• Carregando...
 | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Ao alardear uma eventual cooperação irregular entre as autoridades brasileiras e norte-americanas no processo do tríplex no Guarujá, a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta a lançar mão de teorias da conspiração, acusando membros da força-tarefa da Lava Jato de serem influenciados pelos Estados Unidos. A tese não é novidade – já foi usada várias vezes ao longo dos quatro anos de operação para tentar desqualificar as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF), e a atuação do juiz federal Sergio Moro, que conduz o caso em Curitiba.

Os advogados de Lula apresentaram na semana passada, no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), “novas provas que mostram a cooperação ilícita entre a força-tarefa da Lava Jato e autoridades norte-americanas”. Entre o material apresentado está um vídeo do pronunciamento de Kenneth Blanco, então vice-procurador geral adjunto do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ), sobre cooperação com o MPF brasileiro em um evento promovido pelo site de notícias Jota e pela Atlantic Council.

Leia também: Propina da Lava Jato circulou por 30 países

O procurador americano diz, em seu pronunciamento, que há uma relação de confiança entre as autoridades dos dois países, o que foi interpretado pelos advogados de Lula como um indicativo de que as provas obtidas por cooperação internacional não seguiram os trâmites previstos em lei. Os advogados tentam anular o processo, que gerou uma condenação de 12 anos e um mês de prisão ao ex-presidente e pode levar o petista à cadeia em breve.

Cooperação internacional

Segundo a assessoria de imprensa do MPF, “todo pedido de cooperação internacional realizado no âmbito da Operação Lava Jato ocorre por meio da Secretaria de Cooperação Internacional (SCI), em Brasília”. O auxílio de outros países nas investigações não é novidade e é apontado pelos procuradores como fundamental para as investigações no Brasil.

Segundo dados oficiais da operação, foram feitos até março deste ano 395 pedidos de cooperação internacional. Destes, 215 foram pedidos que partiram da força-tarefa no Brasil para 42 países. Outros 180 pedidos foram feitos por 31 países para que a Lava Jato auxiliasse em investigações estrangeiras, compartilhando provas.

Leia também: O caminho da conta de criminosos para os cofres públicos

No ano passado, ao apresentar um balanço dos três anos de trabalho, a força-tarefa do MPF destacou que a cooperação internacional é um “caminho sem volta” e “uma realidade que só tende a crescer”.

“A ferramenta vem sendo fundamental para que o Ministério Público Federal identifique contas no exterior que foram utilizadas por muitos dos envolvidos no esquema de desvio de recursos da Petrobras, sejam corruptos ou corruptores. Outro objetivo da cooperação internacional é aprofundar investigações sobre a possível participação de agentes ou representantes de empresas estrangeiras que tenham sido beneficiadas pelo grupo criminoso que causou prejuízos à estatal petrolífera”, dizia a nota do MPF, à época.

Preocupação com EUA

A preocupação com a interferência dos Estados Unidos nas investigações em curso no Brasil não é novidade e tem gerado a disseminação de várias teorias da conspiração. Uma delas foi o boato sobre ligações do juiz Sergio Moro com o FBI [uma espécie de Polícia Federal americana] e com a CIA [agência de inteligência dos EUA].

Em 2016, a filósofa Marilena Chauí publicou um vídeo em que afirmava que Moro foi treinado pelo FBI para conduzir a Lava Jato no Brasil. O objetivo da operação, segundo a filósofa, é retirar do Brasil a soberania do pré-sal.

Leia também: Sete teorias da conspiração que rondam a Lava Jato

Até o currículo do magistrado foi usado para embasar a disseminação de boatos. Moro cursou o Program of Instruction for Lawyers na Harvard Law School em julho de 1998, além de participar do International Visitors Program, organizado em 2007 pelo Departamento de Estado norte-americano, com visitas a agências e instituições dos EUA encarregadas da prevenção e do combate à lavagem de dinheiro. As informações constam no currículo Lattes do magistrado paranaense.

Leia também: Quem é Sergio Moro? Mitos e verdades sobre o juiz da Lava Jato

A tese de que Moro teria sido “treinado” pelas autoridades americanas para atuar na Lava Jato foi reforçada com documentos disponibilizados pelo Wikileaks, que falavam sobre um encontro promovido entre o Judiciário brasileiro e o norte-americano. Na época do encontro, Moro já era reconhecido por sua atuação em casos de corrupção, como o caso Banestado. O seminário ocorreu no Rio de Janeiro e não tinha ligações com a CIA ou com o FBI.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]