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| Foto: Valter Camponato/ABR

O ex-deputado federal Cândido Vaccarezza foi preso temporariamente na manhã desta sexta-feira (18) pela Polícia Federal em uma nova fase da Operação Lava Jato. Segundo as investigações, o ex-parlamentar teria recebido cerca de US$ 500 mil para facilitar contratos de uma empresa estrangeira com a Petrobras.

Vaccarezza foi líder do PT na Câmara dos Deputados nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, entre 2010 e 2012. Em 2014, tentou a reeleição pelo PT, mas não foi eleito. No ano passado, depois de divergências com a ex-presidente Dilma, deixou o partido e se filiou ao PTdoB.

Segundo a PF, a Operação Abate, da qual Vaccarezza é alvo, tenta “desarticular grupo criminoso que era apadrinhado pelo ex-deputado federal, cuja influência era utilizada para a obtenção de contratos da Petrobras com empresa estrangeira”. Nesta relação criminosa, conforme a Polícia Federal, recursos foram direcionados para pagamentos indevidos a executivos da estatal e agentes públicos e políticos, além do próprio ex-parlamentar.

Segundo os investigadores, o ex-deputado atuou para a contratação da empresa Sargeant Marine para fornecimento de asfalto para a Petrobras. Foram firmados 12 contratos entre 2010 e 2013, com o valor total de US$ 180 milhões. Ele também teria participado de um esquema de fornecimento de informações confidenciais da Petrobras para a empresa Quimbra.

O nome de Vaccarezza apareceu nos depoimentos de colaboração premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Foram colhidas provas adicionais a partir de buscas e apreensões da 1ª e da 16ª fases da operação Lava Jato, além de resultados de quebra de sigilo bancário, fiscal e telemático e de pedidos de cooperação internacional. Entre as provas que corroboraram o relato do colaborador estão, por exemplo, documentos que comprovam o pagamento de propinas mediante transferências bancárias no exterior, anotações de agendas e arquivos apreendidos em fases anteriores da Operação Lava Jato que descrevem a divisão de comissões resultantes do negócio dentre operadores, funcionários da Petrobras e políticos.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), as evidências indicam ainda que a atuação de Vaccarezza ocorreu no contexto do esquema político-partidário que drenou a Petrobras, agindo em nome do Partido dos Trabalhadores. Na divisão de valores das propinas, há documentos indicando seu direcionamento tanto para a “casa” (funcionários da Petrobras) como para o “PT”. Os valores então devidos ao partido, totalizando propinas de pelo menos cerca de US$ 500 mil, foram destinados em grande parte a Vaccareza, sendo possível que a investigação venha a revelar outros destinatários das vantagens ilícitas.

Operação Sem Fronteiras

A PF também deflagrou outra fase da Lava Jato nesta sexta-feira (18). É a primeira vez que o órgão deflagra duas etapas da operação ao mesmo tempo.

De acordo com o comunicado da PF, na chamada Operação Sem Fronteiras “é investigada a relação espúria entre executivos da Petrobras e grupo de armadores estrangeiros para obtenção de informações privilegiadas e favorecimento obtenção de contratos milionários com a empresa brasileira”.

A investigação envolvendo os armadores gregos também teve início a partir de relato de Costa, em seu acordo de colaboração premiada, e se desenvolveu com a análise de materiais apreendidos na 13ª fase da operação, além de provas obtidas mediante a realização de quebras de sigilo bancário, fiscal, de dados telemáticos e registros telefônicos, além de cooperação jurídica internacional.

Para os investigadores, Costa ajustou com o cônsul honorário da Grécia no Brasil, Konstantinos Kotronakis, um esquema de facilitação de contratação de navios gregos, mediante o fornecimento de informações privilegiadas e o pagamento de propinas. Esse esquema era efetivado, num primeiro momento, entre 2008 a 2010, pela intermediação do operador Henry Hoyer de Carvalho, preso temporariamente nesta sexta-feira (18), e, posteriormente, por intermédio de uma empresa de brokeragem constituída na Inglaterra e pertencente a Georgios Kotronakis, filho de Konstantinos.

Dessa forma, os grupos Tsakos e Aegean, dos quais Konstantinos Kotronakis é, respectivamente, diretor e sócio-administrador, além das empresas Dynacom Tankers Management, Galbraiths e Dorian Hellas, com as quais o cônsul grego ostenta vínculos indiretos, formalizaram contratos de afretamento com a Petrobras, entre os anos de 2009 a 2013, em valores que superam US$ 500 milhões.

Ao menos 2% desses valores era destinado ao pagamento de propina a funcionários públicos corrompidos, operadores financeiros e agentes políticos. Há provas de que o pagamento das vantagens indevidas era operacionalizado mediante depósitos em contas offshores controladas por Konstantinos Kotronakis, Georgio Kotronakis, Henry Hoyer de Carvalho, Humberto Mesquita e Paulo Roberto Costa.

No mesmo contexto, foram colhidos fortes indícios do envolvimento de um ex-gerente da Petrobras ligado à área de afretamento de navios, no esquema de corrupção que visava favorecer armadores gregos. Também foi possível verificar o recebimento de vantagens indevidas, em benefício dele, em contas ocultas no exterior, titularizadas por empresas offshores registradas em nome de terceiros. Há, ainda, evidências concretas de que esse ex-gerente também beneficiou as empresas Olympic Agencies e Perosea Shipping Co em contratos com a Petrobras.

A PF também prendeu temporariamente nesta sexta-feira (18) o ex-gerente de marketing da Petrobras Marcio Aché.

As duas fases da operação foram determinadas pelo juiz Sergio Moro, da 13.ª Vara Federal de Curitiba. Segundo a Polícia Federal, foram cumpridas ao todo 46 ordens judiciais: 29 mandados de busca e apreensão, 11 mandados de condução coercitiva e treês mandados de prisão temporária. Outros dois presos não foram localizados.

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