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| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Embora oficialmente a carta de demissão de Maria Silvia Bastos Marques da presidência do BNDES alegue razões pessoais, a primeira baixa importante na equipe econômica terá um impacto político importante. É a equipe montada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e complementada por Maria Silvia no BNDES, Pedro Parente na Petrobras e Ilan Goldfajn no Banco Central o único lastro que ainda resta ao governo do presidente Michel Temer.

Maria Silvia foi vítima de “fogo amigo”, sendo criticada por membros da ala política e por algumas entidades de estar “represando” o dinheiro do BNDES. É a crítica de quem sentia saudades do tempo em que o banco subsidiava qualquer tipo de negócio, desde que aprovado pelo Palácio do Planalto.

A saída da presidente do banco ocorre na pior hora do governo Temer. A delação dos executivos da JBS pegou em cheio o presidente e está intimamente ligada à relação entre a empresa e a estrutura do Estado, incluindo bancos públicos e agências reguladoras. A sensação que fica é a de que Maria Silvia não quis continuar ligada a um governo ligado aos esquemas que afetaram o banco.

O BNDES foi peça central do crescimento da JBS. O banco virou sócio da empresa em 2007, fez aportes durante a fase de expansão internacional e tem hoje 21,3% da empresa através da BNDESPar. A relação entre os dois está sendo investigada na Operação Bullish e pelo Tribunal de Contas da União, que estimou um prejuízo de R$ 711 milhões em sua participação nas operações de compra da empresa. A perda pode ter sido maior.

A gestão de Maria Silvia começou com um movimento simbólico: o banco devolveu ao Tesouro R$ 100 bilhões, começando a desmontar seu passivo de R$ 500 bilhões com a União adquirido nos anos em que os governos Lula e Dilma tentavam injetar dinheiro na veia da economia através do BNDES. A conta dos subsídios dessa política custa mais de R$ 25 bilhões ao ano e será paga por mais 30 anos. E, no fim, não serviu para elevar o crescimento econômico.

A administração do banco fez no último ano uma revisão de sua atuação. Reduziu sua participação em projetos e passou a exigir uma contrapartida maior dos investidores. A ideia é que o mercado entre com a maior parte do crédito de longo prazo e o banco foque em segmentos que precisam de mais apoio. Linhas hipersubsidiadas como o PSI, foram cortadas. Em acerto com o resto da área econômica, foi alterada a lógica da Taxa de Juros de Longo Prazo, que deixará de ser subsidiada e convergirá para taxas de mercado em cinco anos.

Essa mudança de postura era mais do que adequada. O uso do BNDES na construção das “campeãs nacionais”, como a JBS, e na sustentação do investimento não resultou em uma economia mais produtiva e competitiva. Sabemos hoje de forma empírica que não adianta ter o maior banco de fomento do mundo para que o desenvolvimento ocorra. É mais importante ter uma economia estável, com programas de estímulo muito bem dosados para o Estado não entrar onde o mercado poderia atuar.

Para Temer, a perda é grande, não só pelo que a gestão de Maria Silvia representou para o banco. Sua saída dá a impressão de que a corrupção e a falta de sustentação política no governo começam a afugentar o que há de melhor no time montado pelo presidente para gerir a economia. E também que a ala política, aquela que quer usar o Estado para proveito próprio, ganhou o jogo.

Se os mercados já estavam mais calmos com a possibilidade de um acordão para a saída de Temer, é provável que agora ele passe a torcer para que ele caia o mais rápido possível. O governo não pode mais contar com o nariz fechado de empresários e investidores.

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