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Delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula: “ideal seria que as delações fossem mantidas em sigilo”. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula: “ideal seria que as delações fossem mantidas em sigilo”.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

O modelo adotado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na Lava Jato é o de divulgar a íntegra das delações premiadas depois que os acordos são homologados. Foi assim, por exemplo, com as colaborações de 77 executivos da Odebrecht. Os termos foram homologados em 30 de janeiro pela presidente do STF, ministra Carmen Lúcia. Em abril, a Suprema Corte divulgou para a imprensa o conteúdo de todos os 950 depoimentos.

Alguns levaram à abertura de um inquérito contra o ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil, Aldemir Bendine. Com o avanço das investigações, ele acabou preso nesta quinta-feira (27) na 42ª fase da Lava Jato. Segundo o Ministério Público Federal, quando as delações da Odebrecht vieram à tona, Bendine tentou disfarçar o recebimento de R$ 3 milhões da empreiteira. Ele recolheu imposto em cima da propina para tentar justificar o contrato de consultoria com uma empresa de fachada de dois operadores financeiros.

Para o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula, a atitude de Bendine tem relação com a ampla publicidade em torno das colaborações da Odebrecht. Ao saber que tinha sido citado, o ex-presidente da Petrobras teria agido para não ser pego pela Lava Jato. “A questão do recolhimento do imposto muito provavelmente só aconteceu em decorrência da publicidade das delações da Odebrecht”, afirmou.

Segundo o delegado, a divulgação de delações pode comprometer o trabalho da polícia, porque os investigados podem agir para destruir provas ou evitar prisões. “Para a melhor técnica de investigação, o ideal seria que as delações fossem mantidas em sigilo, sendo divulgadas de acordo com a conclusão de cada uma das operações. Hoje, a gente instaura procedimentos a partir de uma colaboração que já é de domínio público. Isso dá margem para situações como essa: uma vez que o investigado sabe que foi tratado sobre o nome dele, ele busca artifícios para tentar mudar a situação e minimizar danos”.

O delegado, no entanto, reconhece que derrubar o sigilo das colaborações também desempenha um papel importante. “É claro que a forma com que é feita hoje, com a divulgação dos termos tão logo a colaboração é homologada, tem seu valor pelo controle social, acompanhamento da mídia, para se saber exatamente o que tem nas colaborações”. Além disso, Igor de Paula disse que a polícia respeita o modelo adotado pelo STF e continua trabalhando para “obter o melhor resultado possível na investigação”.

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