíduo vai ganhar a eleição e o Congresso Nacional vai estar lá”, alerta Lepre, em referência à necessidade de negociação com o Congresso.

“Um outsider na presidência da República é um alguém que se não conseguisse uma ligação direta com o povo ia ter muita dificuldade de trabalhar com o Congresso Nacional e poderia facilmente sofrer um impeachment. Por isso o Jânio renunciou, o Collor sofreu um impeachment”, lembra Coimbra.

Metodologia das pesquisas

O levantamento do Paraná Pesquisas ouviu 2.002 entrevistados em 154 cidades brasileiras, entre 27 de abril e 2 de maio. A pesquisa está registrada no TSE sob o n.º BR-02853/2018. A margem de erro é de 2,0% e o nível de confiança é de 95%.

Já a pesquisa realizada pelo Datafolha de 29 a 30 de janeiro de 2018 com 2826 entrevistados em 174 municípios. Registro no TSE: BR 05351/2018. Margem de erro: 2,0%. Confiança: 95%.

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