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Lula e Palocci, em 2006. | Marcelo Casal Jr./Agência Brasil
Lula e Palocci, em 2006.| Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

Sem envolver políticos com prerrogativa de foro, a colaboração premiada do ex-ministro Antônio Palocci deve focar na atuação dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, dentro do esquema de corrupção que já é investigado pela Lava Jato. De acordo com informações do jornal O Globo, Palocci deve detalhar a relação entre o PT e empreiteiras, além de detalhar entregas de dinheiro em espécie à Lula e reunião que pode complicar Dilma.

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O ex-ministro fechou o acordo com a Polícia Federal cerca de um ano depois de dizer em uma audiência com o juiz Sergio Moro que gostaria de colaborar com as investigações. Naquela ocasião, Palocci disse ao magistrado que a Odebrecht tinha um “pacto de sangue” com Lula em 2010, quando o petista se preparava para deixar o governo. Desde que prestou o depoimento, os advogados de Palocci negociavam um acordo com o Ministério Público Federal (MPF), mas as negociações acabaram travadas.

Os benefícios negociados entre a defesa e a Polícia Federal ainda estão sob sigilo e o acordo aguarda a homologação do juiz federal Sergio Moro. Os depoimentos já foram prestados ao delegado da PF Filipe Pace, responsável por investigar Palocci na Operação Ormetà, que levou o ex-ministro à cadeia, em setembro de 2016 na 35.ª fase da Lava Jato.

Segundo informações obtidas pelo jornal O Globo, Palocci detalha em sua delação entregas de dinheiro em espécie ao ex-presidente Lula que ele teria feito pessoalmente e através de seu ex-assessor, Branislav Kontic – também investigado na Lava Jato e alvo da Ormetà. Segundo o ex-ministro, Lula teria recebido pelo menos R$ 50 mil no fim de 2010 para bancar despesas pessoais. Parte dos valores vieram da conta “Amigo”, do setor de Operações Estruturadas, o setor de propinas da Odebrecht. As datas e horários das entregas, que foram fornecidas por Palocci a PF, podem ser checados com registros de ligações entre Lula e o ex-ministro.

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Palocci também teria detalhado em seus depoimentos uma reunião realizada no Palácio do Planalto com Lula e Dilma para tratar da construção de sondas para exploração de petróleo em águas profundas. O esquema teria ajudado o partido a levantar dinheiro para bancar a campanha de Dilma, em 2010.

Ainda sobre Dilma, segundo O Globo, Palocci falou sobre a tentativa de obstrução da Justiça ao nomear Lula como ministro da Casa Civil em 2016. A nomeação ocorreu pouco depois do ex-presidente ser alvo da operação Aletheia, em março, e já é alvo de uma denúncia da Procuradoria Geral da República. Na época, uma interceptação telefônica divulgada por Moro mostrava que Dilma pretendia dar uma “posse secreta” a Lula, para garantir foro privilegiado e impedir que o petista fosse preso pela Lava Jato.

O ex-ministro também deve detalhar à Polícia Federal em sua delação as movimentações da Planilha Italiano, apreendida no setor de Operações Estruturadas da Odebrecht. Os delatores da empreiteira disseram que o codinome Italiano era usado para se referir à Palocci.

Além disso, Palocci provavelmente vá explicar as condições da contratação da Projeto – empresa de consultoria do ex-ministro – por grandes empresas. Segundo um relatório da PF, entre 2006 e 2015 a empresa de Palocci recebeu R$ 81,3 milhões de 47 empresas. Entre os contratantes da Projeto estão três bancos, uma holding do setor farmacêutico, uma empresa de planos de saúde, uma montadora de veículos e uma empresa do setor de alimentos.

Palocci é um dos fundadores do PT, já foi prefeito de Ribeirão Preto, deputado federal, ministro da Fazenda do governo Lula e chefe da Casa Civil de Dilma. Em setembro do ano passado, em uma tentativa de acelerar a negociação de seu acordo, Palocci escreveu uma carta rompendo com o partido. Na carta, o ex-ministro criticava a legenda e o ex-presidente Lula. Palocci sugeria que o partido firmasse um acordo de leniência com a Lava Jato.

“Sei dos erros e ilegalidades que cometi e assumo minhas responsabilidades. Mas não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo”, disse o ministro. Ele lamentou que o fato de Lula ter se dissociado “definitivamente do menino retirante para navegar no terreno pantanoso do sucesso sem crítica, do ‘tudo pode’, do poder sem limites, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que se acumulam são apenas detalhes, notas de rodapé no cenário entorpecido dos petrodólares que pagarão a tudo e a todos”.

Atualmente, Palocci está preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. O prédio é o mesmo onde está preso o ex-presidente Lula em uma cela especial. Os dois não têm contato dentro da Superintendência.

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