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 | Rafael Ribeiro/Divulgação
| Foto: Rafael Ribeiro/Divulgação

Tira óculos, gravata e sapato social. Põe camisa branca, polo, tênis e calça jeans. Há menos de um mês começou a ser desenhada a corrida que acontecerá concomitante à eleitoral de outubro: a do palanque “fashion”.

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Consultores e produtores de imagem passaram a ser procurados, alguns há menos de 15 dias, para construir a imagem dos candidatos e afinar o corte, a cor e o tecido de suas posições políticas.

Entre os discursos de quebra do sistema vigente dos neófitos e o de reciclagem dos caciques, a Folha de S.Paulo procurou especialistas para esboçar como cada um estará vestido na largada e o porquê.

Como são os looks à esquerda

Com a prisão de sua principal liderança, a esquerda ficou nua. Nos últimos dias de liberdade, o ex-presidente Lula (PT) sacou do guarda-roupa a jaqueta de alpaca dada de presente pelo presidente boliviano Evo Morales e expôs uma esquerda rachada não só nas alianças, mas também no guarda-roupa.

Ao estender para a moda o discurso de que não representa um partido, mas uma ideia -a peça de roupa remete a toda esquerda latino-americana-, ele desfez o Lula de paletó vinculado ao suposto enriquecimento pós-Presidência para aderir ao visual neutro, de camiseta azul esportiva, em meio ao público vermelho.

Os presidenciáveis Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D’Ávila (PC do B), acariciados pelo ex-presidente no derradeiro palanque de São Bernardo do Campo, terão como desafio atrair quem não se identifica com o discurso esquerdista e o look boné e camiseta.

“Eleitores mais velhos não votam em candidato moderno, porque ainda querem ver a camisa social. São muito diferentes da geração jovem, atraída pela ideia de novo. Tanto Boulos quando Manuela terão de lidar com eleitores que ainda questionam de qual família o candidato é”, diz a consultora Bruna di Paolo.

Uma das cabeças da produtora Supernova, que tem na carteira de clientes o atual governador da Bahia, Rui Costa (PT), e já teve o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB), di Paolo diz que o candidato psolista usa a estratégia de vincular sua imagem à do Lula sindicalista, com barba, cabelo e camiseta.

O vermelho partidário, porém, deverá ser deixado de lado nos comícios para não atrelar um partido ao outro. “A cor [vermelha] não é uma questão na esquerda. Diferentemente da direita, que exige o verde e o azul nas gravatas, ela é mais aberta a mudar de cor”, afirma.

Manuela, por sua vez, teria em seu favor a causa feminista, expressa nas camisetas com escritos do tipo “lute como uma garota”. Com a proximidade do pleito no qual tentará a Presidência, ela já aparece com blazers de lapela geométrica e calças de alfaiataria.

Um visual parecido, embora mais colorido, com o de Marina Silva (Rede). Os especialistas acreditam que os tons terrosos e a imagem neutralizada pode prejudicá-la.

Para a especialista em cor Luciana Ulrich, os marrons e beges de Marina transmitem envelhecimento, e, para a consultora Marcia Rocha, as roupas folgadas e os comprimentos longos remetem ao conservadorismo da bancada neopentecostal que ela diz não interferir em seu plano de governo.

Mas para a coordenadora do curso de comunicação da Faculdade Belas Artes e consultora de imagem, Jô Souza, o que valerá tanto para a esquerda quanto para a direita é o banimento da ostentação nesse período de descrédito da população com a classe política.

“Marcas sem valor agregado ou propósito social estarão de fora. Precisamos lembrar que em um cenário onde a direita tenta imprimir empatia com eleitores indecisos e a esquerda permanece no voto franciscano que não convence mais, é primordial a roupa ser coerente com as propostas.” 

E como se veste o time da direita

De camisa branca, jeans e tênis de corrida, o empresário anunciou sua candidatura ao governo de São Paulo. 

A frase caberia ao pré-candidato fashionista do PSDB ao governo do estado, João Doria, mas foi um de seus principais adversários, Paulo Skaf (MDB), 62, quem se aventurou em códigos de vestimenta inexplorados por ele em eleições passadas.

Essa tentativa de se descolar da imagem de político tradicional, de costume, gravata e sapato, será o maior desafio dos candidatos à direita do espectro político segundo consultores ouvidos pela reportagem.

A especialista em imagem masculina Marcia Rocha, conhecida nos corredores do funcionalismo público de Brasília, afirma que os tucanos hoje têm como mantra “parecer jovens, confiáveis e competentes”.

Táticas como dobrar a camisa para encarnar o “trabalhador com a mão na massa, e não um administrador que fique atrás da cadeira”, são ferramentas que possivelmente serão exploradas na campanha.

“Será uma eleição diferente. Ao mesmo tempo que a imagem tradicional, vinculada hoje a um presidente [Michel Temer] que é reprovado pela maioria, deve ser abolida, a de líder comunista com boné e camiseta não colará mais. Os candidatos devem procurar um meio-termo”, diz Marcia Rocha.

O artifício nem lá, nem cá, já é adotado por dois nomes fortes para a vaga de presidente. Enquanto Geraldo Alckmin (PSDB) tira a gravata e se aproxima do visual do aliado João Doria, Ciro Gomes (PDT) equaliza o discurso à esquerda com um look à direita, composto por costume e gravata.

Movimentos encabeçados por jovens do MBL (Movimento Brasil Livre) e Vem Pra Rua, que ganharam estofo em 2015 durante as manifestações a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT), foram decisivos na reformulação do look dos candidatos de meia idade.

Doria foi pioneiro nesse “extreme makeover” do tucanato, com combo de suéter de cashmere, camisa polo e calça justa, lançando tendência em outros partidos de direita. 

Pré-candidato do PRB, o empresário Flavio Rocha foi um dos que aderiu ao tal “visual top” batizado pelas redes sociais.

Especialista em coloração e imagem pessoal, Luciana Ulrich alerta que os candidatos devem tomar cuidado com o branco, porque a aparente leveza que transmite está sendo substituída por sofisticação no imaginário das pessoas.

“Sempre foi uma cor vinculada à democracia, mas nos últimos tempos ela traz uma percepção de poder. Além disso, muitos personagens vilões da cultura pop estão sendo caracterizados de branco”, diz. 

O vermelho, segundo ela, é a única cor que está em baixa em Brasília e causaria impressão similar à do branco.

Ulrich acredita que marinhos e cinzas serão as melhores opções, porque não causam ruído de comunicação de imagem e transmitem “a credibilidade e a confiança que os brasileiros querem”. 

 

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