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 | Ricardo Stuckert
| Foto: Ricardo Stuckert

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assiste de camarote à crise política que assola o governo de Michel Temer (PMDB) há uma semana. Com as denúncias feitas na delação da JBS, os holofotes que acompanhavam o petista desde o depoimento prestado ao juiz Sergio Moro, em Curitiba, no dia 10 de maio, passaram a mirar o Palácio do Planalto, mais precisamente o gabinete presidencial.

Nem mesmo a apresentação de mais uma denúncia criminal do Ministério Público Federal contra o ex-presidente – desta vez no processo que apura a propriedade do sítio de Atibaia (SP) – em meio ao escândalo da gravação de Temer feita por Joesley Batista, dono da JBS, foi suficiente para recolocar o foco na desgastada imagem de Lula. A denúncia virou nota de rodapé diante da notícia da abertura de um inquérito contra o atual presidente da República no Supremo Tribunal Federal (STF)

Não bastasse isso, o petista passou a ter protagonismo nos bastidores da negociação entre grandes partidos e caciques políticos em busca de um nome de consenso na eleição indireta para suceder Temer em caso de renúncia, impeachment ou cassação da chapa que o elegeu ao lado de Dilma Rousseff na Justiça Eleitoral.

Em outra frente de oposição, Lula e seu séquito passaram a defender fervorosamente uma mudança na Constituição que permita a realização de eleição direta para o Planalto já em 2017. Uma bandeira – a das “Diretas Já” – que dificilmente será empunhada pelos partidos governistas, uma vez que o maior beneficiado nesse caso seria o próprio petista, líder nas pesquisas de opinião sobre o pleito presidencial de 2018.

Nesse cenário, Lula tenta ganhar protagonismo à sombra dos escândalos que atormentam Michel Temer, cujo governo “sangra” a cada dia .

Todos perdem – governo e oposição

Para o cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, todos perdem na crise institucional e política que se instalou em Brasília, inclusive a oposição, que parece presa ao passado e não sabe apontar para o eleitor caminhos de saída para a crise. “A oposição, no âmbito da política partidária, faz barulho, mas não consegue passar para a sociedade um projeto de país, que mostre soluções para a grave crise. Eles ficam no ‘Fora Temer’, mas isso não comove tanto”, avalia.

Para César, a candidatura de Lula à Presidência da República não passa de um balão de ensaio. “Lula é carta fora do baralho, está velho e tem muita rejeição. Pode ir bem num primeiro turno contra todo mundo, mas em um segundo turno pode ter muitos problemas. Além disso, ele teve câncer e está velho para encarar uma campanha presidencial. Acredito que Lula está se colocando diante do PT, um partido em frangalhos, em posição de condutor do PT como potencial candidato, e aplainando o caminho para alguém vir”, avalia.

Três ex-presidentes na jogada

A crise acabou “unindo” Lula (PT) a outros dois ex-presidentes do Brasil – José Sarney (PMDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) estão envolvidos na articulação para a eventual substituição de Temer no caso de uma eleição indireta no Congresso. Nenhum dos três admite ter a pretensão de voltar a comandar o Palácio do Planalto. Mas o trio tem grande influência dentro dos três maiores partidos do país e capacidade de dialogar com diferentes parlamentares.

Embora cada partido tenha uma estratégia diferente para lidar com essa crise – o PMDB defende Temer, o PSDB ainda mantém seu apoio ao governo, enquanto o PT assumiu o posto de oposição –, a expectativa é que os três consigam costurar um consenso para a formação de um novo governo. Temer já disse e reafirmou que não vai renunciar, mas o julgamento do pedido de cassação da chapa Dilma-Temer, marcado para a próxima semana, pode pôr fim à resistência do peemedebista.

Os três não estão sozinhos: um dos nomes mais ventilados – e considerado até favorito por muitos – é o de Nelson Jobim, que também atua nos bastidores. Jobim é interlocutor frequente dos três ex-presidentes e possui bom trânsito nos três partidos. Experiente nos três poderes, ele tem posições críticas à Lava Jato (o que agradaria muitos parlamentares) e bons contatos no STF e Judiciário, além de boas relações nas Forças Armadas.

Seu nome não é unanimidade. Há quem especule que teriam mais chances, por terem mais aceitação no Congresso, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem em sua órbita boa parte dos partidos que formavam o antigo Centrão de Eduardo Cunha.

Há ainda o senador tucano Tasso Jereissati, sobrevivente da Lava Jato no PSDB, que viu seu nome ser catapultado como possível sucessor de Temer. Esse é um arranjo que desagrada muito o PT, já pensando no cenário de 2018 com um tucano muito fortalecido.

Apolíticos e outsiders

A falta de projeto da oposição e a derrota moral do governo Temer, num momento em que os principais grupos políticos não têm como apresentar alternativas ao poder, fortalecem candidatos “apolíticos” ou “outsiders” nas eleições de 2018. Nomes como o do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e do prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) podem aproveitar a falta de rumos para o país.

Porém, mesmo sobre esses nomes pairam incertezas. Falta a Doria mostrar consistência, se descolar da imagem de “paulistano demais” e vencer a disputa interna entre os tucanos. Já Bolsonaro tem muita rejeição. Para o cientista político, esse cenário seria muito danoso para a jovem democracia brasileira.

“As forças constituídas tem de evitar isso, o apolítico, pois somos uma democracia nova”, afirmou o cientista político André César, que ainda vê a possibilidade de estarem sendo gestados pelos partidos, neste momento, os próximos “apolíticos”. Falta um ano para as eleições. O tempo é curto, mas suficiente para nascer um candidato sem inquéritos, sem investigações, sem doações por caixa 2, com uma ficha em branco.

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