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| Foto: Rodrigo Félix/Gazeta do Povo

Em audiência tensa, o ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral (PMDB) discutiu asperamente com o juiz Marcelo Bretas, responsável pelas ações da Operação Lava Jato no estado, nesta segunda-feira (23), durante novo depoimento à Justiça. Condenado a penas que somam mais de 72 anos de prisão, o político partiu para o ataque: “Eu estou sendo injustiçado. O senhor está encontrando em mim uma possibilidade de gerar uma projeção pessoal me fazendo um calvário”, disse. O juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio chegou a suspender por cinco minutos o depoimento na tentativa de acalmar os ânimos.

Em sua defesa, o ex-governador disse que os recursos de campanha e os pessoais se misturavam. Depois da discussão, Cabral chorou diante do magistrado. “Prefiro muito mais ser acusado num sistema democrático, ser massacrado, do que um sistema autoritário”, disparou. 

O depoimento foi prestado no âmbito da ação que investiga a compra de R$ 4 milhões em joias supostamente com dinheiro de propina, o que configura lavagem de dinheiro, segundo o Ministério Público Federal (MPF). Cabral disse em determinado momento da audiência saber que a família de Bretas trabalha com bijuterias.

A afirmação ocorreu quando o ex-governador justificava as compras de joias feitas por ele e pela mulher, Adriana Ancelmo, na joalheira H. Stern. de fato, a família de Bretas possui uma loja de adereços no Saara, famoso centro de comércio popular do Rio de Janeiro.

Bretas disse que a declaração poderia até ser subentendida como ameaça. “É no mínimo suspeito e inusitado o acusado, que não só responde a esta processo como outros, venha aqui trazer em juízo informações sobre a rotina da família do magistrado. Além de causar espécie, como bem observou o MPF, de que apesar de toda a rigidez ele tenha se privilegiado de informações que talvez ele não devesse”, disse Bretas.

O procurador Sergio Pinel declarou que o MPF achou muito grave que Cabral tenha obtido na prisão informações sobre a vida da família do magistrado. “A prisão não tem sido suficiente para afastar o réu de informações de fora da cadeia. Não sei como ele chegou a essa informação, mas foi indevida. O preso está na cadeia justamente para se afastar do convívio da sociedade, não ter informações das testemunhas e dos atores do processo, como por exemplo o magistrado”, disse.

Diante disso, Pinel solicitou a transferência do político para um presídio federal e foi prontamente atendido por Bretas. O ex-governador hoje está detido na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte da capital fluminense.

Defesa

O advogado Rodrigo Roca, que representa Cabral, considerou arbitrária decisão de transferência. “É evidente que ele (Bretas) esticou muito o conceito do que pode ser entendido como ameaça. Não teve uma ameaça. Se tivesse tido alguma ameaça o magistrado teria tomado alguma atitude que não essa. Ele (Cabral) é vigiado no presídio 24 horas, com cerca de 30 câmeras. Os presos entram e saem e levam informações que querem”, afirmou.

Roca também declarou que a afirmação de Cabral sobre a família do juiz “não tem nenhuma relevância para o processo”. ” Foi um comentário que não vou dizer que seja infeliz, mas desnecessário. Por ser desnecessário, não acho que deveria ter sido levado em conta. Além disso, vai dificultar o exercício da defesa que já estava difícil tamanho o número de processos contra ele”, argumentou.

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