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Palocci ao ser preso pela Polícia Federal, em setembro de 2016: ex-ministro vai colaborar com a PF,segundo o jornal “O Globo”. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Palocci ao ser preso pela Polícia Federal, em setembro de 2016: ex-ministro vai colaborar com a PF,segundo o jornal “O Globo”.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Ex-ministro e homem forte dos governos Lula e Dilma Rousseff, Antonio Palocci assinou acordo de delação premiada com a Polícia Federal, afirma nesta quinta-feira (26) o jornal “O Globo”, em reportagem baseada em fontes vinculadas ao caso. A colaboração ainda precisa ser homologada pela Justiça.

Por um tempo, Palocci tentou – sem sucesso – assinar delação com o Ministério Público Federal (MPF) para contar o que sabe e, assim, reduzir sua pena. No entanto, segundo “O Globo”, o acordo acabou sendo fechado com a PF.

O “pacto de sangue” de Lula

Em depoimento ao juiz Sergio Moro em setembro de 2017, Palocci disse que Lula firmou um “pacto de sangue” com o empresário Emílio Odebrecht no fim de 2010, seu último ano na Presidência, para receber R$ 300 milhões em propina. Na sequência, também em depoimento a Moro, Lula atacou Palocci em vários momentos e o chamou de “frio e calculista, capaz de simular uma mentira”.

No mesmo mês, o ex-ministro enviou uma carta à presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), reafirmando o que disse a Moro e pedindo sua desfiliação do partido por entender que o processo disciplinar interno aberto contra ele poderia punir “quem fala a verdade” e varrer “para debaixo do tapete” os “erros e ilegalidades”.

Na carta, Palocci também disse ter ficado chocado ao ver que Lula sucumbiu “ao pior da política” e fez uma emblemática indagação: “Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?”

Condenado por Sergio Moro

Preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde também está o ex-presidente Lula, Palocci foi condenado por Moro em junho de 2017. Ele cumpre pena de 12 anos, 2 meses e 20 dias de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em processo da operação Lava Jato. Também foi condenado a pagar multa de R$ 1,546 milhão, além de sofrer o bloqueio de US$ 10,2 milhões de suas contas.

Duas semanas atrás, Palocci teve pedido de liberdade negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Sobre o que Palocci pode falar

Em fevereiro, o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, negou pedido de Palocci para ser ouvido novamente pela Lava Jato. A defesa afirmava que Palocci gostaria de cooperar na elucidação de fatos criminosos. Em resposta, o relator da Lava Jato no TRF-4, João Pedro Gebran Neto, disse que o réu deveria se defender apenas do que consta no processo.

Os advogados afirmaram, na petição, que o ex-ministro abordaria a formação e o financiamento da Sete Brasil; conversas das quais participou para organizar o esquema de propina decorrente das sondas; atos por ele praticados para o recebimento de propinas; vantagens indevidas que ele solicitou, além de indicação da origem e do destino das propinas.

Bancos em perigo

Há muito tempo correm especulações de que Palocci pode denunciar ilícitos de grandes bancos do país em troca de um alívio em sua pena. O ex-ministro foi uma das principais pontes entre o PT e o mercado financeiro. Fora do governo, prestou consultoria a Itaú, Bradesco, Santander e BTG Pactual. E conhece como poucos os meandros dos negócios entre grandes bancos do país.

No depoimento a Moro, Palocci sinalizou que pode tratar de temas que envolvam o setor financeiro e entregar ao menos um banqueiro. Declarou que, “em sigilo”, poderia contar quem foi a “grande personalidade do meio financeiro”, que o procurou para “capitalizar” a “provisão de R$ 200 milhões da Odebrecht ao PT”.

Quando a delação de Palocci começou a ser especulada, a Gazeta do Povo publicou uma reportagem sobre o que pode acontecer se os grandes bancos caírem na Lava Jato. Embora o sistema financeiro seja todo interligado, o que significa que a “doença” de um banco pode se espalhar rapidamente para os demais, no chamado “risco sistêmico”, analistas disseram não esperar nenhum grande desastre.

A maioria acha pouco provável que a solvência das principais instituições financeiras venha a ser ameaçada, mesmo que banqueiros ou altos executivos sejam presos, e mesmo que lá na frente elas tenham de pagar multas pesadas por crimes ou infrações administrativas. De todo modo, o estrago vai depender muito do “pedigree” dos envolvidos e até da forma como a eventual operação policial for conduzida.

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