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 | Tânia Rêgo/Agência Brasil/Fotos Públicas
| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil/Fotos Públicas

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avaliou, a dois interlocutores, que Michel Temer não conseguirá se manter no Palácio do Planalto até o final de seu mandato. Diante desse cenário, defendeu que tem de ser realizada uma sucessão controlada, em que haja um grande acordo entre todas as forças políticas para chegar a 2018. O tucano não ficou apenas nas palavras e, no sábado (20), ligou para o ex-ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim para dar início a essa articulação.

Fernando Henrique procurou Jobim, que comandou a Justiça no seu governo e a Defesa nos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, para fazer a ponte com o PT. A tese do ex-presidente é que em 2018 todos poderão se enfrentar na eleição, mas que agora o momento é de união.

Por outro lado, Fernando Henrique afirmou a pessoas próximas que o PSDB não pode “trair” Temer. O ex-presidente ligou para o peemedebista no sábado e, segundo integrantes do Palácio do Planalto, o aconselhou a “resistir” e a “ficar firme”, em meio à crise que se avoluma. Na quinta, o tucano havia publicado um texto em suas redes sociais argumentando que, caso as alegações da defesa dos implicados na delação da JBS não fossem convincentes, eles “terão o dever moral de facilitar a solução, ainda que com gestos de renúncia”.

O principal temor do ex-presidente é uma saída aventureira ou casuística que aprofunde a crise no país. Por isso, a ideia é começar a negociar desde já para, caso se confirme o prognóstico e Temer caia, a sucessão seja realizada de maneira “controlada”. Em consonância com essa estratégia, uma reunião da cúpula do PSDB com o comando do DEM, marcada para a tarde de domingo (21) em Brasília para discutir a crise política, foi cancelada. Segundo integrantes dos dois partidos, a informação de que o encontro determinaria se as legendas continuariam ou não a apoiar o governo levou ao recuo.

“A reunião foi cancelada porque vazou para a imprensa que esta seria uma reunião de decisão sobre a permanência do partido no governo ou não. Como a reunião não tinha esse propósito, foi melhor foi cancelá-la, pois não seria possível fazer qualquer tipo de anúncio de decisão, já que não era essa a finalidade”, afirmou o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC).

Destino do governo e de políticos citados na delação está selado

Entre os tucanos, é crescente a percepção de que o destino do governo está selado. Diante das graves acusações no inquérito que tramita no STF, a avaliação de parlamentares ouvidos pela reportagem é a de que Temer não tem mais condição de conduzir a agenda de reformas e manter um governo estável.

A saída, nesse caso, seria uma eleição indireta, feita pelo Congresso, único caminho em que se teria a possibilidade de eleger alguém que tenha um bom trânsito em várias alas da sociedade e dos partidos. Jobim é visto como a pessoa para fazer a ponte desse acordo, mas não como o nome para conduzir o país – já que enveredou pela iniciativa privada e assumiu um cargo no alto escalão do BTG, banco de investimentos que foi alvo da Lava Jato. Segundo um amigo de Fernando Henrique, essa relação deixa Jobim em uma posição de “fragilidade”; e tampouco há indicativos de que ele decidiria abrir mão agora dos milhões de reais que recebe por ano em troca de um posto político altamente complicado no momento.

Embora estejam preocupados com uma saída para o país, os tucanos também têm se ocupado bastante do destino do próprio partido, que ficou em suspenso após a delação da JBS, que afastou o senador Aécio Neves (MG) do comando da legenda e do Senado. A avaliação dos tucanos é que ele está “liquidado” e que o fato do mineiro estar diretamente envolvido nas acusações de corrupção e tentativa de obstrução da Justiça afeta fortemente o partido.

O clima é de apreensão sobre o futuro do PSDB. Além de Aécio, que presidia a legenda e era seu principal expoente, o senador e ex-ministro José Serra (PSDB-SP), governadores como Beto Richa (Paraná) e Reinaldo Azambuja (MS), além do ministro das Cidades, Bruno Araújo, também foram envolvidos na mais recente delação.

A avaliação é de que poucos foram os tucanos com influência que restaram para orientar o partido na travessia para águas menos tormentosas e evitar uma desidratação fatal para o PSDB. As principais articulações durante esta crise têm sido feitas pelo presidente interino, senador Tasso Jereissati (CE), e pelos colegas de Senado Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e Ricardo Ferraço (PSDB-ES).

O perfil de Tasso é visto como adequado para este momento por se tratar de um político experiente, que não alimenta grandes perspectivas eleitorais e que não tem preocupações financeiras.

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