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| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

No rastro do fenômeno pré-eleitoral do capitão Jair Bolsonaro, pelo menos quatro generais do Exército devem concorrer nas eleições deste ano. Todos da reserva, eles aproveitam um momento de desgaste da classe política e a aceitação da categoria por parte da opinião pública para alcançar sucesso nas urnas. Os cargos que pretendem disputar são variados, de deputado federal a governador, além do presidenciável Bolsonaro.

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Os oficiais-candidatos têm um discurso uniforme e que seguem a cartilha do "líder" Bolsonaro, que já gravou mensagem de apoio a alguns deles. Fazem a defesa da família, são tementes a Deus, esconjuram os governos do PT (e os comunistas de forma geral) e veneram os anos que o país viveu sob o regime militar, que tratam por revolução e jamais como uma ditadura. 

Presidente do grupo Terrorismo Nunca Mais, o Ternuma, o general Paulo Chagas se filiou ao PRP e já anunciou sua pré-candidatura ao governo do Distrito Federal. O Ternuma é uma organização de militares da reserva criada para se contrapor ao grupo Tortura Nunca Mais, que denuncia violações como tortura e prisões ocorridas no período militar. 

Chagas diz que o momento é propício para militares tentarem cargos eletivos em função do descrédito dos políticos e dos escândalos de corrupção. 

“Se você verificar as pesquisas de opinião, as Forças Armadas aparecem como uma das instituições mais confiáveis da população. E os políticos e o Congresso Nacional estão entre os menos confiáveis e com credibilidade. Vivemos um momento especial em função do que aconteceu nesses governos do PT, um incremento absurdo da corrupção. E ainda quebraram o país. E a sociedade está procurando, entre os setores que ela confia, pessoas para representá-la no Legislativo e no Executivo. Procura alguém disposto a servir. Por isso, os militares”, disse Paulo Chagas à Gazeta do Povo

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“O que estamos vendo é as pessoas entrarem na política para ficarem ricos. Não tenho ambição de ficar rico. Aliás, quem fica rico como servidor público não tem como se explicar. Como se pode ficar rico no serviço público de um país pobre como o nosso?”

Também oficial, o general Eliéser Girão Monteiro é pré-candidato ao governo do Rio Grande do Norte. Ele deve se filiar ao Partido Social Liberal (PSL), legenda que vai abrigar Jair Bolsonaro. No próximo dia 7, o partido faz um grande ato em Brasília dessas filiações. O general Girão Monteiro já pousou com foto ao lado do presidenciável e integra grupo que espalha outdoors de Bolsonaro pelo estado. O general foi um dos subchefes da Casa Militar da Presidência da República no governo FHC e foi secretário de Segurança Pública de dois estados, de Roraima e Rio Grande do Norte. Usa camisetas com fotos de Bolsonaro. 

O general Monteiro diz que o Brasil passa por um momento de corrupção deslavada e evita até a citar o nome de Lula. 

“Não gosto nem de falar o nome desse cara (Lula). Um bandido, um criminoso e que tem o apoio de pequenos bandidos e iludidos”, diz o general, em declarações recentes no estado. 

Para ele, Bolsonaro é um dos únicos políticos, “senão o único”, ficha limpa do país. 

Agora na reserva, o controverso general Hamilton Martins Mourão, que foi exonerado de um cargo no Ministério da Defesa por ter acusado o presidente Michel Temer de liderar um “balcão de negócios” no Planalto, é uma incógnita. Tem convite de Bolsonaro para se filiar ao PSL e sair candidato a deputado federal pelo Rio. Mas pode concorrer a presidente do Clube Militar e deixar a carreira política para outro momento. 

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Num encontro recente num clube militar em Brasília, Mourão disse, ao ser perguntado sobre ser candidato, que nenhuma possibilidade está descartada. Deu declarações favoráveis a intervenção militar no país. 

Candidato a deputado federal em 2014, o general Sebastião Peternelli, do PSC, vai tentar novo mandato. Peternelli é um defensor ferrenho do regime de 64 e seu nome chegou a ser indicado para assumir a presidência da Funai no início do governo Temer. Manifestações de entidades ligadas aos direitos humanos e indígenas, contrárias a sua indicação, inviabilizaram sua nomeação. Em 2014, ele obteve apenas 10.953 votos. 

Presidente do Ternuma, o general Chagas, mais moderado que antigos dirigentes desse grupo, reconhece que podem ter ocorridos excessos durante o regime militar. Para ele, os militares demoraram a detectar que estava em curso uma luta armada, por parte da esquerda. E que os militares confundiam esses atos com problemas de segurança pública. 

“Então, era uma guerra. E em qualquer guerra, há excessos. Dos dois lados. Houve violência de parte a parte. Não tem como dizer que é justificável. Não é. É natural da guerra, mas poderia ter sido evitada. Não participei desse combate. E digo mais: nesses 50 anos, me formei praça em 1968, nunca vi ninguém ser torturado. Nunca recebi uma instrução sobre esse assunto. Nunca vi aula sobre isso. Nunca fui apresentado a alguém que tenha sido torturado. Mas não posso te dizer que não houve tortura. O que te assevero: acredito que tenha ocorrido sim, mas não oficializado. Nunca ouvi ninguém me dizer que deu ordem para alguém torturar ou matar alguém”, disse Chagas.

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