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Autossuficiência energética, por causa da usina de Itaipu, é uma das teses do movimento, mas a empresa é binacional e a energia produzida aqui não fica na região Sul. | AlexandreMarchetti/Divulgação/Itaipu
Autossuficiência energética, por causa da usina de Itaipu, é uma das teses do movimento, mas a empresa é binacional e a energia produzida aqui não fica na região Sul.| Foto: AlexandreMarchetti/Divulgação/Itaipu

Há algumas décadas, o movimento “O Sul é meu país” defende a ideia de que se os três estados da Região Sul se separarem do restante do Brasil, o novo país já nasceria desenvolvido. Mas será que é isso mesmo? Neste sábado (7), o movimento vai fazer uma consulta popular para checar a adesão dos moradores de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ao projeto de nação independente. A Gazeta do Povo selecionou cinco motivos que são apresentados pelo movimento em textos publicados no próprio site para mostrar que eles não são tão bons assim.

Grande produção agrícola

Um fator econômico importante lembrado pelo movimento O Sul é meu país é a produção agrícola – o movimento cita a liderança na produção de carne de frango e suína, além de ser a segunda região que mais produz grãos.

É verdade: a Região Sul se destaca mesmo no cenário do agronegócio brasileiro. Mas isso não significa que ela é totalmente independente. Um exemplo é a produção de frango: os animais precisam de milho para serem alimentados e só o Paraná é autossuficiente na produção desse tipo de grão.

Santa Catarina, por exemplo, compra de outros estados, como o Mato Grosso. Além disso, é preciso comprar etanol produzido fora, sem contar na importação de fertilizantes. O fato de ser líder em determinada área do agronegócio não significa que os três estados do Sul não dependem de insumos de outras regiões do Brasil para manter a produção em alta.

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Itaipu, a solução energética

A energia elétrica do novo país pode ser suprida pela usina hidrelétrica de Itaipu. “O Sul é o maior produtor de energia elétrica do Brasil, pois Itaipu está dentro do território sulista e, de acordo com o direito internacional, tudo que está dentro do território do país faz parte do seu patrimônio”, diz um texto publicado no site do movimento em novembro de 2016.

Bom, não é bem assim. Em primeiro lugar, Itaipu é uma usina binacional. A energia produzida ali é repartida com o Paraguai, que também participa da administração da usina. Além desse ‘pequeno’ detalhe, vale lembrar que dentro do sistema integrado de energia que o Brasil adota, toda a produção de Itaipu está integrada ao sistema Sudeste-Centro Oeste. Ao entrar no sistema elétrico, a energia produzida por Itaipu é distribuída para essas regiões, que consomem mais que o Sul.

Menos corrupção...

Outra bandeira do movimento separatista é exaltar a honradez do povo sulista – como se fosse totalmente diferente do restante do Brasil – e se refletisse na política e nas relações sociais. A verdade é que não é bem assim, muito embora os próprios integrantes d’O Sul é Meu País façam essa mea culpa. “Temos políticos envolvidos em escândalos de corrupção sim, porém não significa que temos que ter impunidade por aqui. Uma das bandeiras que o nosso movimento defende é a participação popular nas decisões do novo país”, diz o movimento, também em texto publicado em novembro de 2016.

Os escândalos de corrupção dos três estados também são julgados em marcha lenta. Um caso é o dos Diários Secretos, investigação da Gazeta do Povo e da RPC TV que revelou um escândalo com desvios milionários na Assembleia Legislativa do Paraná em 2010. De lá para cá, o caso estacionou no Judiciário – há algumas condenações, mas a maioria dos casos continua em fase de apuração para se chegar aos responsáveis. Nenhum político foi julgado.

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... mais honradez

O movimento também argumenta que deseja um país que vai muito além daquilo que o Brasil tem a oferecer. “Um País onde o Professor vai voltar a ser “Mestre”, diz um texto sobre motivações para o Sul ser soberano. Está aí um ponto que realmente precisa ser trabalhado: em agosto deste ano, uma professora de Indaial, em Santa Catarina, foi agredida com socos após repreender um aluno dentro da sala de aula. “Estou dilacerada por ter sido agredida fisicamente. Estou dilacerada por saber que não sou a única, talvez não seja a última”, disse a professora, em desabafo à época.

Em 2015, professores da rede estadual do Paraná se viram em meio a um ‘embate’ contra policiais em frente à Assembleia Legislativa do estado. Os docentes protestavam contra mudanças no sistema de previdência do estado, que se incorporou à pauta de reivindicações da categoria. Acabaram violentamente reprimidos por policiais militares. Dois anos após o episódio, conhecido como Batalha do Centro Cívico, 33 professores já ganharam ações contra o Estado pelas agressões sofridas naquele dia.

Identidade cultural

O “sulino” tem mesmo uma identidade cultural tão peculiar? “A população Sulina hoje é de cerca de 25 milhões de pessoas, de origem europeia, miscigenada ao africano, ao americano nativo e ao asiático. Esta miscigenação que absorveu cultura, costumes e tradições de quatro continentes, associada aos fatores climáticos e geográficos inerentes à Região Sul, moldou o perfil que é peculiar do sulino, diferenciando-o das demais regiões brasileiras”, diz a carta de princípios do movimento.

O que é comum aos três estados é o clima ameno e uma certa reserva no comportamento – que pode até descambar para a o preconceito em alguns casos. Mas não há como afirmar que existe uma identidade comum a todos os moradores dos três estados da região Sul. Além do frio, há poucos elementos comuns ao comportamento daqueles que moram no Sul.

Não há como negar que os gaúchos possuem mais apego às suas raízes – é comum vê-los com bandeiras do estado e chimarrão em punho Brasil afora quando viajam. O mesmo não se repete com os paranaenses e catarinenses. Apesar de terem costumes comuns, isso está longe de ser uma identidade cultural própria: o Sul é tão diverso quanto outras regiões do Brasil.

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