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A conversa de Michel Temer e Joesley Batista, que baseou a abertura de inquérito contra o presidente no Supremo Tribunal Federal (STF), tem pelo menos três trechos comprometedores.

Neles, Temer aprova a boa relação do empresário com o ex-deputado Eduardo Cunha, que está preso e supostamente recebeu dinheiro para ficar calado; ouve passivamente que o empresário está cooptando juízes e procuradores; e autoriza Joesley a pressionar o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para que atenda seus interesses.

Em outros momentos, mais descontraídos, os dois concordam que Meirelles é bom para o trabalho e ruim para a praia e comentam sobre os fantasmas do Palácio do Alvorada, que não deixavam Temer dormir. No fim, Joesley conta sua receita para emagrecer.

Ouça o áudio completo da conversa entre Temer e Joesley

Tem que manter isso, viu?

No trecho abaixo, Joesley conta que zerou suas pendências com Eduardo Cunha, e diz estar de bem com o ex-deputado, que está preso. Em resposta, Temer diz a frase que já ficou famosa: “Tem que manter isso, viu?”

Joesley: Queria primeiro dizer o seguinte. Tamo junto aí, o que o senhor precisar de mim, viu, me fala. (...) Queria te ouvir um pouco, presidente, como é que o senhor tá nessa situação toda de Eduardo, de não sei o quê, de Lava Jato...

Temer: O Eduardo resolveu me fustigar. Você viu que...

Joesley: Não sei, como que tá essa situação?

Temer: [inaudível] A defesa. O Moro indeferiu 21 perguntas dele que não têm nada a ver com a defesa dele. É pra me trutar. Eu não fiz nada [inaudível]. (...)

Joesley: Queria falar assim: eu, dentro do possível, o máximo que deu ali, zerei tudo. O que tinha de alguma pendência daqui para ali. Zerou, liquidou tudo. Ele foi firme, em cima, já tava lá, veio, cobrou, tal, tal, tal. Pronto. Acelerei o passo e tirei da frente. O outro menino, o companheiro dele que está aqui [inaudível]. Geddel sempre tava...

Temer: [inaudível].

Joesley: Geddel é que andava sempre ali. Mas com Geddel, também, com esse negócio todo eu perdi o contato porque ele virou investigado, agora eu não posso encontrar ele.

Temer: É complicado. [inaudível] Parecer obstrução de Justiça [inaudível].

Joesley: Negócio dos vazamentos. O telefone lá do Eduardo com o Geddel volta e meia citavam alguma coisa meio tangenciando a nós, a não sei o quê. Eu tô lá me defendendo. Como é que eu... o que que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora. Eu tô de bem com o Eduardo.

Temer: Tem que manter isso, viu?

Cooptação de juízes e procurador

Na conversa com Temer, o sócio da JBS diz estar cooptando dois juízes, tentando destituir um procurador da República e pagando uma mesada de R$ 50 mil mensais para outro procurador, que lhe repassava informações de investigações. Temer ouviu passivamente o relato das práticas criminosas e não tomou atitude a respeito, o que pode configurar crime de prevaricação.

Joesley: Também. Eu tô segurando as pontas, tô indo. Meus processos, eu tô meio enrolado aqui, né. No processo assim...

Temer: [inaudível]

Joesley: Isso, isso. Investigado. Eu não tenho ainda a denúncia. Aqui eu dei conta, de um lado, do juiz, dá uma segurada. Do outro lado, um juiz substituto, que é um cara que fica [inaudível].

Temer: Tá segurando os dois.

Joesley: Tô segurando os dois.

Temer: Ótimo, ótimo.

Joesley: Eu consegui [inaudível] dentro da força-tarefa, que está também tá me dando informação. E eu lá, que eu tô para dar conta de trocar o procurador, que tá atrás de mim. Se eu der conta, tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que dá uma esfriada até o outro chegar e tal. O lado ruim é que se vem um cara com raiva ou com não sei o quê...

Temer: [inaudível]

Joesley: O que tá me... Ali dentro tá bom. Beleza. Agora, o principal... o que tá me investigando. Eu consegui colar um no grupo. Agora eu tô tentando trocar...

Temer: O que tá [inaudível]

Joesley: Isso. Então nessa... Então tá meio assim. Ele saiu de férias, até essa semana eu fiquei preocupado porque saiu um burburinho de que iam trocar ele, não sei o quê. Fiquei com medo... Muito bem. Eu tô só contando essa história para dizer assim. Eu tô me defendendo. Me segurando e tal. Os dois lá se mantendo, tudo bem.

Joesley: Seguinte. Tô fazendo 50 mil por mês pro rapaz [inaudível] e me dá informação. Reunião, falou isso, falou daquilo. O brabo é... Enfim, mas vamos lá.

Meirelles trabalhador e escorregadio

Primeiro fazendo rodeios e depois de forma mais direta, Joesley pede – e recebe – autorização de Temer para pressionar o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a atender alguns pedidos. O empresário relata interesses na Receita Federal, no BNDES, no Banco Central, no Comitê Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade) e na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). E se queixa de que Meirelles sempre desconversava sobre os pedidos de ajuda. No fim, Temer afirma que Joesley peça ao ministro para consultar o presidente.

Durante a conversa, Joesley diz ter ótima relação com Meirelles, com quem conviveu por quatro anos, enquanto o hoje ministro foi conselheiro da holding J&F, controladora da JBS. Temer e o empresário concordam que Meirelles “gosta de trabalhar” e que não adianta convidá-lo a ir para a praia.

Joesley: O Henrique, como é que cê tá com o Henrique?

Temer: Bem tranquilo. Quer dizer, ele concorda [inaudível]

Joesley: Muito trabalhador. Ele é trabalhador.

Temer: Trabalhador. (...) O que a gente fez com o Brasil...

Joesley: Nossa Senhora.

Temer: Inacreditável, inacreditável. Mas o Henrique vai muito bem. Eu chamo ele todo dia. Chamo ele pra trabalhar...

Joesley: E ele gosta

Temer: Ele gosta.

Joesley: Ele gosta de trabalhar. Cê não chama ele para ir pra praia. Se você for pra praia e chamar ele, ih.

Temer: Aí não tem graça.

Joesley: Agora se você fala, vamos trabalhar... Eu tenho... e o Henrique é muito disciplinado... Lógico, relação ótima com ele. Tá tudo bem e tal. Agora eu não sei. Eu já andei falando com ele sobre alguns assuntos... Sendo ele... Ele é [inaudível] pra caramba. Um dia eu falei com ele. “No BC, e tal...” E ele: “Não que lá o Ilan faz as coisas”, tirou fora. E eu: “Mas não é você que manda nessa merda?” “Não, o Ilan lá...”

Temer: [inaudível]

Joesley: Então, aí que eu quero. Um dia falei com ele. “Henrique, tem que mexer na Receita Federal, porra, o Rachid tá há tanto tempo aí, põe outro cara aí, um monte de coisas para fazer...” E ele “Não posso mexer”. Aí falei no BNDES e ele disse “não, BNDES é o Planejamento”. E eu “Mas foi você que botou a Maria Silvia [presidente do BNDES] lá, pô”. “Não, não, não, mas isso é do Jucá...”

Temer: [inaudível]

Joesley: Queria ter alguma sintonia contigo, pra quando eu falar com ele, ele não jogar... “Ah, não, o presidente não deixa, não quer”. Eu digo “Pô, Henrique, você é um banana, não manda...” Então falei com ele do Cade. Presidente do Cade ia mudar.

Temer: Já mudou.

Joesley: Cade tem que botar... Queria dizer o seguinte. Resumindo. Eu também não sei se é hora de mexer alguma coisa, dentro do contexto geral, também não quero importunar ele... Também... Se eu for mais... Que eu trabalhei com ele quatro anos, se eu for mais firme, eu acho que ele corresponde...

(...)

Joesley: Vou te dar um toque, eu não sei o quanto vou mais firme no Henrique, o quanto deixo ele com essa pepineira dele ali e tal... Enfim.

(...)

Joesley: Pronto. Lógico. Eu não vou falar nada descabido. Mas agora, eu falei pro Henrique, é importantíssimo um presidente do Cade ponta firme.

Temer: Mas não sei, já foi nomeado?

Joesley: Já foi, já foi. Em janeiro agora. Eu falei pra ele... Foi nomeado presidente.

Temer: Tem certeza? Tenha conversa franca.

Joesley: Tem que ser. Eu não sei. Então talvez... Agora tá o presidente da CVM pra trocar, não trocar. É outro lugar fundamental.

Temer: Você devia falar com ele.

Joesley: Isso mas é que se eu falar com ele e ele empurrar você, eu poder dizer “Na-na-não, peraí”.

Temer: Pode fazer, pode, pode.

Joesley: É só isso que eu queria ter esse alinhamento, pro Henrique não ficar, e ele perceber que nós temos...

Temer: Eu cito, mas não precisa falar de você [inaudível]

Joseley: Quando eu digo de ir mais firme no Henrique é isso, é falar “Henrique, você vai levar, você vai fazer isso?” “Vou.” Então tá bom. Que aí ele vem... É ter esse alinhamento só que eu queria ter e todos os, em termos mais amplos, genéricos, ter esse alinhamento pra dizer o seguinte, “Ó, quando eu falar um negócio, pô, pelo menos vai e consulta lá, vê”.

Joesley: Como o BNDES e aquela operação lá, Geddel me falou que teve todo empenho e esforço.

Temer: [Inaudível]

Joesley: Não deu de um jeito, mas deu de outro, pronto.

Temer: [Inaudível] Eu a chamei, disse que ela tá acabando com o crédito, ela veio explicar e não deu, nós fizemos de outro jeito e deu certo.

Joesley: É, o BNDES tá bem travado. Esse negócio do BNDES é outra [inaudível]. Quem, quem, hoje Maria Silvia tá falando com quem? Porque é problemático, viu.

Temer: Tem servidores lá que estão com bens indisponíveis, em face das [inaudível]. Não podem mexer. Eles estão com medo de mexer em qualquer coisa. Tá com uma verba lá de R$ 150 bilhões parada. Mas isso aí do Meirelles, pode falar.

Joesley: Isso que quero, se ele escorregar, eu digo “ó...”

Temer: Diga “Consulte-o. Consulte o presidente”.

Joesley: “Consulta lá e me fala desse negócio.”

Sem cassação no TSE

No trecho abaixo, Joesley e Temer conversam sobre o financiamento das eleições em 2018. E Temer diz acreditar que não terá o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Joesley: Como é que vai financiar 2018?

Temer: Não sei [inaudível]. Pegando todo mundo [inaudível]. Acho que quando melhorar bem a economia, muda... [inaudível]

Joesley: Com certeza. Casa que falta pão não tem leão, não é assim? Não tem nenhum remédio melhor do que as coisas indo bem financeiramente, todo mundo acalma. E no TSE, como tá?

Temer: [inaudível] Benjamin agora [inaudível]. Um troço meio maluco. Primeiro eu acho que não passa o negócio da minha cassação, porque eles têm uma consciência política... Pô, mais um presidente? Segundo [inaudível]. Terceiro, tem a improcedência da ação. [inaudível] É o Benjamin. [inaudível] Tem recurso, tem recurso no TSE, no Supremo. E até lá já terminou o mandato.

Fantasma no Alvorada

No fim da conversa, Joesley conta como foi sozinho até o Palácio do Jaburu para conversar com Temer, sem precisar nem se identificar na portaria. E, na sequência, Temer diz por que não aguentou morar no Palácio do Alvorada, onde ficou só por uma semana.

Joesley: Eu gostei desse jeito aqui, viu?

Temer: Desse jeito?

Joesley: Eu venho dirigindo, nem venho com motorista, eu mesmo dirijo.

Temer: Ou você vem com o Rodrigo e o Rodrigo se identifica lá.

Joesley: Eu tinha combinado de vir com ele.

Temer: Ah, você veio sozinho?

Joesley: Eu vim sozinho, mas aí eu liguei para ele era 10h30, por isso que eu atrasei um segundinho. Aí, deu 9h50 eu mandei mensagem pra ele. Ele não respondeu. Deu 10h05 e eu liguei para ele falando: cadê? Ele: “Puta, eu tô num compromisso aqui. Vai lá, fala”. Eu passei a placa do carro. Fui chegando, eles abriram, nem dei meu nome.

Temer: Não te viram?

Joesley: Não, fui chegando, eles viram a placa do carro, abriram, eu entrei aqui na hora. Funcionou superbem. O senhor vai mudar pro outro?

Temer: Já mudei pro outro. Não aguentei. Fiquei uma semana lá (...) Não conseguia dormir (...) Marcela tava acordada. Eu disse: olha, vamos voltar para o Jaburu? Fui para a Bahia três dias, não aguentei. Deve ter fantasma lá.

Joesley: Deve ter. Lá é muito frio, aqueles vidrão. Como a Dilma aguentava ficar sozinha lá?

Comida saudável

Na despedida de Temer e Joesley, comentários sobre a saúde do empresário.

Temer: Você emagreceu.

Joesley: Tô comendo coisa mais saudável. Não é comendo pouco, não. Tô comendo bastante, mas coisa mais saudável. Tô comendo menos doce, menos industrializado.

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